Sesc Cultura exibe documentário "O Pantanal é Preto"
23 NOV 2022 • POR • 16h32Narrando as histórias de resistência da população negra no Pantanal sul-mato-grossense, o filme “O Pantanal é preto”, de Raylson Chaves, produzido entre 2020 e 2022 será exibido nesta quarta-feira (23.nov.22), no Sesc Cultura, na Avenida Afonso Pena, a partir das 19h30. A entrada é gratuita.
O documentário tem caráter experimental e traz imagens e fotografias do álbum da família de Raylson, que tem sua história ligada às fazendas pantaneiras dos anos 1980 e 1990.
Ao TeatrineTV, o diretor contou que a ideia para o documentário surgiu justamente quando ele olhava fotografias antigas de sua família, mas via apenas pessoas brancas para as quais seus familiares trabalharam durante muito tempo
“O filme surge a partir de inquietações sobre fotografias de famílias brancas no álbum de fotografias da minha família, que cresceu trabalhando no Pantanal sul-mato-grossense, alguns tios ainda trabalham na região, e eu sempre ouvi histórias traumáticas dessas 'casas grandes'”, pontua.
O filme busca resgatar a história dos familiares de Raylson que sempre tiveram suas vidas atravessadas por questões raciais e pela influência de um colonialismo por parte das pessoas brancas, que em geral, eram os patrões dessas fazendas no Pantanal.
Para contrapor as imagens encontradas nos álbuns de fotografia, o cineasta traz imagens e fotos de sua família e sempre com um questionamento em mente: “quem são vocês?”. Dessa forma, o documentário traz registros dos corpos negros ocupando espaços, mesmo que a branquitudade os queiram invisibilizá-los.
Ao questionar essas imagens brancas, eu resolvi trazer uma contra-narrativa que são retratos de descontração da minha avó e familiares, são corpos negros festejando”, explicou.
Raylson ainda destacou que essa exibição com uma roda de conversa após o filme é uma oportunidade para que o público repense os lugares ocupados por negros em produções audivisuais ou até mesmo no cotidiano.
“Quantos filmes de cineastas negros você assistiu no último mês? Quantos personagens negros estavam em cena, sem ser caricato? É uma oportunidade de olhar para outras imagens que não estão em cena, e pensar o porquê não querem que elas estejam em cena. E quem não quer?
E completa: “A branquitude que tem um acordo de abraçar e evocar imagens dos seus, os nossos entram na cota ou no mês de novembro só!”, conclui.
Como já mencionado, após a exibição do filme o cineasta irá participar de uma roda de conversa com o público e, além das questões raciais que aparecem no filme, também irá falar sobre produção cinematográfica em Mato Grosso do Sul, circulação e outros temas referentes ao cinema.
OUTRAS PROGRAMAÇÕES
Ainda celebrando e colocando em evidência a história dos povos negros e indígenas, o Sesc Cultura exibe, na quinta-feira (24.nov.22), a partir das 19h00, o documentário “Memórias Afro Atlências”.
O filme de 2019, dirigido por Gabriela Barreto acompanha a história do linguista negro norte-americano Lorenzo Dow Turner, que durante sua carreira registrou em fotografias e filmagens os terreiros de Candomblé, na Bahia, entre 1940 e 1941.
Já na sexta-feira (25.nov.22), o grupo Ensemble Bach 21 apresenta “Cantos do Brasil”. O grupo é ligado ao Curso de Música da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
O concerto é composto por peças de artistas brasileiros como Felipe de Almeida Ribeiro e Rodrigo Lima. Também terá canções de Milton Nascimento e Tom Jobim.
Completam o programa peças dos próprios alunos do grupo, confirmando a vocação do grupo de ser um laboratório de produção e difusão da pesquisa sobre as práticas musicais.
No sábado (26.nov.22), partir das 19h00, com o objetivo de evidenciar as riquezas e potenciais indígenas, será realizada a roda de conversa “Origens: um encontro de escrita e poesia”.
Irão participar a escritora e poetisa Eliane Potiguara, uma das selecionadas para o projeto internacional Mil Mulheres para o Prêmio Nobel da Paz, a rapper MC Anarandà, e a mediação será por conta de Gleycielli Nonato.
Na sequência da roda de conversa que irá abordar a ancestralidade, poesia, escrita e empoderamento da mulher indígena, a rapper MC Anarandà irá realizar uma apresentação que resgata instrumentos tradicionais com letras que falam sobre violência contra as mulheres indígena e de gênero, bem como o preconceito étnico racial.
“Esta reportagem foi produzida com apoio do programa Diversidade nas Redações, da Énois, um laboratório de jornalismo que trabalha para fortalecer a diversidade e inclusão no jornalismo brasileiro. Confira as metodologias na Caixa de Ferramentas”.
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