"O novembro é importante, mas somos negras e pretas 365 dias no ano", diz Romilda Pizani
3 DEZ 2022 • POR • 21h29Celebrando as ações para conscientização e combate ao racismo em Mato Grosso do Sul, realizadas ao longo do mês de novembro, na noite da 5ª.feira (30.nov.22), a educadora social e presidenta do Fórum Permanente das Entidades do Movimento Negro (MS), Romilda Pizani, reuniu amigos e convidados para uma roda de samba no Bar Laricas Cultural, na Rua Antônio Maria Coelho, Vila Planalto, em Campo Grande.
“Esse fechamento é muito importante, porque nós conseguimos contribuir com que várias pessoas de vários lugares e vários tons de pretos tivessem conseguido o espaço para falar e se identificar aqui. Estamos aqui festejando, está lindo”, disse ela, em entrevista exclusiva ao TeatrineTV.
Segundo Romilda, foram 30 dias de atividades, indo às escolas, comunidades quilombolas, levando arte e formando grandes rodas de conversa sobre o avanço de estratégias e formulação de políticas públicas para combater o racismo. Apesar de celebrar as atividades do mês, Romilda alertou que o combate ao racismo precisa ser cotidiano para ser efetivo. “É um movimento muito intenso ao longo do mês de novembro, mas sempre destacamos que novembro é importante, mas nós somos negras e pretas 365 dias no ano. O mês serve para refinar a nossa existência e resistência nesse sistema racista estrutural que precisamos mudar. Para isso, serve o fortalecimento em rede e a troca de experiências”, apontou a ativista.
Para Romilda, nesse ano, as ações tiveram como um dos pontos centrais de debate o colorismo – tipo de discriminação pela intensidade da cor da pele. A prática é registrada em países que sofreram a colonização europeia e em países pós-escravocratas.
“A roda de conversa sobre colorismo foi linda. Pessoas dos mais diversos espaços, dos mais diversos lugares estiveram aqui se sentindo com liberdade para falar de suas experiências, fazer trocas. Eles deram depoimentos dizendo que saiam daqui fortalecidos”, contou.
Outro tema bastante abordado nas rodas de conversa nesse ano passa pelo reconhecimento da miscigenação. “Falar sobre essa miscigenação e como nós podemos acolhê-las e dar a elas o direito de voz nos debates. É isso que nós consideramos importante, independente da pigmentação de pele, porque, não somos nós que vamos dizer se a pessoa é preta, ou não. É autoidentificação! E a partir do momento que ela têm essa consciência para se auto identificar, isso, por si só, já é um avanço. E esse debate que nós estamos fazendo ao longo desses últimos tempos, de forma tão intensa, faz parte do reconhecimento da miscigenação e de como nós precisamos olhar para isso, agregando essas pessoas e dando à elas o direito de voz e mostrando que nossa ancestralidade está presente, independente do tom de pele”, explicou.
A ativista disse que o mês foi de intenso trabalho com o sentimento de esperança. “Essas ações objetivam um futuro melhor, para que os nossos tenham um futuro melhor. Encerrar o mês da Consciência Negra com esse sentimento de esperança e com essa devolutiva dos participantes é muito importante”, avaliou.
Foto: @teroqueiroz | @teatrinetv
Para o ano de 2023, Romilda disse que a causa negra deve trabalhar para conquistar avanços legais buscando pautar a Lei 10639/03, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação e inclui no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da presença da temática "História e Cultura Afro-Brasileira e Africana" e a Lei Nº 11.645, de 10 março de 2008, que no “Art. 26-A. determina que estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, devem obrigatoriamente oferecer estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.
“O debate deve ocorrer no sentido de conscientizar os profissionais da educação para que abracem essa pauta com a gente, da importância de oferecer uma visão histórica não colonial”, apontou Romilda.
Outro ponto chave para o próximo ano, conforme Romilda, é estabelecer uma conexão com os profissionais da Segurança Pública para o combate ao extermínio de jovem pretos em comunidades carentes sul-mato-grossenses. “Essas são as principais pautas, não só para o ano que vem, mas infelizmente, para o resto da vida. Porque, a educação transforma e a segurança nos mantém vivos”, finalizou.
Intitulada Roda de Samba, "Alegria, Alegria!" teve como vocalistas: Pretah, Lana, Isa, Aline Rios, Marta Cel e Karla Coronel. O evento também contou com a presença de Celminha Prestígio, da Rainha da escola de samba Cinderela Kerlen Souza e da Corte do Carnaval de Campo Grande.
Parte o elenco da Roda de Samba feita em celebração do Mês da Consciência Negra, no Laricas Cultural
Veja um vídeo abaixo com trechos da festança: