O renomado ambientalista, filósofo e poeta Ailton Alves Lacerda Krenak assumiu na noite desta 6ª.feira (5.abr.24) a Cadeira 5 na Academia Brasileira de Letras (ABL).
Ele é o primeiro indígena ocupar uma cadeira na ABL.
A cerimônia de posse ocorreu no Petit Trianon sede da instituição no Centro do Rio de Janeiro.
Krenak assumiu a vaga após o falecimento de José Murilo de Carvalho em agosto de 2023.
Para conquistar a cadeira, Krenak disputou uma eleição com a a historiadora Mary Del Priore e o indígena Daniel Munduruku.
PROPOSTAS DE KRENAK
Krenak expressou esperança de que sua posse na ABL marque uma mudança na relação da instituição com os povos originários, com foco na promoção da diversidade linguística do Brasil. Ele propõe criar uma plataforma semelhante à Biblioteca Ailton Krenak, que disponibilize conteúdos em várias línguas nativas para preservar e divulgar narrativas e tradições indígenas, enfatizando a importância da oralidade na proteção dessas línguas ameaçadas.
POSSE HISTÓRICA
A cerimônia de posse de Krenak foi uma das mais concorridas da história. "Nunca houve tanta gente numa cerimônia de posse", considerou o cineasta mato-grossense Perseu Azul, que, juntamente com a multiartista mato-grossense Oz Ferreira, foi convidado especial de Krenak para o evento.
Dentre autoridades, participaram do evento os ministros dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, e da Cultura, Margareth Menezes. E tiveram destaque nos ritos de posse, os membros da ABL Heloísa Teixeira, Arnaldo Niskier, Fernanda Montenegro e Antonio Carlos Secchin. A comissão de entrada foi formada por Edmar Lisboa Bacha, Joaquim Falcão e Ruy Castro. A comissão de saída por Ana Maria Machado, Geraldo Carneiro e Antônio Torres.
Durante seu discurso de posse, Krenak falou da pluralidade indígena que ele representa ao tomar posse na instituição. “Desde que me convidaram ou me animaram para ocupar essa cadeira número cinco, eu me perguntava: ‘Será que nessa cadeira cabem 300?’. Como dizia Mario de Andrade, eu sou 300. Olha que pretensão. Eu não sou mais do que um, mas eu posso invocar mais do que 300. Nesse caso, 305 povos, que nos últimos 30 anos do nosso país, passaram a ter a disposição de dizer: ‘Estou aqui’. Sou guarani, sou xavante, sou caiapó, sou yanomami, sou terena”, disse Krenak.
Assista a íntegra da cerimônia:
QUEM É AIRTON KRENAK
Nascido em 1953 em Itabirinha, Minas Gerais, na região do vale do Rio Doce, Ailton Krenak mudou-se para o Paraná aos 17 anos, onde trabalhou como produtor gráfico e jornalista. É ambientalista, filósofo, poeta, escritor e doutor honoris causa por diversas universidades. Sua trajetória é marcada pelo ativismo socioambiental e defesa dos direitos dos povos indígenas, participando da fundação da Aliança dos Povos da Floresta e da União das Nações Indígenas (UNI).
Entre 2003 e 2010, foi assessor especial do governo de Minas Gerais para assuntos indígenas. Autor de mais de 15 livros, como "A vida não é útil" (2020) e "Ideias para adiar o fim do mundo" (2019), conquistou o Prêmio Juca Pato de Intelectual do Ano em 2020.
Atualmente, reside na Reserva Indígena Krenak, em Resplendor, Minas Gerais.