Anônimos viram obra de arte e ancestralidade salta às telas em exposição na Capital
1 DEZ 2022 • POR • 20h27Foi aberta na 3ª.feira (29.nov.22), na Galeria de Vidro da Plataforma Cultural, de maneira concomitante, as exposições: “Intervenções Pandêmicas”, de Leonardo Mareco (o Leo Mareco) e “Alumia”, de Kim Matos. O vernissage aconteceu às 19h, com direito à música ao vivo e performance.
Mareco e Kim foram contemplados no 1º Prêmio Ipê de Artes Visuais – política pública cultural da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Sectur) de Campo Grande, que oferece uma quantia em dinheiro e o espaço para exposição e comercialização das obras durante uma quinzena.
As exposições de Kim e Leo seguem abertas à visitação em horário comercial das 2ª.feiras às 6ª.feiras, até 14 de dezembro.
Mareco tem 25 anos e iniciou o trabalho na arte ainda muito jovem. “Eu faço trabalhos na rua desde quando me entendo por artista. Comecei com a pichação e através da pichação fui descobrindo novas formas de estar intervindo na rua”, introduziu.
O artista explicou que, entretanto, viu ser reforçadas as características do seu trabalho, após conseguir fazer uma graduação na área. “Fui procurar novas formas de me especializar e fiz faculdade de Artes Visuais. Foi aí que meu trabalho mudou drasticamente, com toda essas informações e conhecimentos que a faculdade nos traz”, apontou ele que se formou na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).
Em “Intervenções Pandêmicas”, Mareco mistura sua conhecida técnica de lambe-lambe a registros fotográficos. Com isso, o artista diz que promove uma obra interativa, em que pessoas anônimas passam a fazer parte da obra de arte, em alguns casos, simplesmente por estarem passando pelo local. “Eu fico de longe registrando as histórias que posso contar através das interações. Essa é 1ª vez que trago tudo para cá, reunido, onde as pessoas vão poder apreciar. Quem quiser também adquirir a obra, pode nos procurar”, explicou.
A reportagem do TeatrineTV conheceu uma das fotografadas por Leo, a comerciante Izis, que demonstrou surpresa ao saber que havia virado obra de arte. “Nossa, que bacana isso. Eu vou lá visitar. Vou avisar meu pessoal”, disse ela, que foi fotografada próximo ao seu restaurante “Saizeria’, na Avenida Júlio de Castilho. “Eu nem vi quando fizeram, mas ficou lindo”, completou.
Mareco explicou que as pessoas são parte da obra de fato, mas o foco está em como o lambe-lambe às atinge. O artista é conhecido por fazer fortes críticas políticas e sociais em seus lambe-lambe e segue a mesma alinha o apresentar a obra interativa.
O artista vem ganhando reconhecimento nacional por meio de seu trabalho. Em 2022 Mareco foi indicado para o 1º Prêmio Megafone de Ativismo Brasileiro, promovido pelo Greenpeace e pelo WWF, e foi um dos selecionados para a CUÍCA, primeira residência de artistas de lambe-lambe do Brasil.
Kim Matos também é formada em Artes Visuais – licenciatura pela UFMS. Conta em seu currículo com uma exposição no Museu de Arte Contemporânea do Mato Grosso do Sul, em conjunto com o coletivo As Descendentes de Lídia. Também fez residência artística pelo Estúdio Laranja Orgânica (SP) e foi convidada para a Conferência da Juventude pelas Ações Climáticas do Mundo (LCOY), ações da ONU versão Brasil.
Em “Alumia”, Kim propõe telas com pinturas a óleo que fez durante a pandemia. Ela classificou o período como de extrema reflexão. Disse que descobriu o tema das obras, durante uma viagem com amigos, quando se conectou a sua ancestralidade produzindo uma carta de amor por meio da pintura. “É um feixe de luz luminoso, uma carta de amor, um pontinho de luz no meio da escuridão, no meio da turbulência. Porque Alumia nasceu em meio da pandemia, no meio de um processo de isolamento e introspecção muito forte. Todo mundo estava vivendo isso ao mesmo tempo e eu me recolhi numa esfera muito sensível. Levei meu corpo para a natureza, lá encontrei alumia, me conectei a natureza e a ancestralidade. Está tudo exposto aqui, o que encontrei de respostas”, metaforizou a artista.
Nas telas de Kim, raízes e animais são facilmente notadas. Todos eles caminham conectados ao um solo. As cores aproveitadas pela artista refletem o azul da noite que desemboca em pontos e luz.
Kim também é arte-educadora e desenvolve mentoria de arte on-line para artistas da nova era, com mais de 50 participantes de 22 estados do Brasil.
O PRÊMIO IPÊ
Ambos os artistas celebraram a oportunidade de expor em uma galeria tendo sido eles premiados para isso. “É de extrema importância destacar que muita gente nova surgiu com esses prêmios Ipês. É a 1ª vez que ganho um prêmio para expor”, avaliou Mareco.
Conforme o artista, o Prêmio atinge o objetivo das políticas públicas. “Hoje, a gente estar aí conseguindo entrar numa galeria, é muito importante, né? Ainda mais para a gente, artista periférico, artista de Rua, artista negro. A gente tem que ocupar esses espaços e é muito importante essa inciativa da Sectur, o Prêmio Ipê, para que isso fomente a arte de Mato Grosso do Sul em Campo Grande, porque artista precisa de dinheiro para viver, né cara? Essa é a realidade. Esse é o nosso trabalho. Então que tenha mais vezes [os prêmios]”, concluiu.
Complementando, Kim avaliou que graças ao Prêmio ela consegue ter uma 1ª exposição oficial. “O prêmio oportunizou isso, colocar essas histórias no mundo. E têm muitos artistas amigos que vem me procurar e perguntar como se inscrever, quando sai novos editais desses e essas coisas... Então, isso assinala a importância dessa inciativa para nossa classe”, finalizou.
SERVIÇO
As exposições “Alumia” e “intervenções Pandêmicas” começaram no dia 29 de novembro, às 19h, e vão até 14 de dezembro. Elas estão montadas na Galeria de Vidro, localizada dentro da Plataforma Cultural. O endereço é Avenida Calógeras, n.º 3.015. A entrada é gratuita.