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IV CONEC

"Cultura não pode ser usada como palanque político", diz Fernando Cruz

Mato Grosso do Sul tem um problema a ser combatido nas próximas conferências de cultura...

Por TERO QUEIROZ • 22/11/2023 • 16:12
Imagem principal (21.nov.23) - Fernando Cruz durante a 4ª Conferência Estadual Cultura de Mato Grosso do Sul realizada no Teatro Glauce Rocha de 20 a 23 de novembro em Campo Grande. Foto: Tero Queiroz

Durante o encerramento da IV Conferência Estadual de Cultura nesta 4ª feira (22.nov.23), em Campo Grande (MS), o ator, diretor, professor e produtor cultural Fernando Cruz, um dos mais destacados e longínquos artistas em atividade na Capital, avaliou como transcorreu os três dias do mais importante evento político-cultural que teve início na 2ª feira (20.nov).

“Participei de todas as Conferências e inclusive do processo que criou as Conferências. Desde a Construção do Sistema Nacional, portanto, estamos na luta pelos direitos culturais desde a década de 90”, introduziu.

Segundo o artista, a Conferência sul-mato-grossense tem dois aspectos: “Tem conquistas legais e coisas que precisam mesmo ser melhoradas. Mas é assim, aqui é construção, onde acontece de tudo. É um aprendizado”, observou.

Provocado a falar sobre o valor político-cultural dessa Conferência, Cruz ressaltou. “Essa foi uma das mais importantes, porque desde o golpe em 2016, quando o Ministério de Cultura foi destruído, desconstituído, acabando com os mecanismos legais da cultura, todo processo de construção previsto no Sistema Nacional de Cultura, que é a democratização da Cultura a partir da participação da sociedade, do controle social, exercido pela sociedade, não só dos usuários da cultura, que é a população que tem acesso aos bens culturais, mas também dos trabalhadores e trabalhadoras da cultura, esse desmonte foi muito grande. Agora, em 2023, retomamos, depois da pandemia e de um período fascista em que a arte e a cultura brasileira foi perseguida pelo estado brasileiro, pelo governo brasileiro na época do ex-presidente. Então, é isso, uma retomada! Temos novamente o Ministério da Cultura, temos novamente a Conferência, um dos principais mecanismos de escuta do Sistema Nacional de Cultura”.

Para Cruz, cabe alertar que em relação a outros estados, Mato Grosso do Sul tem um problema a ser combatido nas próximas conferências de cultura. “Na minha análise, em relação a outros estados do Brasil, aqui no Mato Grosso do Sul houve uma ingerência muito grande por parte do poder público na metodologia de construção da Conferência, em que o governo tem mais participação e voz do que a sociedade civil. Mais pela metodologia, né? As Conferências no interior, deu para perceber que havia mais pessoas do poder público do que propriamente o agente cultural que pode ser a rezadeira, a parteira, o tocador de viola da comunidade, isso ocorre talvez por não termos mapeado quem são esses agentes da cultura. Mato Grosso do Sul é carente de identificar e saber quem são os seus agentes e bens culturais. Com isso, acabou estando aqui na conferência civil muitas pessoas ligadas, na verdade, ao governamental”, apontou.

Conforme Cruz, na plenária a voz governamental acabou deliberando mais e, além disso, houve falhas e fugas ao regimento da Conferência. “Não houve controle de quem entrava como Delegado, o que acabou levando a uma representatividade mais governamental do que civil. Tivemos muitos representantes que não passaram pela Conferência Municipal, chegando aqui e se passando por representante da sociedade civil”, lamentou.

(22.nov.23) - Fernando Cruz fala sobre experiência na IV Conferência de Cultura em Mato Grosso do Sul. Foto: Tero Queiroz (22.nov.23) - Fernando Cruz fala sobre experiência na IV Conferência de Cultura em Mato Grosso do Sul. Foto: Tero Queiroz 

Ainda segundo Fernando Cruz, faltou um debate sobre as políticas públicas locais, que deveria ter ocorrido no espaço da Conferência. “Não se debateu aqui sobre as nossas políticas culturais. Cultura não se faz só com edital, não se falou aqui o que vamos fazer para corrigir nossas políticas públicas do estado nos próximos anos...”, considerou.  

Cruz alertou que o espaço de representatividade cultural não deve ser cedido ou ocupado por pessoas com terceiros interesses na representação. “Cultura é coisa séria, não é entretenimento, não é mercadoria e também não pode ser usada como palanque político. Antes de tudo é promoção do caráter e de cidadania e é algo a ser levado extremamente a sério em um estado que garanta direitos básicos a seus cidadãos e cidadãs”.

(21.nov.23) - IV Conferência de Cultura de Mato Grosso do Sul foi realizada no Teatro Glauce Rocha em Campo Grande. Foto: Tero Queiroz(21.nov.23) - IV Conferência de Cultura de Mato Grosso do Sul foi realizada no Teatro Glauce Rocha em Campo Grande. Foto: Tero Queiroz

 Apesar do receio, o artista disse estar feliz com uma conquista em especial do governo sul-mato-grossense. “Estou feliz que o estado conseguiu trazer algumas pessoas importantes para a cultura do interior. Foi importantíssima a participação de algumas pessoas aqui, de figuras enormes culturalmente, nisso o estado acertou, de fazer esse intercâmbio”.

(22.nov.23) - Fernando Cruz aponta intercâmbio cultural como conquista da IV Conferência de Cultura em Mato Grosso do Sul. Foto: Tero Queiroz(22.nov.23) - Fernando Cruz aponta intercâmbio cultural como conquista da IV Conferência de Cultura em Mato Grosso do Sul. Foto: Tero Queiroz

Fernando Cruz completou dizendo que o preocupa se os delegados eleitos têm conhecimentos sobre os 6 Eixos, mas expressou o que deseja para representantes culturais de MS. “Que as pessoas eleitas levem nossa identidade cultural e possam garantir um espaço, porque Mato Grosso do Sul ainda é preterido na distribuição de recursos do governo federal em relação às demais regiões do Brasil, então que eles fortaleçam lá a redistribuição da verba pública com olhar mais atento a Mato Grosso do Sul e seus trabalhadores e trabalhadoras da cultura, porque somos muitos e muitas”, finalizou.  


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Tags: Fernando Cruz, IV Conferência Estadual de Cultura, Mato Grosso do Sul

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