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CRÔNICA

O silêncio de um mestre

Por ANA MARIA BERNARDELLI • 13/12/2024 • 20:36
Imagem principal Beto Figueiredo foi vítima de latrocínio em Campo Grande (MS). Foto: Tero Queiroz

A cidade amanheceu envolta em um luto sombrio. As ruas silenciosas, os rostos abatidos e os olhares vazios refletiam a dor de uma perda inimaginável. Na madrugada, o coração pulsante da cultura, o mestre das palavras e dos gestos, o professor e dramaturgo de alma infinita, fora silenciado pelas mãos frias e violentas de ladrões e assassinos.

Ele era mais que um artista. Era um farol. Com seus textos, inspirava reflexões profundas; com suas aulas, moldava mentes brilhantes; e, com suas peças, fazia pulsar a essência humana no palco. De sua mente brotavam histórias que celebravam a vida, e de suas mãos, brotava um universo onde o belo e o trágico dançavam em perfeita harmonia.

Mas na madrugada fatídica, após mais um dia dedicado à arte e à educação, foi covardemente atacado. Não bastava roubar seus pertences, tiraram também a chama de sua vida, que iluminava a de tantos outros.
A notícia correu como um raio. A cidade parou, chocada e incrédula. Os amigos, que tantas vezes compartilharam risos e inspirações, mergulharam em uma tristeza que parecia não ter fim. No teatro onde ele ensaiava suas criações, as luzes apagadas ecoavam o vazio de sua ausência. A coxia, antes cheia de sua energia contagiante, agora era um espaço gelado e mudo.

Seu funeral, com certeza, será marcado por lágrimas e palavras entrecortadas. Jovens que ele guiou, artistas que ele inspirou, professores que ele admirava e uma multidão que o venerava se reunirão para prestar uma última homenagem. Um cenário de flores e velas não será suficiente para preencher o espaço deixado por sua partida.
As perguntas ecoam: como pode a arte, que ele tanto amou, sobreviver em um mundo tão cruel? Como pode a vida seguir sem sua risada, sem suas ideias, sem sua alma generosa?

A cidade jamais será a mesma. Mas, no silêncio que segue a tragédia, uma promessa se ergue: enquanto houver arte, enquanto houver memória, enquanto houver aqueles que foram tocados por sua genialidade, seu legado viverá. E mesmo que tenham apagado a sua luz, o brilho de suas obras continuará iluminando aqueles que ousarem sonhar em um mundo melhor.

AUTORA: Ana Maria Bernardelli, Academia Sul-Mato-Grossense de Letras.

  


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