Edson Clair faz homenagem a Virgil Abloh na passarela da Moda Autoral de MS (vídeo)
8 NOV 2022 • POR • 18h49Em 22 de outubro, o bailarino, diretor, coreógrafo do Grupo Funk-se e estilista Edson Clair, impactou o público ao levar 20 peças da sua marca FNK nos corpos de seus dançarinos para a passarela da 1ª Semana da Moda Autoral de Mato Grosso do Sul.
Diferentemente de uma dezena de marcas que desfilaram antes, Clair mostrou todas as peças com performances e números a luz do improviso de dançarinos e modelos que toparam o desafio. Nada foi ensaiado.
“O DNA da marca FNK é dança. Ela surgiu a partir dos figurinos do grupo Funk-se. Eu sempre fiz figurinos e sou formado em estilismo. Eu sempre trabalhei na moda, dança, moda e dança. Sempre bem misturado, sabe? Então, achei que fazer esse desfile com no formato de dança reproduziria a essência da nossa marca”, contou Clair, no hall do Armazém Cultural em Campo Grande (MS), ao repórter do TeatrineTV.
Amplamente conhecido na Capital, o estilista iniciou na dança aos 14 anos, numa discoteca caseira feita pela sua família. Desde então se passaram mais de 30 anos e Clair se transformou em um multiartista que comanda o Grupo Funk-se, uma das mais destacadas Cias de dança do Centro-Oeste, que tem como característica principal o estilo street dance (dança de rua).
Clair dedicou o desfile a Virgil Abloh, um designer e estilista negro norte-americano que quebrou barreiras e atingiu uma ascensão que mudou a indústria de luxo tradicional para sempre.
O estilista Virgil Abloh em Chicago em 2019. Seu papel na LVMH fez dele o executivo negro mais poderoso do grupo de luxo mais poderoso do mundo. Crédito: David Kasnic para o The New York Times.
Abloh influenciou radicalmente a moda masculina da Louis Vuitton. Ele também foi fundador da própria marca, Off-White.
“A coleção [que apresentei aqui] não tinha um nome específico, mas para mim foi uma homenagem póstuma a Virgil Abloh, estilista da Louis Vuitton, primeiro negro a comandar uma marca de luxo francesa, falecido em 2021 aos 41 anos. Ele era engenheiro, DJ e influenciou muito o streetwear [roupa de rua], com ideias inovadoras, rompendo com o racismo na moda”, disse Clair.
Abloh morreu precocemente em 28 de novembro em sua casa em Chicago (EUA), vítima de um angiossarcoma cardíaco, um câncer raro. Neste mês em 2022, o artista estaria celebrando 43 anos.
Sarcástico e extremamente político, Abloh pressionou a indústria da moda a levar a diversidade para as passarelas e o estilista sul-mato-grossense destacou a importância cultural que tal movimento teve. “Fiz um desfile bem inclusivo, tinha bastante negro, trans, pessoas gordas. Levamos não somente o estilo, mas também o propósito do Funk-se para a passarela. Estamos falando de moda autoral e de sociedade. Roupa não é somente acessório”, considerou. Com isso, o estilista arremata seu tributo a Abloh, pois uma das principais afirmações do norte-americano era de que roupas não eram apenas vestimentas, mas símbolos de identidades que se situavam no nexo de arte, música, política e filosofia.
As inspirações de Clair para construir as peças da coleção, de acordo com ele, estão conectadas inerentemente ao movimento. “A inspiração é a dança urbana e a liberdade de movimentos que ela proporciona. As roupas são um convite ao movimento. São roupas que dançam”, afirmou.
Muitos na plateia demonstraram grande surpresa quando, ao invés de entrarem para um desfile “padrão”, os modelos entraram performando. “Escolhi esse formato de desfile, por acreditar que moda é expressão e desfile é show”, completou, Clair. Veja o desfile na íntegra:
As peças confeccionadas por Clair estão expostas no espaço FNK, na Rua 13 de Maio 1575. Todas podem ser adquiridas. Os preços variam de R$ 50 a R$ 200 reais, dependendo da peça, material, etc.
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