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LUTO NAS ARTES

Amada em MS, atriz paraguaia Ana Ivanova morre aos 51 anos

Ela ficou mundialmente conhecida por seu papel no filme Las Herederas

Por TERO QUEIROZ • 18/03/2025 • 15:15
Imagem principal Ana Ivanova em imagens de rede social e promoção do filme Las Herederas.

Atriz, docente, gestora cultural, egressa da Escola Municipal de Arte Dramática de Assunção (Paraguai) e socióloga paraguaia Ana Ivanova faleceu aos 51 anos na madrugada desta segunda-feira (17.mar.25).

Reconhecida por seu trabalho diversificado nas telas do cinema, Ivanova foi uma das oficineiras de interpretação do Festival de Cinema do Vale do Ivinhema (FESTIVALI), realizado em agosto de 2024, no interior de Mato Grosso do Sul.

De acordo com familiares, Ivanova estava internada no Instituto Nacional de Doenças Respiratórias (INERAM), onde tratava um câncer.

A reportagem apurou que, até algumas semanas atrás, Ivanova pedalava vários quilômetros por dia. Durante um dos pedais pela capital paraguaia, ela sentiu dores, foi levada ao hospital e descobriu o câncer em estado avançado.

RELAÇÃO COM MS 

Cena do filme 'Las Herederas'. Ivanova à direita. Foto: DivulgaçãoCena do filme 'Las Herederas'. Ivanova à direita. Foto: Divulgação

Ela ficou mundialmente conhecida por seu papel no filme paraguaio Las Herederas, no qual integrou o trio principal ao lado de Ana Brun e Margarita Irún. O filme conquistou 8 prêmios, incluindo o Urso de Prata de Melhor Atriz (2018), concedido a Ana Brun. Ivanova apresentou Las Herederas em Campo Grande durante a 5ª edição do Desver - Festival de Cinema Universitário de Mato Grosso do Sul, realizada em setembro de 2023.

Nas duas ocasiões, Ana concedeu entrevistas ao TeatrineTV. Ela também esteve em Mato Grosso do Sul na 1ª edição do Bonito CineSur, o Festival de Cinema Sul-Americano, realizado em 2023.

Além de uma grande atriz, ela era uma pessoa incrível, que acreditava no amor e na união do cinema sul-americano.

Ana Ivanova no FESTIVALI. Foto: Renan BragaAna Ivanova no FESTIVALI. Foto: Renan Braga

Um dos fundadores do FESTIVALI, Ricardo Câmara Piereti, lembrou que conheceu Ana Ivanova por meio da também atriz Beatrice Sayd, enquanto escrevia o roteiro audiovisual do filme sobre a vida e obra de Lídia Baís. "Porque as duas [Sayd e Ivanova] tinham trabalhado junto com o Gerald Thomas em São Paulo. E aí, quando começamos a escrever o Lídia e eu queria envolver atores paraguaios, a Beatrice me apresentou Ivanova e nós fomos para Assunção [capital do Paraguai]: eu, Beatrice e a Carla Viegas. E a Ivanova nos recebeu lá e apresentou para toda a comunidade artística do Paraguai, produtores e atores. Ela fez com a gente um circuito cultural em Assunção, que depois trouxe novas perspectivas para a cultura sul-mato-grossense junto com a cultura paraguaia", contou Ricardo.

Ele revelou ainda que, em conversas com um dos professores responsáveis pelo festival Desver, surgiu a oportunidade de trazer Ivanova à capital sul-mato-grossense. "Então, quando eu cheguei e me reuni com o Júlio da Universidade Federal e eles estavam montando a mostra de Desver, eu sugeri o nome da Ivanova, e ele a trouxe. Foi uma maravilha. Os alunos adoraram, fizeram oficina de interpretação para cinema com ela. Foi exibido o filme lá no MIS, com ela fazendo a parte de comentários", relatou.

No mesmo dia em que exibiu o premiado Las Herederas em MS, Ivanova, amante da sociologia, propôs levar uma exibição à penitenciária feminina campo-grandense. "Tinha uma professora que fazia um trabalho com as detentas e, no outro dia, a Ana foi lá para o presídio para mostrar Las Herederas, porque como se passa também dentro de um presídio em Assunção, e ela fez esse trabalho com as detentas, de assistir o filme, de comentar. Foi uma coisa sensacional", disse Ricardo.

Ana, ao apresentar o filme Las Herederas no MIS, durante o festival DESVER de 2023. Foto: Aly Freitas.Ana, ao apresentar o filme Las Herederas no MIS, durante o festival DESVER de 2023. Foto: Aly Freitas.

Ivanova também realizou uma apresentação poética na Casa Quintal Manuel de Barros. "A gente chamou de encontro da Lídia com Manuel, porque daí a Beatrice fez uma performance de Lídia e ela fez uma performance dizendo os poemas de Manuel de Barros, que também foi uma coisa muito incrível", comentou Ricardo.

Ivanova durante o 1º Bonito CineSur, com a fotógrafa Elis Regina, Ricardo e o músico Marcelo Loureiro. Foto: Diego CardosoIvanova durante o 1º Bonito CineSur, com a fotógrafa Elis Regina, Ricardo e o músico Marcelo Loureiro. Foto: Diego Cardoso

A atriz paraguaia, ao integrar o Bonito CineSur, foi uma das grandes personalidades da 1ª edição. Ricardo revelou que, na época, o coordenador do CineSur, Nilson Rodrigues, o perguntou sobre a cena cultural no Paraguai, e ele imediatamente sugeriu o nome de Ivanova. "E ela foi para o CineSur, o primeiro, e ela foi uma estrela lá. Ela participava de tudo ativamente, ela fez parte do júri, mas estava em todas as mesas de discussão, nos diálogos, e sempre provocando, como plateia mesmo, fazendo perguntas pertinentes. Ficou conhecida de todo o meio audiovisual de Mato Grosso do Sul e da América do Sul que estavam lá presentes. Muitos já a conheciam pelo trabalho. Enfim, ela foi um brilho muito especial naquela edição do CineSur". 

A página oficial do Cinesur no Facebook escreveu: "Nossos mais sinceros sentimentos pelo falecimento da querida Ana Ivanova, atriz paraguaia, que esteve na primeira edição do Bonito CineSur. Cumpriu maravilhosamente sua missão". 

Ana Ivanova no 18º Festivali. Foto: Renan Braga Ana Ivanova no 18º Festivali. Foto: Renan Braga 

Posteriormente, Ivanova esteve no 18º FESTIVALI, esse coordenado por seu amigo Ricardo. Na ocasião, além de Ivinhema, ela ofereceu oficinas de arte em municípios próximos. "Ela trazia uma luz própria para os lugares que ela estava. Ela fez os workshops em quatro cidades, além de Ivinhema, em Angélica, Nova Horizonte do Sul e Nova Andradina, sobre interpretação para cinema. Acompanhou todo o período do festival e estreitou ainda mais esses laços com a cultura sul-mato-grossense. Mais pessoas a conheceram. Os acadêmicos do curso de audiovisual da Universidade Federal que estavam presentes no festival, já a conheciam por causa da oficina, então estavam próximos dela também". 

Ana Ivanova na 18ª edição do FESTIVALI, em Ivinhema (MS). Abraçado a ela está Ricardo Câmara. Nesta imagem, estão outras personalidades, como Chico César, Beatrice, Antônio Pitanga, Mariane Vilas-Boas, Joel Yamaji, Anarandá e Marinete Pinheiro. Foto: Renan Braga.

Apesar de ter estado por poucos anos em MS, Ivanova buscava criar uma ponte entre a cultura sul-mato-grossense e a cultura paraguaia. Além disso, com a partida de Ivanova, Ricardo relatou que ficam para serem realizados sonhos dos quais ela era parte integral. "A gente tinha tantos planos de filmar, ela tinha dois papéis no filme Lídia Baíz, que estamos em fase de pré-produção, como já pensava no segundo filme, ela fazer a Helena Meireles, protagonizar um filme sobre Helena Meireles, porque ela tinha uns traços muito parecidos com a Helena. Aí ela adorou essa figura da Helena Meireles e, enfim, a gente falava muito sobre esse projeto", salientou.

Ricardo diz que Ivanova sempre buscou uma integração cultural que ele espera que se fortaleça. "Para a gente é uma perda, tanto de uma amiga querida e generosa, como de uma possibilidade de integração cultural entre Campo Grande e Assunção. O que já vinha sendo construído e que eu espero que continue. Que o nome dela continue sendo chave para abrir portas para esse encontro tão importante que é da cultura sul-mato-grossense com a cultura paraguaia", concluiu.


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