O Laricas Cultural realizou na noite da última 6ª.feira (8.dez.23) o evento que marcou o encerramento das atividades do espaço que, ao longo de 6 anos, foi um dos principais pontos de cultura de Campo Grande (MS).
Lotada, a festa recebeu pessoas de todas as idades, que em clima de gratidão, ajudaram a arrecadar parte do valor necessário para a entrega do imóvel. “Estamos fazendo uma vaquinha, o evento de encerramento também é por isso. Estamos fazendo alguns eventos, inclusive dia 21 tem no Capivas, com a minha irmã Marina Peralta que a verba será arrecadada pra poder entregar o imóvel, que é um imóvel muito grande e vai muita grana e a vaquinha vai continuar rolando (sic)”, explicou a fundadora do Laricas, Luanna Peralta.
O espaço nasceu em 2017, inicialmente com o nome de ‘Larica’s da Lu’ e permaneceu por um ano e meio em um vagão em frente a Morada dos Baís. Na época, artistas buscavam locais para se apresentar e Luanna viu nessa busca a possibilidade de ocupar a rua com apresentações artísticas enquanto vendia comida no vagão.
Apesar da 'dor' de ter que encerrar as atividades, Luanna revelou estar realizada com o impacto cultural do Laricas. “Eu tô feliz, mas ao mesmo tempo eu fico triste que mais um espaço cultural se fecha por falta de apoios, por falta de prioridades na arte e na cultura, por falta de entendimento sobre quanto os espaços culturais são importantes pra cidade, mas eu encerro o meu ciclo muito feliz, sabendo que fiz parte da cidade, que eu fiz parte da história (sic)".
DUPLA DESPEDIDA
Além do encerramento das atividades do espaço cultural, o Projeto Kzulo, banda campo-grandense que também se formou em 2017, escolheu o evento para fazer seu último show.
Para Luanna, a dupla despedida tem um significado especial: “O Projeto Kzulo sempre se apresentou aqui, começaram lá no vagão e é muito louco que o último show deles também seja aqui no Larica’s. Eu tô muito feliz por isso e eles também”.
Conforme os integrantes da banda, de fato, há um simbolismo na escolha do local para o último show. “A gente escolheu o Laricas porque essa seria a última atividade que a gente estaria fazendo e aí nessa decisão do término do Laricas, a gente optou por estar fazendo nesse espaço, porque aqui nós iniciamos e aqui nós vamos finalizar também. O Kzulo começou e depois de um tempo veio o Laricas com o vagão e aqui é um dos lugares onde o nosso público mais comparece e isso faz o nosso último show ser mais incrível ainda”, comentaram Ricardo e Klélo.
Os artistas ainda explicaram que o projeto da banda permanece de outras meniras. "O Projeto Kzulo é muito mais que uma banda, é um projeto, então cada um vai ter o seu projeto em andamento. A gente não sabe se é o fim, se é uma pausa, ou se é uma transformação, mas por agora a gente tá parando. De qualquer forma, algo novo vem por aí", garantiram.
RESISTÊNCIA
O atual espaço do Laricas era usado desde 2020, quando Luanna largou o antigo emprego para, ao lado de sua família, se dedicar integralmente ao espaço. “Eu nunca tive nenhum incentivo de nenhum órgão público, sempre foi um espaço independente, então o meu incentivo sempre foram os meus apoiadores, meus clientes, amigos e família. A gente sempre sofreu truculências da polícia, sempre tivemos denúncias de vizinhos, então eu não vejo nenhum tipo de apoio. Faltou tudo”, lamentou.
Apresentadora do evento e coordenadora do Fórum Estadual de Cultura (FESC), Romilda Pizani apontou os prejuízos culturais para a cidade ao ter o fechamento de um espaço como o Laricas. “É lamentável nós estarmos hoje, fazendo a atividade de encerramento de um espaço que acolheu tantos artistas, um espaço totalmente democrático no que se refere à arte. Todas as expressões artísticas de Campo Grande e Mato Grosso do Sul passaram pelo Laricas Cultural. É mais um espaço que os campo-grandenses deixam de ter e isso tem que ser levado em conta, em especial à partir desses novos incentivos que estamos tendo, que são os editais, que são os fomentos a partir dos recursos federais que é a partir de onde nós vamos investir esses recursos”, orientou.
Luanna finalizou esclarecendo que seguirá com sua atuação em eventos culturais baseada em suas experiências à frente do Laricas. “Eu continuo como produção cultural. O Larica’s tem uma roda de samba que é a Roda de Samba Misturô, eu faço parte da produção da Feira Ziriguidum, busco parcerias, a gente vai ter sábado que vem um torneio de bozó no Pizza Pub, então a gente vai seguindo dessa maneira”.