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FEMINICÍDIO

'Músico de bem', Caio mata jornalista Vanessa, sua ex-noiva, a facadas

Por TERO QUEIROZ | ALY FREITAS • 13/02/2025 • 12:18
Imagem principal Foto: Reprodução/ Instagram

O pianista e produtor musical Caio Cesar do Nascimento Pereira, de 35 anos, matou a facadas a jornalista Vanessa Ricarte, sua ex-noiva.

O ataque ocorreu na tarde da 4ª. feira (12.fev.25), no Bairro São Francisco, quando Vanessa voltou a sua casa, onde vivia com Caio, para pegar seus pertences – ela havia acabado de denunciar Caio na Delegacia da Mulher de Campo Grande (DEAM) e pedido medida protetiva – já que sofreu ameaças de morte ao dizer que iria separar-se do feminicída.

No imóvel, Caio desferiu três facadas contra Vanessa, por volta das 16h da 4ª.feira.

Durante o ataque, um vizinho acionou a polícia e Caio foi preso no local do crime. Vanessa foi resgatada e levada à Santa Casa em estado grave. A comunicadora não resistiu aos ferimentos e faleceu na madrugada desta 5ª.feira (13.fev.25).

Aos 42 anos, Vanessa tinha carreira consolidada na comunicação sul-mato-grossense. Seu atual trabalho era como líder na Assessoria de Imprensa do Ministério Público do Trabalho de Mato Grosso do Sul (MPT-MS).

“É com profundo pesar e indignação que o Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso do Sul recebe a notícia do falecimento da servidora pública e jornalista Vanessa Ricarte, vítima de feminicídio em Campo Grande. Vanessa foi brutalmente assassinada pelo então companheiro, em um trágico episódio que evidencia a urgência no combate à violência doméstica e na proteção às mulheres em situação de vulnerabilidade. Vanessa Ricarte era uma profissional dedicada e comprometida com a missão institucional do Ministério Público do Trabalho, contribuindo de forma significativa para a divulgação e conscientização sobre os direitos trabalhistas e a Justiça social. Sua perda é um golpe não apenas para a instituição, mas para toda a sociedade, que vê mais uma vida ceifada pela violência de gênero”, lamentou o MPTMS em nota. A íntegra.

O velório terá início às 13h e deve ocorrer no Plenário Oliva Enciso, na Câmara Municipal de Campo Grande.

Foto: Reprodução/ InstagramEsse é Caio Nascimento | Foto: Reprodução/ Instagram

‘NAS REDES E NA REALIDADE’

Nas redes, Caio posava como religioso e ‘homem de bem, de família’.

Em uma das postagens na rede social Instagram, onde ainda destaca ser noivo de Vanessa, o criminoso fazia declarações amorosas: “Caio e Vanessa decidiram caminhar juntos por um amor que não se mede, que não cabe nas palavras nem se limita aos dias.” É um amor que é verdade em cada gesto, em cada olhar cúmplice, construído com cuidado e firmado em alicerces sólidos. Não é sobre perfeição, mas sobre a entrega genuína de quem entende que amar é também crescer, compartilhar e acreditar no melhor do outro”, disse o feminicida numa postagem em que aparece numa foto de casal com Vanessa, realizada em 9 de dezembro de 2024. 

Nessa mesma postagem, o assassino faz menções à fé inabalável, demonstrando falso respeito e carinho à jornalista. “Guiados pela fé em Deus, esse amor encontrou força naquilo que transcende. Para eles, Deus é o ponto central, o fio que une o que a vida, às vezes, tenta desatar. Na confiança no divino, Caio e Vanessa sabem que sua história não é apenas deles, mas também um reflexo de algo maior. E é essa certeza que os faz dizer sim, com todo o coração, à promessa de uma vida juntos.

Foto: Reprodução/ InstagramNo Instagram, Caio ainda diz ser noivo de Vanessa | Foto: Reprodução/ Instagram

Ainda na declaração, o feminicida, preso em flagrante, anuncia o noivado. “Agora, eles escolhem dar um passo mais profundo.” Casar-se não é apenas uma formalidade; é um ato de coragem e verdade diante dos homens e de Deus. É a escolha de oficializar o que já pulsa forte dentro deles, um compromisso que reafirma o que suas almas já sabiam: que foram feitos um para o outro. E assim, seguem lado a lado, vivendo a mais bela das histórias”, finaliza a mensagem.

Em suas últimas publicações na mesma rede social, Caio aparece em vídeos tocando piano – aqueles que ficam em mercados da rede Comper – para que ao seu lado cantem pessoas evangélicas. Na publicação, o assassino diz: “Deus é bom o tempo todo!” Propósitos. Sonhos”. 

O Caio das redes era um indivíduo, mas o da vida real era outro. Quem vivia com Caio sabia que o músico era um viciado em drogas – principalmente cocaína. Seu histórico policial indica que ele já havia agredido e ameaçado outras esposas, uma delas chegou a ser arrastada pelo asfalto, puxada pelos cabelos pelo agressor.

Caio tem acusações de tentar matar a própria mãe a facadas. Na realidade, o homem é um indivíduo de alta periculosidade às mulheres, seus alvos preferidos.

Como esse histórico não está no portfólio artístico, apesar de acessível à sociedade, muitos artistas têm trabalhado ao lado de Caio, que nas redes era ‘um homem exemplar, temente a Deus’. 

Foto: Reprodução/ InstagramCaio mantinha postagens com dizeres religiosos | Foto: Reprodução/ Instagram

OMISSÃO DOS TRABALHADORES DA CULTURA

A coordenadora do Fórum Estadual de Cultura (FESC), Angela Montealvão, lamentou o assassinato de mais uma mulher sul-mato-grossense, ressaltando que o meio cultural tem vários homens como Caio que acabam sendo ‘relevados’ e até ‘protegidos’, o que sempre custará a vida de mulheres. “Nós temos no nosso cenário, no nosso histórico, diversos casos de denúncias de artistas, mulheres, de militantes sobre pessoas com comportamentos extremamente violentos, machistas, opressores.” E muitas vezes, quando essas mulheres têm a coragem de vir a público e expor essas situações, procurando um acolhimento, procurando garantir o seu espaço de militância seguro, não têm um retorno mais esperado dos agentes culturais de modo geral. A gente sempre vê os agressores continuando em posições de destaque, muitas vezes até mesmo em posições de liderança de coletivos, e que fazem com que esses homens, esses agressores, se sintam muito confortáveis, inclusive no meio cultural, de cometerem esses assédios, abusos, opressões, pois em nada afeta o seu cotidiano”, observou a coordenadora do Fesc. 

A entidade, segundo Angela, tem trabalhado esse assunto de forma muito contundente. “Fomos até muito criticadas no início dessa coordenação por isso, como por exemplo, a expulsão de alguns membros com históricos, com históricos não, com várias denúncias de várias mulheres que chegaram até o FESC. Mas a gente segue firme e forte porque a gente entende que principalmente esses locais que são locais de discussão das nossas políticas públicas precisam ser lugares seguros para as mulheres senão, não faz sentido. Ter um fórum, por exemplo, estadual de cultura em que essas pautas elas não afetem o cotidiano, que elas não afetem as decisões e o andamento dessa movimentação coletiva”, disse.

A coordenadora ainda alertou outras mulheres acerca de sinais de violência não verbais. “E aqui fico alerta também porque a gente não precisa esperar, de fato, uma agressão física. A gente não precisa esperar, de fato, a morte de mais uma. Todos esses casos, esses agressores, eles dão indícios. São pessoas que, antes, têm históricos de opressão. São pessoas que têm histórico de violência verbal, de violência psicológica ou então de apropriação cultural de obras ou de direitos das mulheres. E que muitas vezes a gente fica ali passando o pano, fingindo que não está vendo. Aí quando acontece um caso como esse, nós nos mostramos chocados, mas vale a gente repensar, refletir. Como a gente age nos sinais anteriores a essa violência? Como a gente reage com esses opressores em níveis lá iniciais de agressão? Como que a classe cultural vem se importando com essas pessoas?”, destacou.

Conforme Angela, pessoalmente ela considera inadmissível a desculpa: “Ah, isso aqui é um assunto profissional, ele é um ótimo profissional, por isso a gente não envolve as questões. Eu acho que não tem como você ser um profissional da cultura, que por si só já é uma área que requer um pensamento crítico e reflexivo sobre como a gente age no mundo e não considerar essas questões para elencar a sua equipe de trabalho ou então para elencar quais obras você vai prestigiar, quais pessoas você vai dar destaque, quais eventos você vai permanecer, apoiar. Para mim, essa não associar, não ligar é inadmissível, é incoerente com a própria prática cultural”, completou.

Foto: Reprodução/ InstagramCaio tem hisrtórico de agressão contra a própria mãe | Foto: Reprodução/ Instagram

SINDICATO DOS JORNALISTAS DE MS

O Sindicato dos Jornalistas do estado (SindJor-MS) e a Comissão de Mulheres da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), em nota de pesar conjunta publicada nesta 4a, declaram: “Profunda tristeza e indignação o brutal feminicídio da jornalista”.

De acordo com o sindicato, “formada em jornalismo pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Vanessa era uma profissional dedicada, atuou como professora de redação, editora no site Top Mídia News, assessora de imprensa da Agência Municipal de Habitação (Emha) e, atualmente, era chefe da assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho de Mato Grosso do Sul (MPT-MS)”.

A entidade ainda destacou: “De texto impecável e ideias constantes, Vanessa sempre tinha um projeto novo na manga.” Era de uma vitalidade admirável. Inventiva e acreditava no potencial do ser humano como agente de boas transformações. Ela mesma era reflexo disso.  Sua morte representa uma perda irreparável para o jornalismo e para a sociedade. Seu caso indigna não só pela brutalidade, mas por expor falhas que não deveriam existir no sistema de combate à violência contra a mulher”, disse o Sindjor.

Em seguida, o órgão condenou “veementemente tais práticas e cobrou agilidade das autoridades responsáveis pela condenação do responsável, o músico Caio Nascimento, preso em flagrante, bem como o fortalecimento dos mecanismos de defesa da mulher”.

O SindJor ainda declarou: “Em nome de todos que lutam pela igualdade de gênero e pelo combate à violência contra a mulher:expressamos nossas mais sinceras condolências à família, amigos e colegas de trabalho de Vanessa neste momento de dor.” A violência que tirou a vida de uma mulher tão extraordinária é um lembrete cruel de que a luta por um mundo mais justo e seguro para todas as mulheres deve continuar com ainda mais força. 

E a entidade representativa dos comunicados finalizou: “Fica nosso compromisso de seguir combatendo o feminicídio e todas as formas de violência de gênero e nossa solidariedade aos que sofrem com essa perda irreparável.” Que a memória de Vanessa inspire uma sociedade mais humana e mais vigilante na busca pela justiça e pelo respeito a todas as mulheres.


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Tags: DEAM, MPT-MS, SINDJOR

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