Camila Jara (PT), candidata à prefeitura de Campo Grande (MS), foi sabatinada na noite de 17 de setembro, pelo Fórum Municipal de Cultura no Teatro do Mundo. Assista no topo!
Além dela, compareceram a sabatina a candidata Rose Modesto (UB) e Beto Pereira (PSDB). A única convidada que faltou, foi a atual prefeita Adriane Lopes (PP), que ganhou fama de caloteira no meio cultural após deixar de investir R$ 12 milhões em políticas públicas do setor.
O Fórum convidou os quatro candidatos, mais bem colocados nas pesquisas, para ouvir suas propostas, fazer perguntas e ao final os candidatos assinaram um documento comprometendo em adotar políticas públicas específicas para a classe cultural.
Camila iniciou sua participação na sabatina alfinetando, indiretamente, a gestora faltante: “É muito importante que as candidaturas topassem aqui estar debatendo esse tema tão importante”, disse.
Em seguida, Camila agradeceu quem faz cultura e resiste pela cultura em Campo Grande durante tantos anos. “Eu falo que ‘resiste’, porque quem faz cultura, quem está no corre, quem luta para garantir e tentar sobreviver da arte sabe o quanto é difícil e o quanto a gente precisa garantir o acesso à cultura popular de qualidade na nossa cidade. E a gente faz isso promovendo e estruturando políticas públicas que garantam e exerçam o direito da população de ter acesso à cultura”, comentou.
Camila mencionou como foi sua infância ao lado do pai, jornalista Gerson Jara. “Eu venho de um tempo em que eu cresci assistindo no chão da Barão, teatro popular. Eu venho de um tempo em que eu viajava com meu pai o estado inteiro para acompanhar festivais de músicas. Eu sou fruto e produto da cultura. Eu não me vejo sem cultura e talvez, se não fosse, eu não veria o mundo dessa forma e não soubesse questionar as nossas realidades”, declarou.
Para a candidata, “a cultura nos provoca a sair do lugar e nós precisamos provocar Campo Grande a romper estruturas e pensar novas formas de fazer cultura”.
Em seguida, Camila elogiou o presidente Lula e alfinetou, indiretamente, o tucano Beto Pereira (PSDB), que na abertura de sua apresentação na sabatina havia citado ‘investimentos’ do governo em cultura como se fossem iniciativa tucana. “Eu queria muito agradecer ao governo federal, ao governo Lula, por estar fomentando e garantindo a sobrevivência da cultura em Campo Grande e no estado de Mato Grosso do Sul. Mas nós sabemos que os programas do governo federal são do governo federal”.
Em consonância com seu plano de governo, Camila Jara prometeu que, caso seja eleita, irá aplicar a legislação e ampliar o orçamento para os trabalhadores da arte na capital sul-mato-grossense. “Para além de estrutura e cumprir o que a legislação já aplica do 1%, nós vamos ampliar esse recurso para garantir o fomento de editais para levar cultura não só para o centro de Campo Grande, mas também para os bairros... e a gente não quer levar a cultura para os bairros, a gente quer que as expressões dos bairros encontrem espaços dentro das burocracias da secretaria de cultura para conseguir ter acesso a esses editais”.
A petista disse que ampliará o acesso aos editais por meio de medidas administrativas. “Assim como o marco regulatório da cultura veio para desburocratizar, a gente vai desburocratizar os editais da secretaria aqui em Campo Grande”, prometeu.
Ela também disse que implantará polos de apoio aos artistas periféricos para inscrição em editais. “A gente vai descentralizar esses locais para prestar essa assistência, ir até os bairros, ir até as periferias para garantir que nenhum artista fique fora. Primeiro, a gente vai avaliar o mérito, depois os documentos”.
Camila ainda criticou o sistema atual analógico dos editais e garantiu que fará a execução anual dos editais em Campo Grande. “Todo ano vai ter edital e a gente não vai dar calote na cultura. Não existe essa história de, durante 8 anos de governo, abrir dois editais para a cultura como foi feito no governo do estado, durante o governo do ex-governador Reinaldo Azambuja. Nós vamos cumprir, porque é um compromisso com a cultura e nós vamos avançar nessa pauta”.
Durante suas manifestações, Camila criticou o fato de a pasta da cultura ser usada por gestões consecutivas como um ‘puxadinho’. “Cultura para a gente não é a primeira pasta que a gente corta o orçamento, muito pelo contrário, cultura gera renda, cultura fomenta a economia e cultura tem pessoas que fazem cultura e que sobrevivem dela. A gente sabe que à frente da secretaria temos que ter alguém comprometido com a cultura, com capacidade técnica para gerir a cultura. Acabou essa história de ser puxadinho de alguém, para ser indicação política e alguém que não tem nada a ver”.
Jara lembrou ainda que Adriane Lopes vetou o orçamento da cultura. “Eu gostaria de me solidarizar com a cultura, que hoje sofreu um veto do 1% para a cultura; deve ser por isso que a prefeita não veio, para não dar explicação à classe da cultura, não dar explicação ao município, mesmo esse recurso já não sendo aplicado há muito tempo”.
Então, a candidata reforçou que em sua eventual gestão executará o 1% do orçamento para a cultura. “Vamos aumentar e ampliar os recursos para os editais, porque a gente sabe que os editais da Lei Aldir Blanc são um dinheiro do governo federal. Nós vamos garantir a ampliação de 1% para a cultura. Queremos discutir o que vai ser recurso para fomento de edital e o que vai ser para a ampliação de estruturação da secretaria”.
A criminalização de artistas nas gestões tucanas e da Capital também foram alvos de críticas da candidata. “No nosso governo, nenhum artista que vai para o corre vai ser criminalizado. A gente precisa falar sobre a criminalização da cultura em Campo Grande. A cultura é criminalizada pelo governo do estado, é criminalizada pela gestão municipal, e quem ousa pensar fora da caixa, quem ousa se reunir, quem ousa fazer batalha de rima, quem ousa pensar fora do que manda e do que estabelece as gestões, é reprimido e é reprimido fortemente pelo poder policial que deveria estar cuidando e protegendo as pessoas. Isso não vai acontecer em nossa gestão”, garantiu a petista.
COERÊNCIA COM O PLANO DE GOVERNO PARA A CULTURA
Todas as abordagens de Camila na sabatina, apesar de haver pouca contundência e clareza no discurso dela, vão de encontro com as propostas que constam em seu plano de governo.
O TeatrineTV analisou que no documento (eis a íntegra), ela apresenta propostas de criação de circuitos culturais nas regiões periféricas, que visam não apenas incentivar a cultura Hip Hop, mas também apoiar grupos que atuam nas comunidades locais.
Ela propõe, no plano, investimentos significativos em espaços culturais, como centros culturais, parques e praças, promovendo programações voltadas aos moradores, incluindo cursos e oficinas.
Uma proposta importante, que, no entanto, a candidata não mencionou na sabatina, é seu desejo da construção da Cidade do Samba em Campo Grande, que incluiria um Sambódromo e apoio a Escolas de Samba e Blocos independentes, garantindo o direito à manifestação popular.
Camila chegou a mencionar na sabatina, mas de maneira pouco acertada, a sua proposta de oferecer incentivos a bares e eventos culturais, por meio de subsídios e uma revisão da Lei de zoneamento urbano, facilitando a ocupação de áreas desertificadas.
No plano, Camila também diz que fará a implementação de um Fundo Municipal de Cultura com garantia orçamentária e a promoção de uma participação social ativa em fóruns e conselhos de cultura são pilares de seu plano. Na sabatina, porém, ela não se referiu em nenhum momento a essa proposta.
Outro desejo da candidata, apresentado como ‘proposta’ no plano, é de criar mecanismos pela preservação do patrimônio material e o acesso a espaços culturais nas áreas centrais da cidade, assim como a valorização da cultura imaterial, apoiando comunidades indígenas, quilombolas e grupos tradicionais.
Camila também fala no documento, em criar mecanismos que promovam o envolvimento de diversos movimentos sociais, incluindo o movimento negro, LGBTQIAPN+, juventude e PCDs, no debate cultural. Ela não apresenta que ‘mecanismos’ seriam esses.
A INTEGRA DAS PROPOSTAS DE GOVERNO DA CANDIDATA CAMILA JARA PARA A CULTURA
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Incentivo à Cultura na Periferia: Criação de circuitos culturais e valorização da cultura Hip Hop nas regiões periféricas.
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Investimentos em Espaços Culturais: Fomento a programações em centros culturais, parques e praças para a comunidade.
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Cidade do Samba: Construção do Sambódromo e apoio a Escolas de Samba e Blocos independentes.
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Incentivos a Bares e Eventos: Provisão de subsídios e revisão da Lei de zoneamento urbano para incentivar a cultura local.
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Fundo Municipal de Cultura: Implementação de um fundo com garantia orçamentária e participação social.
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Preservação do Patrimônio: Valorização do patrimônio material e promoção de atividades em áreas centrais.
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Apoio à Cultura Imaterial: Valorização de comunidades tradicionais e seus produtos culturais.
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Inclusão de Diversos Movimentos: Envolvimento de grupos diversos no debate cultural.
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Inclusão Digital: Desenvolvimento de telecentros e plataformas para produção e divulgação cultural.
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Integração com Educação e Direitos: Promoção de atividades culturais nas escolas e comunidades.