A 4ª Conferência Municipal de Cultura teve início na noite da 6ª feira (27.out.23) em Campo Grande (MS) e continua ao longo do sábado, 28 de outubro. Lideranças culturais aproveitaram a cerimônia de abertura para manifestar, de novo, contra o calote em curso da gestão de Adriane Lopes (PP) de lançamento e pagamentos de editais públicos.
“Nós não podemos falar das políticas públicas culturais sem primeiro arrumar nossa casa. Nós estamos aqui reivindicando para que seja lançado o edital FMIC e FOMTEATRO porque faz dois anos que isso não acontece e é de extrema necessidade e importância que isso aconteça, porque nós estamos olhando para nossos fazedores de cultura. E olhar para nossos fazedores de cultura é fazer o que estamos fazendo aqui, reivindicando seus direitos. Não só por nós, mas por aqueles que não estão aqui, mas que fazem cultura nas mais diversas regiões de Campo Grande”, explicou a presidente do Fórum Municipal de Cultura da Capital (FMCG), Romilda Pizzani.
O evento inaugural ocorreu num auditório na Instituto Mirim – Avenida Fábio Zahran – e contou com a presença da Secretaria Municipal de Cultura Mara Bethânia Gurgel. Ela disse estar trabalhando para que os editais públicos da culturais sejam colocados em dia. “Temos uma reunião marcada na terça-feira [31.out.23] com o secretário de governo [João Rocha], com a presença do Conselho para eles mostrarem a necessidade dos artistas. Eu vejo que precisamos dialogar bem sobre isso, porque o edital, se for para termos, tem que ser uma coisa sequente todos os anos. Para isso precisamos organizar uma questão financeira”.
A chefe da pasta revelou que espera que na terça tenha uma resposta à classe sobre os editais. “Se ter o orçamento é uma coisa, se ter o financeiro é outra coisa. Eu acredito que na terça-feira temos que sair com um resultado de lá, seja ele negativo ou positivo, essa resposta tem que sair. Porque a classe está numa expectativa desde o início do ano, mas só quem pode dar a palavra final é o financeiro”, argumentou.
O vereador Ronilço Guerreiro, presidente da Comissão de Cultura na Câmara, reiterou cobranças acerca do lançamento dos editais culturais e defendeu que Mara Bethânia está trabalhando em prol dos artistas. “A secretária está brigando, às vezes me liga de madrugada pedindo apoio para solucionarmos esse problema, mas a caneta não é dela, então precisamos da liberação da verba no financeiro”, defendeu Guerreiro. “Mas conseguimos uma reunião para a próxima terça-feira com o secretário de governo da prefeita e vamos buscar soluções para que esses editais sejam lançados”, garantiu. Ele, inclusive, enviou ofício em 23 de outubro cobrando Adriane Lopes sobre os editais. Eis a íntegra.
4ª CONFERÊNCIA
A 4ª Conferência Municipal de Cultura de Campo Grande foi dividida em 6 eixos temáticos nos quais a partir das 8h de amanhã, diversos agentes culturais vão debater. Os eixos são os seguintes:
- ·Institucionalização, Marcos Legais e Sistema Nacional de Cultura;
- ·Democratização do Acesso à Cultura e Participação Social;
- ·Identidade, Patrimônio e Memória;
- ·Diversidade Cultural e Transversalidade de Gênero, Raça e Acessibilidade na Política Cultural;
- ·Economia Criativa, Trabalho, Renda e Sustentabilidade e Direito às Artes e Linguagens Digitais.
Entre as autoridades presentes na cerimônia inaugural que fizeram uso da fala, estavam: a Representante do Ministério da Cultura no MS, Caroline Garcia, o Presidente do Conselho Municipal de Cultura, Roberto Figueiredo, Diretor de Geoprocessamento, Pesquisa e Informação da PLANURB Fábio Nogueira e a Cantora Regional Maria Alice. Veja a galeria do evento no final do texto.
VALOR DA CONFERÊNCIA
Segundo a presidente do FMCG, ainda que haja problemas locais sistêmicos a serem resolvidos, a Conferência é de extremo valor para o futuro cultural da Capital e do estado. “Essa Conferência é fundamental porque estamos falando do fortalecimento da política pública cultural a nível nacional e lógico, Campo Grande, Mato Grosso do Sul, não poderia ficar fora disso. Então, ela é de extrema importância, mas precisamos mesmo arrumar nossa casa”, avaliou Pizzani.
A secretária de Cultura considerou que a Conferência é um momento de avanço, pois permite o debate, revisão e planejamento. “Isso possibilita esse diálogo entre o poder público, a sociedade civil e nossos artistas, de rever alguns pontos que talvez estejam fragilizados dentro das nossas políticas públicas culturais que precisam ser revistas, inclusive, pelo poder público. Eu estou superconfiante nos Eixos, no debate com nossos artistas. Acho que esse é o momento de olhar com muito carinho para alguns pontos que sempre os artistas cobram, porque eles necessitam. Fazer arte precisa de investimento”.
Mara também defendeu que a Lei Paulo Gustavo foi feita em conjunto com artista e por isso Campo Grande se destacou a nível nacional. “Campo Grande foi a 2ª Capital a se credenciar com o plano aprovado, foi a sétima Capital do Brasil a lançar o seu edital. A gente constituiu isso junto com os artistas, ouvindo o Conselho, construindo comissões organizadoras. É isso que desejo: dentro da minha gestão eu quero ouvir, poder abraçar o artista, ter diálogo de verdade. Esse é algo importante tanto para a sociedade civil, quanto para o poder público”.
Para o vereador Ronilço Guerreiro o sucesso da Conferência será reflexo da participação da classe cultural. “Tenho boas expectativas, pois foi uma das primeiras iniciativas que tivemos no início do nosso mandato, mas infelizmente por causa da pandemia foi adiada. Acredito que o segmento precisa participar ativamente, pois somente com o envolvimento de todos os resultados serão positivos”, prospectou.
PATRIMÔNIO CULTURAL
Também esteve presente na cerimônia de abertura da 4ª Conferência, o Superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em Mato Grosso do Sul, João Henrique dos Santos. Ele apontou o momento como uma oportunidade para tornar inclusiva e acessível as políticas públicas do Patrimônio. “A Conferência ela vem com uma temática ‘Democracia e Direito a Cultura’ e dentro do Eixo de Patrimônio, Memória e Museus, a Conferência ela traz uma leitura muito de um Brasil esquecido, do Brasil negligenciado, do Brasil que não recebe investimentos, nem políticas públicas. Estamos falando de Comunidades Quilombolas, Comunidades Ribeirinhas, Comunidades Periféricas. Então, dentro do Eixo no qual atuarei, vamos trabalhar esses grupos marginalizados historicamente não reconhecidos e não atendidos pela política pública".
"A Conferência Municipal é a chance de a gente colocar nas políticas públicas esses grupos ‘minorizados’, que são maioria, mas historicamente ‘minorizados’ e sem acesso às políticas. Então a Conferência ela vai impactar diretamente no nosso futuro, inclusive, naquilo que a gente vai selecionar enquanto Patrimônio Cultural", detalhou.
João explicou que as decisões da Conferência podem impactar até mesmo no que se é defeinido como Patrimônio. "Porque o que temos hoje como Patrimônio não representa a identidade sul-mato-grossense. Não representa, muitas vezes, a identidade campo-grandense. Porque se excluem negros, indígenas, ciganos, comunidades periféricas".
Essa, portanto, na visão do Superintendente do Iphan-MS é uma grande oportunidade para se corrigir erros históricos. "Temos a oportunidade, com essa 4ª Conferência, de ampliar o conceito de Patrimônio que a Constituição Federal fez em 1988 e que o Estado brasileiro reverbera. Com isso, há negligência nos municípios e estados em relação a essas comunidades que estão historicamente excluídas do acesso às políticas públicas, principalmente de políticas públicas culturais”, finalizou.