O Comitê de Cultura de Mato Grosso do Sul (CCMS) chegou na manhã de 23 de fevereiro à Aldeia Limão Verde, em Aquidauana, para prestar assessoria à comunidade para a fundação da Associação de Brigadistas Indígenas Úne Yoko Yúku (água e fogo na língua Terena). Além disso, o Comitê ofereceu apresentações de palhaçaria e sessão cinematográfica aos indígenas, com finalização das ações nesta 2ª feira (24.fev.25) com a ida ao cartório para autenticação do CNPJ.
Braço civil do Ministério da Cultura (MinC) em MS, o Comitê é parte do Programa Nacional dos Comitês de Cultura (PNCC), que implementou uma rede de instituições, coletivos e agentes culturais que atuam em um determinado território.
Integrante do Comitê de Cultura e presidente da Associação Flor e Espinho, Anderson Lima teve papel central na orientação sobre a criação da Úne Yoko Yúku. Durante o encontro, Anderson explanou como seria o processo de formalização da associação, abordando a revisão do estatuto e a necessidade de definir claramente os associados e o uso de terrenos. Já no início da reunião, Anderson convidou os integrantes da brigada à análise do documento: “(...) O ideal é que a gente leia de novo o estatuto social hoje. Se alguém tiver alguma observação, agora é a hora de aumentar o texto, aí a gente vê no local”, introduziu.

Na conversa, Anderson afirmou várias vezes que o principal objetivo do Comitê é garantir que o estatuto fosse adequado às necessidades da comunidade indígena, buscando maior autonomia e clareza jurídica para o futuro. “É uma assessoria baseada na escuta, queremos ouvir vocês e orientar como criar esse documento com seus anseios”, continuou Lima durante a conversa que teve início pouco antes das 11h e se estendeu até às 16h da tarde do dia 23.

Eleito Diretor Executivo da associação, Airton Sebastião considera que a criação da associação permitirá uma propulsão no projeto que combate queimadas na região pantaneira. “Olha, a gente está engatinhando, mas sentimos que precisamos regulamentar esse projeto, justamente porque a gente gostaria de ampliar a nossa estrutura da base, tanto que a gente precisa de investimento para alcançar essas coisas maiores. Então, a gente vai devagarzinho, tentar buscar essas informações com o pessoal do Comitê de Cultura, saber como que a gente consegue captar recurso para ampliar esse trabalho que a gente já vem desenvolvendo de restauração do córrego, fazer a restauração do meio ambiente”, disse.

Conforme o líder indígena, a Úne Yoko Yúku surge de um esforço coletivo dos brigadistas e total apoio do Comitê de Cultura. “Ter esse apoio deles é fundamental porque a gente não tinha noção, não sabíamos como seria o passo a passo de como criar, de como seria a parte burocrática da criação da sociedade. Então, esse apoio foi necessário, de muita importância”, apontou Airton.

A Coordenadora do CCMS, Fernanda Teixeira, explicou que o trabalho para a fundação da Úne Yoko Yúku começou meses atrás. “A fundação e o registro da associação marcam uma importante etapa de um processo que teve início em setembro do ano passado. Desde então, os participantes passaram por diversas fases, incluindo a participação no Seminário de Apresentação, realizado logo após o início do atendimento. Em novembro, uma nova ação foi realizada, na qual o programa foi apresentado e informações sobre a formalização da associação e o acesso a recursos foram compartilhadas. Agora, com a assembleia de fundação, o projeto alcança mais um marco significativo em sua trajetória”, contextualizou.
PALHAÇADA E CINEMA

O documento final foi construído ao longo do dia e, na noite do domingo (23.fev), o Comitê de Cultura ofereceu apresentações com os palhaços integrantes da Companhia de Teatro e Circo Flor e Espinho – Namatta e o próprio Anderson Lima.

Dezenas de pessoas da comunidade indígena se reuniram num salão de festas ao lado da igreja, onde havia ribalta, colorido de bandeirolas e iluminação especial. Os números circenses envolveram truques e arrancaram muitas risadas do público composto por crianças, adultos e idosos.

Após a apresentação, eufórico, o palhaço Namatta celebrou o momento marcante em sua carreira. “Isso aqui é único. Não estamos aqui apenas por estar, mas por uma necessidade de nos expressarmos no mundo de forma autêntica, como fizemos hoje. A troca é mútua: eu, como palhaço, me sinto realizado e sou nutrido por essa experiência”.
Também integrante do Comitê de Cultura, Namatta revelou que as apresentações artísticas são algo que está sendo equilibrado com produção, formação e assessoria técnica.

Logo após as apresentações de palhaçaria, foi realizada uma sessão cinematográfica, com o filme As Invenções de Akins, do cineasta sul-mato-grossense Ulísver Silva.
Nair Gavilan, produtora que tem auxiliado nas ações do Comitê de Cultura, compartilhou sua experiência com o trabalho realizado na aldeia. “É uma experiência muito gratificante estar trabalhando com essa parte da cultura, estar fomentando em lugares pouco assistidos pelo estado. Por isso, penso que não está sendo como um trabalho padrão, não estou vendo como qualquer trabalho, está sendo renovador estar aqui”, comentou.

“PARA ELES, NÓS NÃO EXISTIMOS!”

Em relação às apresentações artísticas, o Diretor Executivo dos Brigadistas expressou sua satisfação com a ação. Segundo ele, a inclusão de apresentações diferenciadas foi uma grande oportunidade para a comunidade, especialmente por se tratar de ações que eles não têm acesso regularmente: "Essas apresentações que eles propuseram, perguntaram se podia, eu falei: ‘não, cara, claro. Ainda mais que eles trouxeram ações diferentes para nós, que a gente não tem esse acesso, principalmente de circo, é muito importante para nós”, explicou Airton.

Ainda segundo o líder dos brigadistas, o Comitê fez um trabalho que o estado deveria fazer. “A gente está muito abandonado nessa questão, o estado não atende a gente. Para eles, nós não existimos. Aí fiquei muito feliz que o Comitê veio aqui para fazer essa assessoria mais jurídica, deu para nós a oportunidade de ter apresentação artística deles, dos palhaços. Esse espetáculo que eles apresentaram foi só para complementar e, como é que eu posso dizer, fechar com chave de ouro. Eu achei muito bonito ver essa participação das crianças daqui”.

Para Airton, ações artístico-culturais como as apresentações e a sessão cinematográfica, serão norteadoras das crianças que puderam estar presentes. “Eu acho que as crianças vão levar para a vida isso aqui, porque para quase todos eles é a primeira vez que estão vendo uma apresentação de palhaços, de circo e cinema”, apontou o brigadista.
Ele finalizou celebrando a boa surpresa de ter na sessão um filme sul-mato-grossense. “Fiquei muito feliz de saber que é um diretor do nosso estado, porque eu não sabia que era artista da casa também, e fez um filme bonito desses, como não ficar alegre? Por tudo isso, nós estamos muito contentes que o Comitê de Cultura do nosso estado está nos vendo e nos ajudando a protagonizar nossas ações, porque é isso que nós queremos: ser protagonistas da nossa história e nossas ações em nosso território!”.
