Envelhecer artista em Mato Grosso do Sul é uma das fases mais tristes para o trabalhador do 3º setor nesse estado. Com ausência de uma política pública destinada aos fazedores de arte idosos, ano a ano se acumulam casos trágicos, revelando o descaso do poder público, dos entes representativos e dos Legisladores em criar Leis que amparem esse público.
O poeta, ator, músico e educador douradense, Emmanuel Marinho do Nascimento Filho, de 67 anos, há anos cuida de sua mãe, Sonia Giraldi Marinho, de 97 anos. Diagnosticada com câncer, ela foi submetida a três cirurgias, realizadas em março, abril e outubro de 2022. Atualmente, Sônia se recupera em casa e Emmanuel estava dando suporte financeiro a família, por meio de sua apresentação.
Apesar da garra, a família de Emmanuel vinha enfrentando dificuldades financeiras. Além de remédios caros, que não são cedidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), Sônia precisa de acompanhamento domiciliar 24h por dia (cuidadores, enfermeiros e demais profissionais).
Emmanuel vinha tentando pagar as medicações, mas também foi diagnosticado com câncer em dezembro de 2022, sendo submetido a uma cirurgia em março deste ano. Agora, Emmanuel atravessa sessões de quimioterapia e por isso não pode trabalhar.
A mãe e o multiartista, com isso, precisam de ajuda financeira solidária para pagar as medicações do caro tratamento de câncer.
Amigos formaram uma corrente pedindo ajuda, com contribuições no PIX 053.630.198-09. “Qualquer valor ajuda”, observam em mensagens que circulam nos grupos de colegiados de diversas linguagens artísticas.
AÇÃO SOCIAL COLETIVA
A reportagem do TeatrineTV apurou que paralelamente, o Secretário de Estado de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania (Setescc), Marcelo Miranda e voluntários do Colegiado Estadual de Teatro, têm articulado uma ação solidária na Concha Acústica, em Campo Grande (MS). A intenção será arrecadar doações à família de Emmanuel e os artistas que se apresentarem, também doarão parte dos cachês. Discussões já estão sendo travadas para definir como se darão efetivamente as ações.
Ainda segundo apurado pelo site, a intenção, além de fazer a arrecadação de fundos para a família do multiartista, também será convocados vereadores e deputados para uma espécie de Audiência na Concha, em que será destacada a importância de criação de política pública (Lei), destinada a combater a miséria na velhice artística em Mato Grosso do Sul.
O diretor presidente da Fundação de Cultura (FCMS), Max Freitas, também se manifestou dizendo à reportagem que como pessoa física ajudará Emmanuel. "Vou lá visitar ele segunda, ou terça e vou ver como posso conduzir... Cesta básica, dinheiro, como puder com certeza vou ajudar", disse.
Além disso, Max garantiu que a FCMS lançará um edital de premiação à artistas idosos. "Estamos com um parecer favorável do Jurídico e vamos publicar na próxima semana, um prêmio para artistas profissionais, idosos, vamos premiá-los", adiantou.
Conforme o chefe da FCMS, o edital será simplificado e dará ênfase na transferência de saberes. O certame deve ser publicado à partir da 2ª.feira (12.jun.23).
QUEM É EMMANUEL
Com formação acadêmica em psicologia na UNIP, realizou uma pesquisa com as linguagens do teatro, no curso de pós-graduação em artes cênicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), entre 1988 e 1990, tendo como mestres Aderbal Freire Filho, Gerd Bornhein, Angel Vianna, Fernando Pamplona, Roberto Machado, entre outros, que resultou no trabalho: “Partitura para corpo e palavras”, com orientação de Angel Viana.
O estudo serviu de base para a criação da trilogia de espetáculos solos para teatro e poesia, “Margem de Papel”, “O Encantador de Palavras”, “Satilírico” e demais espetáculos concebidos por Emmanuel.
Após concluir a pós-graduação, Emmanuel retornou à Dourados em 1993, onde manteve um trabalho fundamental para a comunidade e espetáculos marcados pela criação singular no seu repertório de encenador, ator e poeta.
Com seus espetáculos solos, inspirados em seus poemas, o multiartista excursionou desde 1994 pelo Brasil, América Latina e Europa, sempre com sucesso de público e da crítica.
PREMIAÇÕES E RECONHECIMENTOS
Foi contemplado com o Prêmio Marçal de Souza – Pela Defesa dos Povos Indígenas, concedido pela Câmara Municipal de Dourados (MS) em 1995, Cidadão da Paz, concedido pela Comunidade Bahá’i do Brasil em 1996 e novamente o Prêmio Marçal de Souza pela Defesa dos Direitos Humanos – concedido pela Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul em 1997.
Também foi reconhecido com a Homenagem do Circuito Cultural Banco do Brasil em 2002, com Heitor Cony, por seu trabalho de literatura, com o prêmio Marco Verde, pelo Cd “Teré”.
Em 2006, com a criação da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), foi convidado para ser diretor de cultura e na Instituição, onde ficou até 2011. Lá Emmanuel criou o projeto pedagógico do curso de teatro, que em 2013 formou sua primeira turma.
Concebeu ainda o Festival Internacional de Teatro de Dourados.
As obras de teatro e os livros escritos por Emmanuel Marinho são objeto de estudo para teses de mestrado e doutorado em várias universidades do país, entre elas UFMS, UNESP, UFGD, USP. Assim como o livro Caixa de Poemas (Editora Manuscrito: 1997) foi durante vários anos leitura obrigatória para o vestibular nas universidades particulares e públicas de Mato Grosso do Sul.
Emmanuel é membro efetivo (Núcleo Brasil) da Rede de Promotores de Cultura da América Latina e do Caribe e Pesquisador da Cátedra Unesco de Leitura (LA RED), PUC - Rio de Janeiro.
Em 2015 recebeu a outorga de Guardião dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – ODM e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS, do Programa das Nações Unidas/ONU.
Em outubro de 2015 foi condecorado no grau de Comendador na Ordem Guaicurus do Mérito Judiciário, pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT-MS).
O multiartista ocupa a cadeira nº 33 na Academia Sul-Mato-Grossense de Letras.
PUBLICAÇÕES
Publicou os livros: “Ópera 3” ,1980, “Cantos de Terra”,1982, “Jardim das Violetras”, 1983, “Margem de Papel”, 1994, “Satilírico”, 1995, “Caixa de Poemas”, 1997 e “Caixa das Delícias”, 2003.
Na música, deu voz e musicalidade ao CD “Teré”, 2004 e o CD Encantares, 2015.