Em cartaz, “Desenho do Tempo” une referências da dança de MS e RJ
9 JUL 2022 • POR • 20h04O espetáculo de dança 'Desenho do Tempo' — em cartaz desde o dia 7 de julho — fala sobre a amizade de décadas dos bailarinos sul-mato-grossenses Marcos Mattos e Renata Leoni.
As primeiras 3 sessões foram até o dia 9 de de julho, sempre às 20h no Sesc Cultura, na Avenida Afonso Pena em Campo Grande (MS). Neste domingo (10.jul.22) a 4ª sessão é às 20h na Casa de Ensaio.
A reportagem do TeatrineTV falou com os bailarinos e com a coreógrafa carioca Esther Weitzman, na quinta-feira (7.jul.22), logo após a estreia.
Marcos disse que o trabalho surgiu em 2019 com estímulo de outra bailarina que atualmente vive em Dourados. “A Júlia Aissa, que é uma bailarina também. Ela queria voltar a dançar e eu também queria dançar. Então, inicialmente a gente convidou a Renata para coreografar. Só que a Julia estava morando em Dourados, então a gente iria para Dourados e ela havia acabado de ter um bebê. ‘Só que no meio do caminho havia uma pedra, havia uma pedra no meio do caminho’ e a Júlia não pode continuar o trabalho. E eu falei: ‘Re’, então vamos dançar nós dois!’ Eu sempre convidei a Renata para dançar comigo, sempre gostei do modo como ela problematiza a dança. Ela é uma estudiosa da improvisação”, introduziu.
“Aí veio a ideia de a gente dançar essa conexão, essa colaboração de anos. A amizade é a cereja do bolo, tem muitas conexões que o trabalho trás. É um trabalho leve, que fala sobre mim, sobre você, sobre caminhos, sobre memórias, mas é a partir dessa nossa experiência juntos”, definiu Marcos.
Renata disse não saber a quantidade de projetos que já fez ao lado de Marcos no grupo Dançurbana, entretanto disse ser “a primeira vez sozinhos no palco, em 12 anos de trabalho e amizade”.
A bailarina contou que quando surgiu o Prêmio Ipê em 2021, da Secretaria de Cultura e Turismo de Campo Grande (Sectur), ela decidiu que iria propor o projeto. “O espetáculo tinha o nome provisório de ‘Inventário’, que era para falar sobre essa amizade de 12 anos, mas de cara decidimos que iríamos chamar alguém para nos coreografar, porque agora a gente só queria dançar, não queria ficar pensando muito. Aí lembrei da Esther, que é uma velha conhecida nossa. E a Esther tem um jeito de extrair da gente o melhor e realmente foi maravilhoso”, contou.
A coreógrafa carioca acompanhou orgulhosa a apresentação. De uma simpatia ímpar, Esther contou detalhes do processo de desenvolvimento do espetáculo: “Eu recebi a Renata e o ‘Marquinhos’ no Rio há um mês. Eu moro numa ‘casa-estúdio’, eles ficaram morando lá em casa comigo e a gente trabalhava todo dia. Foi uma experiência incrível, porque tomávamos cafezinho, almoço, jantar e o trabalho passava por essa convivência. E a gente foi buscando a temática, porque eu fui convidada para trabalhar em cima do tema amizade. Eu fui buscando, bom, são 23 anos coreografando. E muito inspirada nos dois, porque os dois são excelentes”, justificou.
Apesar de estarem “em casa”, Renata falou da intensidade de Esther no trabalho. “Ela é uma workaholic, bota no 220. Ela falava assim: não, agora! 5 minutos para vocês fazerem. A gente falava: Esther, mas como assim? — Não, 5 minutos, não pode pensar. Agora!”, imitou.
“Eu fiz muitas perguntas para eles. Dei trabalhos de frases coreográficas. Experimentamos quais são as palavras que soam nessa amizade. Foi muito tranquila essa convivência. Foram 10 dias e eles voltaram para Campo Grande com o trabalho fechado. E no antepenúltimo dia convidei uns amigos para assistir”, revelou Esther.
“Eu sou de uma época da coreô: de 5, 6, 7, 8, coisa de passo. O Marquinhos também. E aí ela chamou os amigos para assistir. Falei: como assim, Esther?”, lembrou aos risos.
“São amigos, artistas que eu confio muito, que foram assistir e trocar com a gente. Tanto que esse nome quem deu foi a Marta, uma amigona minha, design do Rio de Janeiro. A gente fez um brainstorm de título e acabou que a gente falou ‘Desenho do Tempo’”, acrescentou Esther.
Para a coreógrafa carioca, Marcos e Renata estão muito bonitos em cena e que isso lhe trouxe uma felicidade imensa. “Eu venho aqui em Campo Grande dando workshop, vim aqui com o meu primeiro trabalho: ‘Território’. É muito bom, são artistas muito densos, têm muita dança, admiro muito a dança daqui — a dança dos campo-grandenses. É assim que vocês falam?”, perguntou Esther.
Ao falar do Prêmio Ipê de Dança, Marcos disse que o desejo da classe era que ele deixasse de ser decreto e se transformasse em Lei. “A dança tentou ter uma ‘FomDança’, que em outros lugares tem, mas infelizmente a gente não conseguiu, mais de 100 artistas assinaram um documento cobrando isso. Esse prêmio foi provocado pela dança, mas acho também que foi muito iniciativa do Max [Freitas], o atual secretário de Cultura e Turismo. É lógico que é um desejo da dança que ele se transforme em Lei. A gente precisa amadurecer isso, para que amanhã ou depois não aconteça como acontece com a Fundação de Cultura do Estado. A gente tinha o Prêmio Célia Adolfo, que lançou vários novos artistas, mas passaram 3 anos e nunca mais ouviu-se falar”, lamentou.
De acordo com Marcos, a prefeitura de Campo Grande está melhor na proposição com os artistas do que a Fundação de Cultura, entretanto, a prefeitura carece ainda de compreender o produto artístico. “Existe uma ingestão em todos esses lugares, para que a coisa tenha ações calendarizadas. A prefeitura está melhor na proposição, mas há um caminho a ser percorrido. Esse ano a gente teve vários prêmios lançados pela prefeitura, mas grande parte deles não foi pago. Então, a gente tem um caminho a ser percorrido. É o modo como as pessoas entendem a cultura dentro da prefeitura. Não é como você compra papel higiênico, material escolar... e eles encaram a cultura desse jeito. Então eu acho que o caminho para a gente enquanto artistas é longo, é dialógico”, opinou.
A exemplo de um resultado positivo do incentivo do poder público na cultura, Marcos destaca o intercâmbio com Esther. “É a primeira vez que estamos sendo dirigidos e coreografados por outra artista que não é de Mato Grosso do Sul, ela está no Rio. Tem muita diferença de dança. A Esther tem uma companhia que tem quase 30 anos, trabalhou com os grandes coreógrafos do Brasil, com Angel Vieira, foi parceira do Roberto Pereira, deu aula na universidade, a primeira universidade de dança do Rio. Trabalhou com a Tereza Rocha. Então, ela tem uma super bagagem”, garantiu.
Para Renata a estreia é a continuidade de toda a emoção dos últimos 10 dias ao lado de Esther. “É uma continuidade, mas hoje estar aqui com o público é uma outra pegada. As coisas fervem por dentro. Nasceu, agora a gente vai saboreando. Fizemos o bolo, cortamos o primeiro pedaço. E acho que foi muito gostoso”.
Marcos definiu a estreia como ‘um disparar’. “A estreia de qualquer trabalho é um ponto de partida. A estreia foi como um disparo, saiu a corrida. A ideia é que as coisas vão se aprimorando”, finalizou.
Até domingo (10.jul) o espetáculo é apresentado no Sesc. Os ingressos são entregues 1h30 antes do início da apresentação… “Infelizmente não temos muitas vagas. São 40 lugares. É um lugar mágico. Se o público vier vai se divertir, vai ser legal”, convidou Renata.
Ainda haverá mais 3 sessões nos dias 14, 15 e 16 de julho, às 20 horas, dessa vez na Casa de Ensaio. Veja mais fotos da estreia na galeria abaixo:
SERVIÇO
O SESC Cultura fica na Avenida Afonso Pena. Já a Casa de Ensaio fica na rua Visconde de Taunay, 203, Bairro Amambaí.
A produção é do Arado Cultural. O investimento é do 1º Prêmio Ipê de Dança, da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (SECTUR). “E