Ícone das artes e cultura, Beto Figueiredo é assassinado na Capital de MS
A irmã encontrou o corpo de Beto nesta madrugada
13 DEZ 2024 • POR TERO QUEIROZ • 09h38Roberto Figueiredo, de 68 anos, foi assassinado na noite de quinta-feira (12.dez.24), na casa em que vivia no Jardim Alto São Francisco, em Campo Grande (MS).
Considerado uma das maiores personalidades que brigou pelas artes na cidade, ‘Beto’, como era mais conhecido, foi professor de História – especialista em Patrimônio Cultural – ex-chefe da Cultura da Capital e diretor do grupo teatral ‘Senta Que o Leão é Manso’, com intensa atividade na cidade há 40 anos.
Ele foi uma pessoa extremamente reservada, no entanto, Beto recorrentemente me falava sobre viver na Capital de MS, onde se mata mais homossexuais no Brasil de maneira violenta. “Vivo sob o temor da violência, mas não tenho medo de nada”, dizia firme, quando nos encontramos há 5 semanas para tomar um suco.
Beto trabalhava com os católicos há mais de 3 décadas e muito os admirava pelo apoio que lhes davam para produzir suas peças.
Certa vez, Beto me levou à Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), próxima de sua casa, para me mostrar seu ambiente de trabalho. Seu ateliê, onde seus figurinos e cenários eram produzidos.
Depois do ‘tour’ fomos a um refeitório travar uma longa conversa, que sempre que nos víamos, era inevitável – Beto amava cultura e artes e já havia feito muito pela sua cidade. Tinha muito a contar! Eu, militante juvenil, queria mudar o mundo, mesmo com pouco tempo e experiência.
Há pouco mais de uma semana, em 29 de novembro, Beto me convidou para ir à estreia da sua nova montagem com o ‘Senta Que o Leão é Manso’, “Ato de Sobrevivência” – uma peça teatral escrita e encenada em 1978, durante um período de intensa repressão no Brasil. No mesmo dia, estaríamos realizando o ‘Sarau dos 4 anos do TeatrineTV’. Ele não pôde ir à nossa festa e também não conseguimos estar na peça: “Poxa. É o dia da estreia da nossa peça. Infelizmente não vou poder estar com vocês fisicamente. Merda”, escreveu numa mensagem de carinho.
Além de diretor presidente da Fundação de Cultura da Capital (Fundac), Beto foi superintendente de cultura, foi presidente da Federação Sul-mato-grossense de teatro-FESMATA e também da Confederação Nacional de Teatro- CONFENATA.
Beto também iria lançar em 18 de dezembro o documentário “Onde Você Estava”, com sua direção, sobre a instalação de Mato Grosso do Sul.
Ele também estava muito empolgado para uma viagem neste fim de semana para ver o show de Caetano Veloso e Maria Bethânia, no Allianz Parque, em São Paulo. Beto tinha muitos planos, jovem e saudável, mas a violência da Capital o alcançou interrompendo seus planos.
O QUE ACONTECEU
A reportagem não localizou nenhum boletim de ocorrência acerca do caso com relato oficial.
No entanto, sites afirmam que a irmã de Beto, Carla Renata Figueiredo, foi até a casa do irmão na madrugada desta sexta-feira (13.dez.24), pois de lá iriam viajar para São Paulo – para o show dos irmãos Caetano e Bethânia – mas, ao chegar ao local, Renata teria encontrado Beto caído no chão da sala ao seu redor, com muito sangue. Ele já estava sem vida.
Segundo relatos não oficiais, o celular e o carro, um Jeep Renegade, foram levados. Ainda não temos informações sobre o velório do Beto.
DESPEDIDAS
A UCBD publicou uma nota de pesar e despedida a Beto: "A UCDB lamenta profundamente o falecimento do professor Roberto Figueiredo. Mais que um docente, Beto, foi e sempre será um verdadeiro ícone da Cultura e Arte da UCDB e do mundo. Foram 39 anos de UCDB dedicados à docência, defesa e construção da cultura e arte em nosso campus e muito além daqui. Sob sua coordenação, milhares de acadêmicos se formaram no teatro, com o grupo Senta que o Leão é Manso, na dança, com o Ararazul, e na música, com os grupos de Corda, Aves Pantaneiras e Coral UCDB. Roberto Figueiredo era um dos representantes docentes do Conselho Universitário (Consu) da UCDB. Em sua trajetória, foi presidente da Fundação de Cultura da Capital e ocupou a superintendência de Cultura em Campo Grande. A UCDB se solidariza à mãe e aos irmãos, aos milhares de acadêmicos que foram seus alunos, aos colegas colaboradores docentes e administrativos e reforça que o legado deixado pelo nosso Beto será sempre lembrado".
A Fundação de Cultura do estado escreveu em nota: "É com imenso pesar que comunicamos o falecimento do professor Roberto Figueiredo, um nome de destaque na educação, cultura e preservação do patrimônio histórico de Mato Grosso do Sul. Graduado em História, Roberto foi docente dedicado da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) desde 1982 e do Colégio Salesiano Dom Bosco de Campo Grande. Na UCDB, além de exercer seu papel como educador, coordenava a Área de Cultura e Arte da Pró-Reitoria de Pastoral e Assuntos Comunitários e dirigia com maestria o grupo teatral Senta que o Leão é Manso, marcando profundamente o cenário artístico local. Entre seus feitos notáveis, dirigiu a adaptação de Marcelo Picolli para o clássico de William Shakespeare, Sonhos de Uma Noite de Verão, reafirmando sua paixão pelo teatro e seu compromisso com a arte. Roberto também foi membro atuante do Conselho de Patrimônio do Município e, como gerente de Patrimônio Histórico da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS), foi responsável por importantes processos de preservação de diversos patrimônios históricos, deixando um legado de respeito às memórias culturais do estado. Sua dedicação à educação, às artes e à valorização do patrimônio histórico inspirou gerações e será lembrada com profunda gratidão por todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo e aprender com ele. Neste momento de dor, a Universidade Católica Dom Bosco e a comunidade cultural de Mato Grosso do Sul se solidarizam com os familiares, amigos e alunos do professor Roberto, que deixa saudades e uma trajetória exemplar a ser celebrada".
O Fórum de Cultura de Campo Grande (FCCG), escreveu num grupo do movimento: "É com profundo pesar que o Fórum de Cultura comunica o falecimento do nosso amigo, companheiro do teatro, da cultura, Roberto Figueiredo, foi encontrado sem vida hoje pela manhã em sua casa. Salve Roberto Figueiredo, nosso Beto!".
A Secretaria de Cultura e Turismo de Campo Grande (Sectur), publicou o que chamou de 'homenagem', no instagram: "A nossa homenagem de hoje é para o grande prof. Beto Figueiredo. Roberto era docente da Universidade Católica Dom Bosco, membro do Conselho de Patrimônio do Município, foi diretor presidente da Fundac e Superintendente de Cultura da SECTUR. Sua vida profissional foi de intensa dedicação à cultura a frente de diversos projetos, como o grupo teatral Senta que o Leão é Manso, que apresentou nos dias 29 e 30 de novembro a peça “Ato de Sobrevivência” na Casa de Cultura. Seu legado para a cultura campo-grandense ficará eternamente registrada. Nosso muito Obrigado, Beto!".