Após 'bom' aceno de Riedel, desmonte na FCMS gera aflição na Cultura
11 JAN 2023 • POR • 21h19Uma semana após Eduardo Riedel (PSDB) acenar que pretendia fazer uma gestão pró-cultura, diferente do que fez seu antecessor Reinaldo Azambuja, o secretário de Estado de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania (SETESCC) Marcelo Miranda, ordenou o desmonte de salas no Memorial da Cidadania e da Cultura Popular Apolônio de Carvalho, local onde está instalado a Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS).
O prédio tombado como patrimônio histórico de Mato Grosso do Sul pelo Conselho Estadual de Cultura, está tendo uma “reorganização” para abrir espaço à robusta equipe da SETESCC.
A reportagem foi acionada por diversos representantes culturais aflitos com as modificações que incluem o desmanche de gabinetes: “Não nos falaram nada, só estão desmontando tudo e carregando”, comentou uma fonte.
“Desde ontem está rolando uma conversa sobre o desmonte do Apolônio. Ninguém ainda sabe ao certo, mas funcionários e as repartições, desde hoje de manhã estão sendo transferidas para um andar só”, acrescentou outro. “Todas as fundações vem para cá. Isso é que estão falando, não pode isso”, salientou outro.
As demais fundações citadas são: Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul (Fundtur) – atualmente instalada na Av. Afonso Pena, 7000, Parque das Nações Indígena. E a Fundação de Desporto e Lazer de Mato Grosso do Sul (Fundesporte) – atualmente instalada Avenida Mato Grosso, 5778, no Carandá Bosque.
A narrativa dava conta de que a intenção do secretário era levar todas as Fundações para o prédio pertencente à Cultura.
Diante das várias narrativas que chegaram à reportagem, a equipe do TeatrineTV se deslocou ao prédio público cultural na tarde desta 4ª.feira (11.jan.23). No local, havia cadeiras e computadores empilhados em um dos andares. Numa sacada de varanda, dezenas de cadeiras estavam amontoadas.
A cena de amontoados se repetia na garagem onde centenas de cadeiras estavam empilhadas. Em outros andares, homens carregavam muitos materiais em carrinhos de supermercados. Entre os objetos havia computadores e fichários do que pareciam ser processos administrativos de projetos culturais. Isso no quinto e quarto andar, onde antes estavam a gerência da FCMS e o gabinete.
Gabinetes inteiros estavam de fato sendo desmanchados, ainda sem muitos esclarecimentos. “Iniciou-se nesta quarta-feira (11) a reorganização estrutural e administrativa do local que comporta os setores jurídico, administrativo, de comunicação da pasta, além das Subsecretarias vinculadas e a Fundação de Cultura do Mato Grosso do Sul”, explicou a assessoria da Setescc em nota logo após nossa visita. “A realocação dos setores se fez necessário para facilitar o fluxo de trabalho e atender melhor todos os servidores e a população que busca os serviços prestados pela SETESCC”, completou.
Apesar da nota técnica, havia muitos outros questionamentos. Tais como: “o Museu da Imagem e Som (MIS-MS) e o Museu do Apolônio sofrerão interferências?”, escreveu ao TeatrineTV uma artista bastante angustiada com as mudanças sem comunicado.
Procuramos, portanto, o secretário responsável pela ordem de modificação. No início da noite desta 4ª.feira, por telefone, Marcelo Miranda garantiu que mudança visa exclusivamente organizar os setores jurídico, administrativo e de comunicação da Setescc em um só andar, para facilitar, segundo ele, os trabalhos da Setescc e da FCMS no prédio. “O que está acontecendo de imediato, o que você viu lá é um reordenamento das salas. Nós não temos interesse nenhum em levar lá para o prédio a Fundação de Esporte, nem a Fundação de Turismo, porque elas estão muito bem instaladas. Aliás, a possibilidade maior de a gente ver com o governo é de um remanejamento das secretarias para outro local. O que você viu lá é um reordenamento das salas administrativas. Não houve nenhuma interferência em nenhum dos museus e em nenhuma das amostras que tem lá. Nem o espaço do seu Apolônio não mudou nada lá”, garantiu Marcelo.
Questionado sobre a informação de que havia um projeto oferecido para modificações no MIS, que ainda não havia sido apresentado à Cultura, Marcelo rebateu: “O que tem em relação ao Museu, que é um consenso na nova administração, é que aqueles museus são maravilhosos, que precisamos dar visibilidade para eles. Mas o que você viu hoje lá é uma mudança administrativa das salas, não houve nenhuma interferência em nenhum dos espaços que tem amostras... Agora, que a gente precisa estudar uma forma de dar mais visibilidade para o Museu, não tenho dúvida”, observou.
Para o secretário, a chegada da Setescc ao prédio não visa retirar a autonomia da Cultura sobre o prédio. “De forma alguma, como a Cultura perde espaço se a Setescc é uma secretaria que tem exatamente como função, melhorar as condições de trabalho da equipe da Fundação de Cultura. Nós estamos ali, de forma alguma para sobrepor, ou para diminuir o trabalho da Cultura. A equipe que está sendo montada, ela tem um objetivo único, que é de melhorar as condições de trabalho na Fundação de Cultura. Tanto que os espaços estão reordenados, exatamente para que haja espaço específicos para a Fundação de Cultura. Porque, uma coisa que a gente percebeu era uma mistura entre os espaços. E a gente entende que a Cultura tem que ser reorganizada de forma própria. Nós estamos diminuindo o espaço do gabinete para que haja mais e espaço para a Cultura”, detalhou.
Como mostramos aqui no TeatrineTV, Max Freitas foi nomeado Diretor-presidente da Fundação de Cultura (FCMS). O nome dele foi confirmado em publicação extra de ontem (10.jan.23), no Diário Oficial de MS. Mesmo antes de Max ter ido ao prédio, as salas já estão sendo desmontadas, sem que houvesse contribuição de sugestão organizacional do chefe da Fundação, agora, única representante exclusiva da Cultura. Tal atitude foi vista pelo setor cultural como um aceno negativo do governo aos trabalhadores da arte.
DEMANDA EXTRA
Ao ser questionado se haveria na programação de sua gestão a cobrança de concurso para novos servidores à Fundação de Cultura de MS, Miranda disse que está na pauta, mas que ainda não pode adiantar nada sobre isso. “Eu concordo contigo em relação a necessidade de concurso próprio, para que a Fundação tenha um quadro próprio de técnicos, que tenha a sua estabilidade e sua segurança para trabalhar pela Cultura do Estado. Isso está na pauta, tá? Mas não posso adiantar nada, porque depende de vários fatores, inclusive da análise do quadro próprio... Nesse momento os servidores cedidos estão voltando para suas unidades, exatamente para que possa ser mapeado a necessidade de servidores em cada fundação”, argumentou.
Miranda disse que pretende ficar no prédio Apolônio de Carvalho e que estará com o gabinete aberto ao Fórum de Cultura. "Eu fiquei quase 8 anos à frente de uma fundação no governo e essa foi uma grande característica nossa. E é uma coisa que o governador Eduardo Riedel tem cobrado muito da gente. Ele costuma dizer: ‘que ouve mais, erra menos’. Então, acabando essa fase inicial, de organização, inclusive espaciais, que você viu ali no prédio, a gente pretende ouvir os artistas. Ouvir toda a comunidade. Primeiro que é uma caraterística nossa, e segundo que é uma determinação do governador. A gente pretende fortalecer o Fórum de Cultura do Estado, que é órgão fundamental na gestão da política pública. Agora, independente disso, estamos à disposição dos artistas que queiram nos trazer sugestões, críticas para formulação de políticas públicas que nos tragam resultado, estamos a disposição", finalizou.