Thiago Agles da Silva, de 32 anos, e Deliomara dos Anjos Santos, de 29 anos, são os assassinos confessos de Julieta Inés Hernández Martínez, de 38 anos, a palhaça Miss Jujuba, encontrada morta na 6ª.feira (5.jan.24).
Presa, a dupla de criminosos deu duas versões distintas do porquê assassinaram a artista venezuelana, após a alojarem na varanda de uma pousada em Presidente Figueiredo (AM).
Como mostramos aqui no TeatrineTV, Julieta atravessava o Brasil de bicicleta, pois faz parte do projeto ‘Pé Vermêi’ – que leva arte de bicicleta para diversas regiões da América do Sul.
A artista desapareceu em 23 de dezembro, quando passava pela BR-174. A polícia disse que ela pernoitou na pousada usada de favor pelo casal acusado. Entenda abaixo.
O corpo de Julieta, sua bicicleta e pertentes foram encontrados por volta das 18h da 6ª feira (5.jan.24), enterrados em uma cova rasa próximo a corredeira do Urubuí.
Apesar do casal ter confessado o assassinato, o Departamento de Polícia Técnico-Científico (DPTC) trabalha na identificação do corpo para confirmar que se trata da venezuelana. Por outro lado, as embaixadas e governos da Venezuela e do Brasil já trabalham para o translado do corpo da artista ao país vizinho.
AS VERSÕES
A dupla de criminosos foi presa na noite da 6ª feira — mesmo dia em que o corpo foi achado — e na ocasião, deram versões distintas sobre o porquê cometeram o crime.
Deliomara disse que matou a artista após uma crise de ciúmes. "Na madrugada do dia 23 de dezembro, por volta de 1h da manhã, o suspeito [Thiago] queria pegar o celular da vítima que estava com a sua mulher [Deliomara] em uma rede, na varanda da residência. Ele foi até ela com uma faca e exigiu o celular. O suspeito, então, a enforcou [Julieta] e a jogou no chão, e mandou a [Deliomara] amarrar os pés da venezuelana", diz o inquérito policial.
O inquérito ainda sugere que Thiago teria estuprado Julieta e diante disso, Deliomara, ao ver a cena, teria ficado com ciúmes e ateado fogo no corpo da venezuelana e do próprio marido. Thiago teria suspostamente apagado as chamas de si e de Julieta. Na sequência, ele teria saído em busca de socorro em um hospital e nesse momento a Deliomara teria amarrado o corpo da Julieta, desmaiada, arrastado para uma área de mata e a enterrado. Não há informações se ela foi enterrada ainda viva.
A versão dada por Thiago é de que Julieta e ele usavam drogas, quando a companheira ficou com ciúmes, jogou álcool nos dois e ateou fogo.
Sobre o acusado estar sob a influência de drogas, o delegado Valdnei Silva, da 37ª Delegacia Interativa de Polícia de Presidente Figueiredo (AM), confirmou que Thiago passou os três dias anteriores ao crime fumando crack.
POSSÍVEL CRONOLOGIA DO CRIME
De acordo com o delegado Valdinei Silva, Thiago e Deliomara, moravam em uma pousada precária em Presidente Figueiredo, local onde a dupla vivia de favor havia sete meses. O quintal estava cercado de mato e lixo. Mesmo assim, o estabelecimento recebia pessoas que atravessam a pé ou de bicicleta a BR 174 — a estrada liga Manaus a Boa Vista. O estabelecimento fica perto de um local para banho de rio.
Julieta havia esticado uma rede na varanda da pousada. Quando, por volta das 1h da manhã do dia 24 de dezembro, sob o efeito de drogas, Thiago pegou uma faca e ameaçou a artista para que ela entregasse o celular. Na investida, Thiago teria dado uma gravata em Julieta e a arrastado para a sala.
A partir desse ponto, o delegado disse que Deliomara relatou que foi ameaçada com a faca para ajudar Thiago.
Única hóspede naquela noite, Julieta foi arrastada para a cozinha e estuprada. Deliomara disse, no depoimento, que o namorado usou a faca para obrigar a artista a fazer sexo oral nele.
O delegado obervou que apesar de pontos divergentes nos depoimentos do casal assassino, os dois confirmam o estupro e a forma violenta como a situação foi interrompida.
Fora de si, Deliomara atirou álcool na artista e no namorado. Thiago apagou as chamas de si e do corpo da artista com um pedaço de tecido encharcado e na sequência a aplicou outra gravata em Julieta, o que a levou ao desmaio. Então, Thiago saiu para buscar ajuda no hospital de Presidente Figueiredo. Ele teve o tronco e a cabeça queimados. Deliomara ficou em casa com a venezuelana desacordada no chão da cozinha.
Em determinado momento, a artista foi arrastada por cerca de 15 metros ao lado externo da pousada e enterrada por Deliomara. O delegado explicou que o corpo foi depositado numa cova rasa. Um amontoado de lixo foi colocado para esconder a terra remexida.
ACHADO DO CORPO
O corpo de Julieta foi encontrado por cães de resgate do Corpo de Bombeiros por volta das 18h do dia 5 de janeiro, 13 dias após o desaparecimento da artista. "Fomos acionados pela Polícia Civil para auxiliar no trabalho de busca em Figueiredo. Ao chegarem no local, em uma área de mata, os cães conseguiram identificar o ponto exato onde havia sido enterrado o corpo", revelou o comandante-geral do CBMAM, coronel Orleilson Muniz.
O cadáver estava com as mãos e pés amarrados quando foi desenterrado. O estado avançado de decomposição não permitiu identificar se havia sinais de queimadura.
O delegado acrescentou que aguarda a perícia para saber o momento da morte. Existe a possibilidade de Julieta ter morrido na segunda gravata de Thiago.
O óbito também pode ter ocorrido porque a venezuelana foi enterrada viva. Não há garantia de que os exames conseguirão determinar quando a artista morreu.
OCULTAÇÃO DE CADÁVER
Thiago estava no hospital no momento em que a venezuelana foi enterrada. As queimaduras inspiravam cuidados e ele foi removido para Manaus, declarou o delegado. Ficou alguns dias internado (passou o Natal hospitalizado) até receber alta.
Depois ele voltou para a pousada e foi aceito pela namorada. Ambos continuaram a dividir o mesmo teto.
O casal tem cinco filhos pequenos. Todos foram entregues aos cuidados dos avós depois da prisão dos pais
COLETIVOS PEDEM AJUDA À FAMÍLIA
Julieta estava no Brasil desde 2015 integrando o grupo de artistas ciclo viajantes 'Pé Vermêi', que leva de bicicleta, apresentações de palhaçaria pelos estados brasileiros. Como parte da rotina do grupo, sempre que um membro está prestes a ficar sem sinal de telefone e internet é comum informar aos demais sua localização. No caso de Julieta, seu último contato foi feito entre os dias 22 e 23 de dezembro, quando passava pelo município de Presidente Figueiredo (AM).
A artista havia se apresentado em Manaus e seguia para Puerto Ordaz, na Venezuela, onde sua mãe mora.
Após o sumiço de Julieta, divesos coletivos tais como: @circomuamba; @circodoasfalto; @circodisoladies
@nunesodilia; @pollylunatica; @palhacosalsicha; @pevermei; @guadalupemerki; @mulherescicloviajantes
@theooliveira____; @veronicamello.oficial; @kelly_greice_oficial; @casadapalhaca; @palhacossemfronteiras e @alinemoreno13, se uniram fazendo campanhas mirando levantamento de fundos para realizar buscas pela a artista.
O Circo di SóLadie s| NemSóLadies e Pé Vermêi foram os coletivos que encabeçaram os informes em busca da artista. Posteriormente, ao serem comunicados do achado do corpo pela polícia, os coletivos abriram uma campanha para os trâmites a serem feitos com o corpo da artista até à Venezuela.
Mais tarde, em novas publicações, uma colega anunciou a pausa da vaquinha, visto que as embaixadas dos governos brasileiros e venezuelano comprometeram-se em arcar com os custos. Veja:
Numa mensagem adicional, Marco Teixeira explicou no grupo da escola nacional de circo que foi informado que o Ministro Antônio Nakata, Diretor do Instituto Guimarães Rosa, do Itamaraty, acionado pela Presidenta Maria Marighella, fez contato com um diplomata venezuelano em Manaus, que lhe disse estar acompanhando o caso, já ter feito contato com a família e que, após a preparação do corpo e os trâmites burocráticos necessários, o traslado para a Venezuela deve ser feito, provavelmente, na quinta-feira.
"Recebemos também a informação de que o Secretário de Cultura do Amazonas, Marcos Apolo, já comunicou a ocorrência ao Governador e está tomando todas as medidas necessárias junto à Secretaria de Segurança Pública para esclarecimento do caso, e ainda que a SECULT se responsabilizará inteiramente no acolhimento da família e dos artistas", completou.
Apesar disso, na tarde desse sábado (6.jan.24), os coletivos reabriram a capamnha visando levantar fundos para auxiliar a mãe e irmã de Julieta. "Vamos apoiar a família de Julieta Hernandez! Tiraram a vida da nossa querida dona Jujuba. Sua família precisará de muito apoio emocional, logístico e financeiro. Para quem puder contribuir fora do Brasil, poderá fazê-lo através do Paypal da irmã da Julieta [email protected]. Agradecemos a todas as pessoas que conseguiram enviar pix, está sendo muito importante. Ajude-nos a compartilhar e se puder contribuir, também agradecemos muito. Nossa Rede é enorme!", escreveram. O endereço de 'PayPal' citado é da irmã de Julieta e pode ser usado para doadores de fora do Brasil. Para quem quiser contribuir de dentro do Brasil, o PIX para doações é [email protected].
MANIFESTAÇÃO
Também na tarde de sábado (6.jan) diversos manifestantes foram às ruas de Manaus em manifestação contra o assassinato da artista. Em vídeos, nas redes, cartazes traziam palavras de ordem em prol da proteção da vida e liberdade das mulheres, bem como citavam a morte de Julieta como feminicídio.