Família confirma doença sem cura no cérebro do ator Bruce Willis
Há um ano astro afastou-se dos estúdios de Hollywood devido às crescentes dificuldades cognitivas
17 FEV 2023 • POR • 09h29
O ator Walter Bruce Willis, conhecido apenas como Bruce Willis, de 67 anos, foi diagnosticado com demência — uma lesão irreversível no cérebro — que há um ano fez o astro se afastar dos estúdios de Hollywood devido às crescentes dificuldades cognitivas. A família Willis emitiu um comunicado oficial na 5ª.feira (16.fev.23).
"Desde que anunciamos o diagnóstico de afasia de Bruce, na primavera [boreal] de 2022, sua condição progrediu e agora temos um diagnóstico mais específico: demência frontotemporal [DFT]", afirmou a família em um trecho.
A esposa de Willis, Emma, apresentou uma explicação sobre a doença no texto. "DFT é uma doença cruel da qual muitos de nós nunca ouvimos falar e pode atingir qualquer pessoa. Para pessoas com menos de 60 anos, a DFT é a forma mais comum de demência e, como o diagnóstico pode levar anos, a DFT provavelmente é muito mais prevalente do que sabemos. Hoje não há tratamentos para a doença, uma realidade que esperamos que possa mudar nos próximos anos", pontuou.
Segundo ela, o ator ficaria alegre de ver o seu caso dando visibilidade para casos semelhantes da doença. "Sabemos em nossos corações que, se ele pudesse hoje, gostaria de responder trazendo atenção global e uma conexão com aqueles que também estão lidando com esta doença debilitante e como ela afeta tantos indivíduos e suas famílias... Bruce sempre encontrou alegria na vida e ajudou todos que ele conhece a fazer o mesmo", completa em texto.
O QUE DIZEM OS MÉDICOS?
De acordo com um estudo publicado em outubro de 2022 na revista científica Nature Communications, a DFT é responsável por 5 a 10% dos casos de demência. O tipo mais comum de demência é o Alzheimer.
O neurologista Gustavo Franklin explicou que, como diz o nome, a demência frontotemporal afeta as regiões frontal e temporal do cérebro. Além de dificuldades de linguagem (mais associada ao impacto na região temporal), a demência frontotemporal pode se manifestar no comportamento (ligada à região frontal).
“No início do quadro, pode haver alterações no comportamento, como a expressão de linguagem mais sexual. A desinibição é muito característica”, explica Franklin, médico do Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba (PR).
“E essas alterações comportamentais podem levar a diagnósticos errados, como ansiedade, depressão, bipolaridade e esquizofrenia. Já na linguagem, a pessoa é levada como desatenta, preguiçosa, ansiosa.”
Coordenadora do setor de neurologia do Hospital Santa Lúcia, em Brasília (DF), a médica Thaís Augusta Martins esclarece que o diagnóstico dessa demência nunca ocorre em uma primeira consulta, mas ao longo do tempo. O diagnóstico clínico — ou seja, a partir do atendimento do próprio médico — é a principal forma de detecção da doença, mas ele pode ser complementado por exames de imagens, análise genética e testes cognitivos.
Inclusive, é essa combinação de informações que permite diferenciar o tipo de demência — por exemplo, a DFT do Alzheimer.
“Você vê que o diagnóstico (de Bruce Willis) só fechou de fato agora. E é realmente ao longo do tempo que a gente vai fechando o diagnóstico, com a evolução do quadro, podendo chegar ao nome e ao sobrenome da doença”, diz a médica, também diretora de assistência médica do Hospital Santa Lúcia.
O QUE CAUSA A DOENÇA?
A doença é progressiva, o que significa que não é possível revertê-la e que o quadro tende a se agravar com o tempo. Apenas os sintomas podem ser tratados.
“Não tem nenhum medicamento que mude a evolução natural da doença. A gente dá medicamentos para a parte comportamental e terapias multidisciplinares, como fisioterapia e fonoaudiologia", aponta Thaís Augusta Martins.
Frequentemente, a demência frontotemporal (DFT) se manifesta no período dito pré-senil, ou seja, antes dos 60 anos — mais precisamente entre os 45 e 65 anos. Essa é uma característica diferente do Alzheimer, que tende a aparecer mais tarde.
O estudo publicado no ano passado na Nature Communications afirmou que, em cerca de 15% dos casos, a DFT é relacionada a uma mutação específica em um gene. De acordo com os médicos entrevistados pela reportagem, essa forma de demência tem um forte fundo genético — até mais que no Alzheimer. Por isso, uma mesma família pode ter mais de uma pessoa manifestando a DFT ao longo do tempo.
“Já foram descobertos inúmeros genes associados à demência frontotemporal. Nem sempre, no entanto, os genes determinantes são identificáveis — então a gente não preconiza a investigação (genética) para quem não tem casos na família", diz Franklin.
Para a família de quem tem este tipo de demência, Martins lembra de outro desafio: lidar com as alterações manifestadas por uma pessoa querida.
“O paciente começa a fazer coisas inapropriadas, a falar coisas inapropriadas em público. É um sofrimento para a família, é difícil de aceitar. A família fala: poxa, ele nunca falaria isso, ele nunca xingaria”, exemplifica a médica.
“O paciente também vai ficando cada vez com menos fala, e a família sofre muito com isso também.”
A família de Willis, na nota divulgada nesta quinta-feira, escreveu esperar que a situação do ator ajude a conscientizar sobre a condição.
“Hoje, não há tratamentos para a doença, uma realidade que esperamos que possa mudar nos próximos anos. Conforme a condição do Bruce avança, esperamos que qualquer atenção da mídia possa focar em jogar luz sobre essa doença, sobre a qual é preciso muito mais conscientização e pesquisas.”
“Bruce sempre acreditou em usar a voz dele no mundo para ajudar outras pessoas e a chamar a atenção para assuntos importantes, tanto no público quanto no privado”, escreveram as filhas, a esposa e a ex-esposa do ator.
CARREIRA
Naturalizado norte-americano, Bruce Willis nasceu em 19 de março de 1955 na Alemanha Ocidental. Ingressou na arte em 1978 e persistiu ativo até 2022. Ganhou destaque como ator e produtor. Sua filmografia é uma das maiores de Hollywood. Em 2006 ganhou uma estrela na Calçada da Fama.
Filho de David Willis, soldado americano que foi enviado em missão para a Segunda Guerra, e de Marlene, uma garçonete alemã.
Bruce nasceu em território alemão e após a Guerra mudou-se com a família para os Estados Unidos, indo morar em Penns Grove, um bairro italiano, no estado de New Jersey, onde Bruce passou a adolescência.
Bruce foi aluno da Penns Grove Hight School quando participou do grupo de teatro. Depois de se formar no ensino médio em 1973, Bruce trabalhou como segurança em uma Usina Nuclear de Salem, mas contraiu pneumonia e ficou três meses internado.
Depois de recuperado, voltou a trabalhar e juntou dinheiro para fazer um curso de interpretação. Matriculou-se no Programa de Teatro na Montclair State University.
Bem-humorado e brincalhão, Bruce tinha gagueira na juventude, o que não o impediu de conquistar amigos. Ao subir no palco, a guagueira desaparecia. Em 1977 mudou-se para Nova Iorque para tentar carreira de ator.
Na época achou espaço em peças de teatro e algumas pontas no cinema e na televisão, entre elas a série “Miami Vice”, nos anos 80.
Seu 1º papel de maior destaque foi na série de TV 'A Gata e o Rato'”' (1985-1989), ao lado de Cybill Shepherd. Nos bastidores, Bruce e Cybill não se entendiam, mas o contrato de cinco anos mudou sua vida.
Em 1988, durante a gravidez de Cybill, em uma pausa nas gravações, Bruce protagonizou o policial John McClane em “Die Hard” (Duro de Matar), era o início de uma série que viria renovar o cinema de ação.
Em 1990 atuou em “Duro de Matar 2” e 1995 em “Duro de Matar – A Vingança”. Em 2007 a série foi ressuscitada com vigor em “Duro de Matar 4.0”, e em 2013 voltou com “Duro de Matar: Um Bom Dia, Para Morrer”.
Após a primeira aventura de Duro de Matar, Bruce atuou no drama “Fantasmas de Guerra” (1989), e em seguida emprestou sua voz para o bebê Mike na comédia “Olha Quem Está Falando” (1990).
Bruce Willis tornou-se um dos principais atores dos filmes de ação das últimas décadas, ao lado de Charles Bronson e Steve McQueem.
Aos poucos Bruce foi se firmando como um dos nomes mais cultuados do cinema. É um caso singular de ator que mantém o prestígio quando é coadjuvante e a popularidade quando é astro. Ele tornou-se o nome dos filmes de ação em Hollywood emplacando diversos sucessos. Veja a lista de filmes que consquistaram destaque mundial:
Duro de Matar (1988)
Tempo de Violência (1994)
Os Doze Macacos (1995)
O Quinto Elemento (1997)
Armageddom (1998)
O Sexto Sentido (1999)
Corpo Fechado (2000)
Lágrimas do Sol (2003)
A Cidade do Pecado (2005)
Xeque-Mate (2006)
OUTROS GÊNEROS
Apesar de ter ficado conhecido como astro da ação, o 1º filme protagonizado por Bruce foi a comédia, Encontro às Escuras (1987).
Ele também estrelou as comédias A Morte lhe Cai Bem (1992):
Fez Moonrise Kengdom (2012) e Duas Vidas (2000). Atuou também em dramas, como A História de Nós Dois (1999) e A Cor da Noite (1994).
Em 2010, Bruce fez uma participação no filme “Os Mercenários 2”, quando fez uma rápida cena ao lado de Schwarzenegger e Sylvester Stallone.
PRÊMIOS
Bruce Willis recebeu diversos prêmios por sua atuação, entre eles, o Prêmio Globo de Ouro pela atuação na série de TV “Moonlighting” (1987) e o Prêmio Emmy por sua participação na série “Friends”.
OUTRAS CRISES DE SAÚDE
Em fevereiro de 2018 o ator sofreu um pré-infato no set de filmagens do longa Brooklyn – Sem Pai Nem Mãe (2019). Seus mais recentes filmes de ação foram: Hard Kill (2020) e Breach (2020).
FAMÍLIA
Bruce Willis foi casado durante 13 anos com a atriz Demi Moore com quem teve três filhas: Rumer Glenn Willi, de 34 anos, Scout LaRue Willis, de 31 anos e Tallulah Belle Willis, de 29 anos.
Essas 3 primeiras filhas de Bruce tiveram estreias no cinema e nas passarelas.
Em 2009, Bruce se casou com a modelo Emma Heming, com quem teve outras duas filhas: Mabel Ray Willis, de 10 anos e Evelyn Penn Willis, de 8 anos. Eis publicações de Bruce com as caçulas: