O Ministério Público do Amazonas (MPAM) apresentou denúncia nesta 5ª.feira (27.jun.24) por tráfico de drogas contra Cleusimar Cardoso Rodrigues, de 53 anos, Ademar Farias Cardoso Neto, de 29 anos, e Bruno Roberto da Silva Lima. Os três são respectivamente mãe, irmão e ex-namorado de Djidja Cardoso, empresária e ex-sinhazinha do Boi Garantido, encontrada morta 28 de maio desse ano em sua casa, em Manaus. A polícia disse que Djidja morreu por overdose de cetamina.
De acordo com os investigadores, a jovem foi vítima de um grupo religioso criado pela própria família, chamado "Pai, Mãe, Vida", que promovia o uso de cetamina, uma droga sintética usada tanto em humanos quanto em animais, conhecida por causar alucinações e dependência.
Além dos parentes de Djidja, estão presos funcionários de uma rede de salão de beleza da família, um coach, um proprietário, um sócio e funcionários de clínicas veterinárias suspeita de fornecer a droga para o grupo.
A lista de denunciados do MP por tráfico de drogas e associação para tráfico inclui as seguintes pessoas:
- José Máximo Silva de Oliveira (dono de uma clínica veterinária que fornecia a cetamina): denunciado por tráfico de drogas e associação para o tráfico;
- Sávio Soares Pereira (sócio de José Máximo na clínica veterinária): denunciado por tráfico de drogas e associação para o tráfico;
- Hatus Moraes Silveira (coach que se passava por personal da família de Djidja): denunciado por tráfico de drogas e associação pra o tráfico;
- Marlisson Vasconcelos Dantas (cabeleireiro em uma rede de salões de beleza da família de Djidja): denunciado por tráfico de drogas;
- Claudiele Santos Silva (maquiadora em uma rede de salões de beleza da família de Djidja): denunciado por tráfico de drogas;
- Verônica da Costa Seixas (gerente de uma rede de salões de beleza da família de Djidja): denunciado por tráfico de drogas;
- Emicley Araújo Freitas (funcionário da clínica veterinária de José Máximo): denunciado por tráfico de drogas.
- Bruno Roberto da Silva Lima (ex-namorado de Djidja): também denunciado por tráfico de drogas.
O QUE DIZ A ACUSAÇÃO
Segundo o promotor do Ministério Público André Virgílio Betola Seffair, Cleusimar Cardoso seria a ‘cabeça’ do grupo religioso. A mãe da ex-sinhazinha era responsável por distribuir a droga, justificando seu uso como parte de um suposto caminho espiritual. Ela mantinha estoques significativos em sua residência, destinados a familiares, colaboradores e frequentadores dos salões de beleza da família.
O irmão de Djidja, Ademar, foi acusado de estupro contra uma ex-namorada sob efeito da cetamina, enquanto o ex-namorado de Djidja, Bruno Roberto da Silva, teria incentivado Cleusimar na busca por essa 'elevação espiritual'.
A Justiça agora aguarda a defesa prévia dos réus antes de decidir se aceitará as acusações apresentadas pelo Ministério Público.
O promotor destacou que o esquema não se limitava a um submundo tradicional do tráfico, mas operava em locais frequentados por pessoas em busca de saúde e bem-estar, como academias e clínicas de estética, subvertendo esses ambientes com consequências graves para a saúde pública.
As informações foram confirmadas pela Secretaria de Segurança Pública do Estado do Amazonas, em nota. Veja a íntegra.
ILHA DA FANTASIA
Djidja foi uma das mais importantes integrantes do Festival Folclórico de Parintins, um dos maiores eventos culturais do Brasil, realizado desde 1965. É conhecido pela intensa competição entre dois bois-bumbás rivais: o Boi Garantido, de cor vermelha, e o Boi Caprichoso, de cor azul.
Parintins, está localizado a 369 quilômetros de distância da Capital Manaus. Tamanho é o encanto das festas e da cultura no local, que Parintins é conhecida como ilha Tupinambarana ou ilha da Fantasia.
O festival acontece no último fim de semana de junho e atrai milhares de espectadores de todo o país e do mundo. A festa é considerada patrimônio cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Durante o festival, cada boi apresenta um espetáculo de aproximadamente três horas, com uma combinação de danças, músicas, figurinos luxuosos e efeitos especiais. As performances são baseadas em lendas e histórias folclóricas amazônicas, destacando-se pela intensidade emocional e pela habilidade dos artistas em contar histórias através do movimento e da música.
Além das apresentações dos bois, o festival também inclui outras manifestações culturais, como o Festival de Toadas, onde novas músicas são lançadas, e o Festival de Quadrilhas, que celebra danças tradicionais. O Festival Folclórico de Parintins é considerado uma das maiores celebrações da cultura amazônica, que promove o turismo regional e fortalece as tradições locais.
DUELO DOS BOIS
O boi-bumbá de Parintins tem influência do bumba meu boi do Maranhão em decorrência da migração de nordestinos para os estados da Amazônia no século 20, sobretudo nos anos áureos do ciclo da borracha, entre os anos de 1876 e 1916.
O surgimento de Garantido e Caprichoso aconteceu por volta de 1913. De acordo com a tradição, os dois grupos disputam o título representando o boi-bumbá.
No duelo, o Boi Garantido, pode ser identificado pelas cores vermelha e branca. Ele surgiu de uma promessa feita por seu fundador, Lindolfo Monteverde, a São João, como forma de cura para uma enfermidade.
Já o Boi Caprichoso, é identificado pelas cores azul e branca e também teve origem em uma promessa, mas segundo fontes do Instituto Memorial de Parintins, teve vários patronos ao longo de sua história.
E O QUE TEM A VER COM DJIDJA?
Durante as apresentações dos bois Garantido e Caprichoso no festival, muitos dos participantes são nativos enraizados na cultura local. Eles assumem papéis fundamentais, como o Apresentador, o Levantador de Toadas, o Amo do Boi, a Cunhã-poranga e a sinhazinha, uma função que Djidja Cardoso já desempenhou, e pelo o qual virou referência artística em Parintins.
ELA ERA ARTISTA?
Apesar de ter estado em cena no festival de 2016 a 2020, Djidja havia se aposentado da execução da personagem 'sinhazinha'. Desde de então, ela trabalhava ao lado da mãe e do irmão no comando da rede de salão de beleza Belle Femme, no Amazonas. Meses antes da morte, Djidja revelou lutar contra a depressão. No aniversário de 32 anos, no dia 3 de fevereiro desse ano, ela publicou nas redes sociais um vídeo em que comemorava a data com amigos e familiares, onde compartilhou que estava se tratando da doença. Veja: