O Bispo Evaldo, representante das igrejas do entorno da Esplanada Ferroviária, esteve numa Audiência Pública na Câmara Municipal em 31 de março, cobrando a expulsão dos Blocos Carnavalescos da Esplanada, local cultural habitual dos desfiles, em Campo Grande (MS).
O debate foi proposto pelo vereador Valdir Gomes (PSD) e convocado pela Comissão Permanente de Cultura da Casa de Leis, composta pelos vereadores Ronilço Guerreiro (presidente), Junior Coringa (vice-presidente), Beto Avelar, Professor Juari e Gilmar da Cruz.
As justificativas para expulsar o Carnaval da Esplanada Ferroviária foram em algumas direções, mas a tônica girou em torno do que foi orientado pelo Bispo: “o público é maior do que o espaço”.
O discurso do religioso funcionou como uma bússola à alguns, inclusive, ao discursar, ele adiantou que assim seria: “Qual o propósito de estar aqui... Cultura é algo muito importante e até tinha escrito aqui: creio que minha fala será um canal facilitador para alguns que falarão”, introduziu o religioso, elogiando as falas do coronel Emerson Almeida Vicente, comandante do Policiamento Metropolitano da Capital, que o antecedeu.
“Tive a oportunidade anterior de poder ter o Comandante que está falando aqui...Quero ser muito objetivo, não é nem questão de evidência. Eu quero destacar aqui, falar sobre o tema de local adequado e falar com propriedade sobre esse simples, mas importante item. Quero ficar ali centralizado no que desrespeito ao entorno da Esplanada, da [Rua] 14 de Julho, pegando aqui o que o Comandante colocou com relação aos moradores e com relação as igrejas, aos hospitais... E coloquei aqui: não tem como nós minimizarmos esse assunto. O local, com certeza ali na Esplanada, se nós olharmos e tivermos o bom-senso, não é o local adequado com certeza”, cravou o Bispo.
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Na sequência, o religioso comparou os foliões a peixes nativos do Pantanal, numa analogia sobre dimensões espaciais.
“Como nós somos pantaneiros, temos o Pantanal e conhecemos a pesca, eu fiz uma simples analogia. Eu pensei em pegar o Pirarucu, mas não é um peixe da nossa região, então eu peguei o Jaú, que é um peixe que todos nós conhecemos e eu pensei assim: como colocar um Jaú dentro de uma lata de sardinha? Essa é expressão quero colocar ali, graças a Deus que o comandante colocou aqui que não houve evidências, mas se nós não tivermos se não tivermos bom senso e formos firmes em relação ao local, a gente pode protelar isso e em algum momento teremos uma tragédia no que se refere ao volume de pessoas em um local inadequado”, continuou.
O religioso disse, inclusive, que sua manifestação se sustentava, pois ele participou de uma reunião com uma cúpula da Segurança Pública da Capital que lhe deu tal esclarecimento:
“Eu tive o privilégio de estar numa reunião com mais de quatro coronéis da PM, inclusive o Comandante que estava aqui. E pude ver, o grande desafio para eles poderem administrar tudo com sabedoria e diligência. Primeiro, porque não são eles que tomam a decisão de escolher o local... Eu estive na reunião e pude perceber ali a preocupação deles com os acontecimentos. Graças a Deus não aconteceu nada”, apontou, incoerentemente.
Além disso, o Bispo reclamou que quando os blocos passam em frente à igreja há constrangimento aos fiéis, em razão de algumas pessoas terem pedido para usar o banheiro.
"Falando agora em termos de Igreja. Falando em termos de ali na [Rua] 14 de Julho em frente das igrejas ser o canal para os blocos. Não vou evidenciar aqui, mas nós tivemos vários constrangimentos... as pessoas sem camisa pedindo para usar o banheiro", justificou.
Para o Bispo é emergencial a remoção do Carnaval da Esplanada Ferroviária. Ele disse, inclusive, ter conhecimento de pedidos nesse sentido impetrados no Ministério Público Estadual.
“Eu não sei quanto tempo que têm, que foi solicitado e talvez foi prorrogado isso. A minha fala se firma somente no que desrespeito ao local da Esplanada, que no entendimento nosso não é o local adequado em relação a multidão”, completou.
ALIADOS AO BISPO
Entoando o discurso do Bispo, a promotora de Justiça da 26º de Defesa e Proteção ao Meio Ambiente de Campo Grande, Luz Marina Borges Maciel Pinheiro, disse que tem instaurado procedimento de reclamação dos moradores da Esplanada Ferroviária em razão dos danos que supostamente sofrem, assim como também os supostos danos ao bem tombado. Ela disse que o resultado de tal audiência pública, seria definidora para a posição do tribunal.
No geral, Luz Marina deixou claro que não é favor do Carnaval da Esplanada Ferroviária. Ele reverberou o discurso do Bispo de que o espaço não comporta o público em ascensão. A promotora revelou em seu discurso que um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado em 2019 com a prefeitura de Campo Grande, que visava supostamente a proteção do bem tombado, não teve as obrigações cumpridas.
“Então, eu acho que hoje é uma ótima oportunidade para deflagrar tratativas e discussões para alteração do local da realização de eventos e digo isso com todo respeito com os organizadores do evento e ao evento em si, mas pensando na proteção do bem tombado”, argumentou.
A diretora-adjunta da Agência Municipal de Transporte e Trânsito (Agetran), Andréia Luiza Figueiredo da Silva, que esteve representando o diretor-presidente da Agência, Janine de Lima Bruno, insistiu no discurso de que o espaço deveria ser alterado em razão do aumento do público.
“Diante da fala do pastor, do Bispo, me desculpa... diante da fala da promotora... Em especial aquele espaço, talvez, cada vez nós estamos tendo cada vez mais sucesso no Carnaval de Campo Grande e esse número vai continuar crescendo. Será que a Estação, a Esplanada Ferroviária, ainda será um local adequado?”, questionou.
Para Andréia, os moradores, o hospital e os comércios são afetados negativamente em razão dos bloqueios das vias nos dias de Carnaval.
“Nós temos que pensar no contexto geral daquele espaço. A questão das pessoas que não estão envolvidas naquele evento: os moradores, o Hospital, os comércios. Quando nós fazemos interdições no entorno daquele espaço, nós estamos desviando todo um trânsito para algumas vias que nada tem a ver com aquela situação”, opinou, reclamando ainda que não há efetivo suficiente para sinalização da festa tradicional.
Endossando o Bispo, o Vereador Clodoilson Pires (Podemos), disse que esteve em tal reunião com os Comandantes da Polícia Militar. Ao abrir seu discurso o vereador já disse que a Esplanada não comporta o desfile dos blocos carnavalescos, deixando claro em qual direção seguiria seus 5 minutos de discurso.
“Eu estive numa reunião com o Comandante Renato, juntamente com o Coronel Almeida e mais dois coronéis, sobre a preocupação que a Polícia Militar estava tendo com o Carnaval deste ano. Porque a previsão era de 60 mil pessoas ali na Esplanada, não teve esse público como ele disse aqui, apenas 20 mil pessoas; a pergunta é: e se tivesse 60 mil”, questionou.
A teoria do vereador se sustentou na tese de que não há escuta dos comerciantes, associação de moradores, das igrejas católicas e evangélicas e nem da unidade hospitalar do entorno do espaço cultural. O político ignorou o fato de que a audiência pública em que ele falava era justamente para ouvir esses membros. Ele ainda colocou como protagonista do espaço a Feira Central, apontando que a área do espaço daria suposto poder dos feirantes sobre a decisão do que deve ou não ocorrer na Esplanada Ferroviária.
“Alguém que faltou aqui seria a Alvira, ali da Feira, que é a pessoa que é responsável pela Feira. E várias reclamações nos últimos anos. Infelizmente, o Nênio, que é o representante dos comerciantes, teve uma viagem nesta data e não pode estar. E ele tem um dossiê dos últimos anos dos carnavais que aconteceram ali. O cheiro insuportável de urina, após carnaval. Câmeras flagrados com cenas horríveis e ele tem tudo montado num dossiê para apresentar isso. Nós temos aqui, a pessoa representante, dona Madalena Greco, que é presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul e acabou de me entregar um relatório com mais de 70 páginas, sobre o Carnaval deste ano”, acrescentou.
Clodoilson, então, escancarou que estava na Audiência como espécie de advogado da Feira Central.
“Não sei se vocês sabem, mas a Feira Central vai ser ampliada. Já tem dinheiro, a Bancada Federal já disponibilizou dinheiro e daqui a pouco começa as obras ali. Vai ser muito maior o volume de pessoas ali. Além do que foi falado de espaços públicos vazios, que não é o caso da Esplanada, que ela é muito bem ocupada, até pela Feira Central ser um ícone para nossa Capital... E agora com esse novo projeto que vai ficar lindíssimo vai ampliar muito mais”, argumentou. Só não foi possível compreender qual a relação que isso teria com o espaço cultural da Esplanada Ferroviária, o qual a Feira não detém nenhum poder.
O proponente da audiência pública, vereador Valdir Gomes (PSD), rebateu na sequência que estão sendo ouvidos todos os lados na audiência, desmentindo o que foi apregoado por Clodoilson.
“Estamos ouvindo todos os lados! Nós temos que sair daqui com a Comissão formada. Comissão essa, que vem daí [público], da Mesa, Liga, Vereadores... Eu vou reforçar novamente, olha o número de vereadores que estão nessa audiência. As audiências nesta Casa, quando são feitas, geralmente tem dois, três vereadores, hoje nós estamos em dez. Então, é uma situação que precisa ser conversada. O debate que está saindo tem um lado, tem o outro. Então, precisa de uma comissão que vai ter tempo de vir aqui debater e resolver, né Valu? Nós vamos ter que montar uma Comissão para conversar com a Liga, com as Escolas, com o Governo. Essa audiência tem esse caráter de hoje, montar uma Comissão para a gente começar a conversar, não tem nada resolvido! Nós estamos ouvindo... Vai resolver a partir das reuniões”, esclareceu Valdir Gomes.
Citada por Clodoilson, Madalena Greco usou seus três minutos de fala para defender a remoção do Carnaval da Esplanada, por acreditar que o local é uma espécie de condomínio fechado de ferroviários.
“Hoje eu quero deixar aqui um lembrete, senhor presidente, que essa Casa há 27 anos fez algo inédito para essa cidade, que foi tombar o maior sítio histórico que o Brasil tem. Eu não sei se é do conhecimento de todos, mas Campo Grande é a única cidade do país, que tem todo um núcleo com 135 casas tombadas. Esta Casa ombreou com os ferroviários que ali moram... Porque ali gente, embora não pareça, aquilo ali não é decoração, ali moram pessoas, que estão ali há mais de 100 anos. São 4, 5 gerações que moram ali e que pedem uma coisa simples: respeito! Aquilo ali não é cenário, senhor presidente”, bradou Greco.
Ela sustentou eu há danos deixados pela festa no local, inclusive porque ela mora no local.
“Somos nós que remendamos as nossas cercas, os nossos muros. Esse ano te pedi uma fita zebrada (falou à presidente da Lienca). Ali moram pessoas, nós não somos contra o Carnaval. Existe uma sanidade mental sim, vereador André, inclusive a nossa que ficamos 5 dias sem dormir 24h”, disse, sem fundamento, pois os desfiles dos blocos se encerra às 23h, gritou pessoas na plateia.
OPOSIÇÃO AO RELIGIOSO
Em contraponto ao Bispo e aos seus apoiadores, o vereador professor André Luis (Rede), discursou apresentando o impacto positivo dos desfiles carnavalescos na Esplanada.
“Valdir, você sabe que eu gosto de trabalhar com números. Peguei alguns números interessantes. Por exemplo, no Carnaval do Rio de Janeiro, a Prefeitura neste ano de 2023, investiu R$ 13 milhões no Carnaval do Rio de Janeiro. O Estado do Rio de Janeiro investiu R$ 13 milhões. Do total investido, também pela iniciativa privada, R$ 150 milhões. Esse Carnaval do Rio de Janeiro neste ano, deu um lucro para o município de R$ 4,5 bilhões. Só para se ter uma ideia, o orçamento de Campo Grande é R$ 5,3 bilhões... Tudo bem, Rio de Janeiro é o maior Carnaval do Brasil perto do de Salvador".
Segundo André Luis, os números apontam que Campo Grande não precisa impedir que o Carnaval ocorra e sim o profissionalizar. "O Carnaval não é uma brincadeira. Carnaval é só brincadeira na hora que a gente está lá, mas o Carnaval é uma indústria. São 4 dias de folia, a partir de 1 ano de produção, de trabalhos que são feitos nas escolas de samba, nos blocos”.
O professor também explicou que no que se refere a Blocos Carnavalescos, o crescimento do número de pessoas não é negativo ao espaço onde ocorre a festa. Ele citou o Bloco Galo da Madrugada (considerado o maior do mundo), de Recife, que acolhe 1 milhão de pessoas.
“Tem lugar para se fazer uma brincadeira para 1 milhão de pessoas? Então, a gente tem que ter um bom senso, o carnaval ele vai crescer e ele gera emprego, ele gera riqueza. Nós temos que começar a tratar a arte e a cultura como fonte de riqueza. Não é uma brincadeira, não é uma diversão, é uma coisa séria. Isso agrega valor, isso traz dinheiro para a cidade”, pontuou o vereador André Luís.
O vereador do Rede ainda criticou a falta de conhecimento das secretárias sobre como se organizar para a maior festa cultural do planeta.
“Dentro da secretaria de Cultura, estadual e municipal, deveríamos ter comissões só para o Carnaval. Porque o Carnaval é uma indústria, mas não uma indústria que aparece nos últimos 4 dias. Essa questão de liberar dinheiro no final é justamente para quem não tem conhecimento. O produto é apresentado nos últimos quatro dias, mas é resultado de um trabalho de um ano inteiro. Nós precisamos mudar essa visão com a Cultura. Vida numa cidade é cultura”, disparou.
Conforme o vereador a Capital sul-mato-grossense poderia faturar alto conquistando para si o títulor de relizadora do maior Carnaval do Centro-Oeste. “Precisa entender a Cultura como fonte agregadora de valor, lazer, trabalho. Traz problema? Traz incômodo? Traz, gente! Mas nós precisamos mitigar, precisamos controlar isso, senão nosso Carnaval não vai crescer. Nós estamos numa Capital e poderíamos ter o maior Carnaval do Centro-Oeste, isso agrega, o Carnaval é turismo. Então, enquanto a cidade está parada para descansar, ela está gerando riqueza”, acrescentou, explicando que o crescimento do Carnaval não é problema, pois nos grandes centros a lotação da cidade não é vista como um problema.
“A Cultura tem que ser tratada como se trata a indústria, como se trata o comércio. Ele é uma agregadora de valor. E outra coisa que a gente não fala, ela é saúde mental. O momento que o cidadão tem de relaxar, se divertir. Obviamente que vai ter problema. Por isso é importante Valdir, ter uma Comissão para tratar isso de maneira mais séria, mais profissional e tentar mitigar, mas tentar achar um local ideal, olha, se a gente quer um Carnaval que vai crescer, esse local ideal nunca vai existir. Porque, quando a gente tiver sucesso, 20 mil vai passar para 60 e vai passar para 1 milhão de pessoas e isso vai trazer riqueza para Campo Grande”, completou André Luiz, tendo sua fala endossada pelo vereador Ronilço Guerreiro (Podemos).
O vereador Beto Avelar (PSD), defendeu que os desfiles devem continuar na Esplanada. “A população é o principal interessado aqui. Nós temos 7 regiões aqui em Campo Grande. Cada ano que passa na Esplanada vem sofrendo um acúmulo de pessoas. Esse ano não teve tanto por conta das chuvas, mas a previsão era de um número maior. Porque não podemos levar esse Carnaval também para as 7 regiões? No meu entendimento, a Esplanada tem que continuar, porque é uma cultura campo-grandense que está enraizado na população, mas porque também não levar os blocos para os bairros e outras regiões?”, opinou.
A vereadora Luiza Ribeiro apontou que a narrativa de que o Carnaval na Esplanada era prejudicial ao espaço cultural, foi derrubada pelo relatório apresentado pela PM. “Nas palavras do nosso comandante do policiamento, nós ouvimos que tivemos pouco problema. Alguns podem pensar que essa coisa da chuva atrapalhou, mas não foi verdade, nós também tivemos recorde de presença no Carnaval. Temos que festejar e agradecer quem vai para a rua, quem organiza. É uma festa importante da nossa cidade. Tem ajustes para fazer, mas muitas das reivindicações têm sido atendidas conforme o tempo passa. O lugar de fazer a festa do Carnaval é onde a gente vai encontrando o jeito para fazer. Não é o ideal sempre, né?”, sustentou.
Ribeiro explicou ainda o porquê a Esplanada é o local ideal para a festa tradicional dos blocos campo-grandense. “Estamos lá numa área de Cultura, fazendo a festa dos Blocos aqui pertinho do Centro, em quase todas as cidades do país esses lugares realmente reúnem a festa do Carnaval. Acho que deve permanecer, devemos fortalecer. Do ponto de vista da proteção do Patrimônio, a gente ouviu aqui falar o Comandante, que não houve depredação, assim como não tivemos em outras épocas. A ocupação daquele espaço público de cultura combina com o Carnaval, assim como a Praça do Papa... são espaços que se consolidaram . Talvez a gente recuperar mais um espaço, que é o Carnaval das bandas, aquele que ocorria na Fernando Corrêa da Costa. Essa festa tem que ser valorizada e cada vez mais realizada. Não vejo Carnaval como um problema, pelo contrário, vejo como uma grande vantagem a Campo Grande”, completou.
Diego Maciba, fundador do Bloco Sujo e Bloco do Reggae, que chegou à Esplanada Ferroviária em 2015, revelou que na época o Bloco tinha apenas 15 pessoas, ocasião em que o Cordão Valu (um dos blocos mais tradicionais da Capital), tinha 200 pessoas. “A Esplanada é um local fenomenal para receber, fácil acesso, amplo. Precisa de melhoras, claro. Para toda reclamação que a população tiver, que se tenha uma ação do poder público para amenizar esse problema. A Esplanada nos recebe bem, o que ela precisa é ser adequada: mais lixo, mais banheiro e o monitoramento”, opinou.
Diogo Tadeu, realizador do Bloco Farofa com Dendê, disse que os blocos vão ocupar outros lugares nos bairros periféricos, mas as atividades na Esplanada devem ser mantidas. “Porque aquilo é uma identidade do Bloco. Muitas pessoas querem os Blocos nos Bairros, mas também tem o direito da população que quer ir a um bloco do Centro. E ali a Esplanada é um local tombado? Ok! Mas vou dar um exemplo do Carnaval de Olinda, que a cidade inteira é tombada. E tem política, tem solução, para se fazer o Carnaval e respeitar a população”, defendeu. Diogo ainda lembrou que apesar de estar sendo defendido na Audiência Pública, que os moradores da Esplanada são contrários ao Carnaval no local, nos dias de festas, porém, os moradores abrem suas casas e fazem delas pontos de vendas, se tornando importante a festa para geração de renda dessas famílias.
Diogo criticou o episódio da proibição de que os cortejos acontecessem no Carnaval de 2023. “Foi triste a proibição do nosso cortejo, que tem haver com a característica do nosso bloco. Vou dar um exemplo aqui, o povo da Igreja proibiu de passarmos com nosso cortejo. E se eu, como população, ficasse indignado e no dia da Marcha com Jesus, eu os proibisse de passar na frente do meu terreiro, por que eu não concordo? Entendeu? O que a gente quer é respeito. É uma semana e o Carnaval acaba às 23h. 23h30 não tem mais ninguém ali. É só isso. A sociedade é para todo mundo. Não é só para a Igreja e não é só para os foliões”, apontou.
Ana Maria, membro do Bloco Calcinha Molhada, defendeu que os blocos são feitos por famílias e criticou que em 2023 se repetiu a violência da Polícia Militar contra os foliões ao término do horário do Carnaval. “Foi dito muito para a gente que esse ano seria diferente. E aí quando aconteceu o Carnaval não foi nada diferente. Tiverem dias, inclusive, que o Carnaval se encerrava às 23h e eram 23h10 já estavam sendo atirados balas de borracha nos foliões. Então, eu também quero dizer que vários momentos eu ouvi dizer aqui, que o Carnaval é para as pessoas de bem ou para as famílias. Eu quero dizer que todos nós somos pessoas de bem e todos somos famílias e temos famílias. Não é só alguém que coloca religião ou com religião cada um tem a sua. Então, isso também quero deixar bem colocado, que todos nós temos esse direito, ainda mais pelo Carnaval ser a maior expressão cultural do nosso país”, disse.
Ana lembrou que a retirada do Carnaval da Esplanada não se sustenta, até mesmo pelo relatório da PM, que apontou que não houve ocorrências. “Não consigo ter esse entendimento, sendo que o próprio comandante da Polícia disse que não tiveram praticamente nenhuma ocorrência e nem depredação”, destacou.
Representando Associação dos Blocos, Bandas, Cordões e Corsos Carnavalescos e Cultural de Campo Grande (Ablanc), Oscar Martinez, explicou que a entidade já não desfila na Esplanada desde 2019, em razão de ter acolhido um pedido de um bloco carnavalesco chamado Nada Sobre Nós, Sem Nós – que reúne pessoas com deficiência. “Sensível a essa situação, a Ablanc mudou o local do seu desfile para próximo aos correios, depois da Rua Maracaju, atendendo essa necessidade da acessibilidade”, revelou.
Marilene Pereira de Barros, presidente da Liga das Entidades Carnavalescas de Campo Grande (Lienca), defendeu que o Carnaval ganhará propulsão em razão dessa antecipação do debate sobre a festa tradicional, mas não falou sobre os Blocos Carnavalescos da Esplanada.
O PODER PÚBLICO
Representando a Fundação de Cultura do Estado (FCMS), a presidente do Bloco Cordão, Silvana Valu, destacou a necessidade de se organizar o Carnaval com mais antecedência, classificando o momento da atual gestão como um divisor de águas.
“Precisamos organizar o Carnaval com mais antecedência. Realmente, por uma série de questões, esse ano, tudo foi organizado a toque de caixa e não houve tempo hábil para discutir o que era necessário. Mesmo assim, tentamos fazer, dentro do possível, o que deu para fazer. Estamos abertos a essa nova discussão”, discursou.
"Governo e prefeitura, tentamos fazer dentro do possível e mesmo em pouco tempo conseguimos construir o Carnaval de Campo Grande. Neste ano, o governo do Estado entrou como correalizador do Carnaval de Campo Grande. Isso é muito importante! Quando o poder público reconhece a importância da festa para o município, isso nos dá força. Então, o governo do estado entrou como co-realizador dos Blocos Independentes e investiu R$ 800 mil no Carnaval do Mato Grosso do Sul. Então, nós entendemos que nessa nova gestão e dizendo aqui em nome do presidente Max Freitas, nós estamos abertos a essa nova discussão e acho que a partir daqui uma divisão de águas, do que foi o Carnaval antes e do que é o Carnaval que está sendo realizado em Campo Grande", mirou.
"Quando a gente fala de Esplanada, estamos falando de um lugar que virou a representação do que é o Carnaval", disse Valu.
Valu disse ainda que o campo-grandense abraçou esse Carnaval. "O que nós precisamos é conscientizar e conscientizar os vereadores, as autoridades e parte da população, de que esse Carnaval merece respeito, de que esse Carnaval não pode ser criminalizado e não pode ser tratado com um Carnaval onde as pessoas acham que ali há apenas badernas. O que nós precisamos é uma sensibilização em relação a nossa festa. Nós precisamos, de repente, levar essa festa para as escolas e outros lugares onde a gente possa formar público, vereador Valdir".
A secretária de Cultura e Turismo de Campo Grande (Sectu), Mara Bethânia Gurgel, disse que o Carnaval de 2023 foi pensado em conjunto com as diversas instituições da cidade e com o apoio essencial do governo do Estado.
“A gente procurou tomar todos os cuidados possíveis para que a gente pudesse realizar o melhor Carnaval. E, diga-se de passagem, nos últimos 5 anos, esse foi o melhor, já temos isso apontado”, sustentou Mara.
Acertiva, a chefe da Sectur, defendeu que apesar de haver moradores na Esplanada, o local é uma área de interesse cultural de todos os campo-grandenses e não de um grupo específico. “Hoje nós temos problemas com a Esplanada, entendo a demanda dos nossos moradores, mas não posso esquecer que ali é uma zona de interesse cultural do município. A gente não pode esquecer disso, mas a gente tem que ouvir vocês e tentar com isso procurar encontrar o melhor caminho, para que a cultura esteja preservada, para que o Carnaval continue existindo”, defendeu, apontando que o Carnaval gerou renda em 2023 e impulsionou o turismo da cidade.
“Hoje, quero salientar, que Campo Grande tem o maior Bloco de Rua de Mato Grosso Sul. O Carnaval é a maior festa popular do mundo e precisa ser visto assim, para o Carnaval se evidenciar na nossa Capital”, completou.
Por fim, uma comissão mista foi montada para discutir se o Carnaval fica ou se será expulso da Esplanada.
REPASSES
Em 2023 a Fundação de Cultural de Mato Grosso do Sul (FCMS) foi a grande patrocinadora do Carnaval. A entidade cultural repassou R$ 800 mil para a Liga das Entidades Carnavalescas de Campo Grande MS (LIENCA). Eis a íntegra. Além dos recursos, toda estrutura montada no Sambódromo foi fornecida pela FCMS.
A Secretaria de Cultura e Turismo de Campo Grande (Sectur), disse que repassou um subsídio de R$ 440 mil às 8 escolas que desfilam na Capital, sendo que apenas 7 foram julgadas.