Prefeita alega 'fake' sobre abandono de praças e parques de Campo Grande: verificamos!
Conteúdos que circulam no Instagram apontam que os parques e praças não ficaram abandonados pela prefeitura, mas a realidade é diferente
10 OUT 2024 • POR CAMILA ZANIN • 08h50Duas publicações que circulam no Instagram alegam que a candidata à prefeitura Adriane Lopes (PP) seria/(é) vítima de 'fake news' com relação ao abandono de praças e parques de Campo Grande (MS).
As publicações são do dia 3 de outubro de 2024. A primeira trata-se de um vídeo com um grupo de mulheres praticando ginástica na piscina do parque Ayrton Senna, acompanhado do texto "Parque abandonado? Candidato fake news não passará!". A segunda publicação é uma foto, também de um grupo de mulheres fazendo exercícios, mas dessa vez no Parque Sóter, com o texto "Mais um parque abandonado (segundo Beto Pereira) cria vergonha na cara".
Não há nada de inovador nesse discurso, pois em períodos eleitorais, temas envolvendo a revitalização ou abandono de parques e praças são frequentemente utilizados em peças de desinformação.
Diante disso, o TTVChecaZap, agência de verificação do TeatrineTV, realizou uma análise sobre a situação das praças da Capital, após solicitação de usuários do Instagram. O TTVChecaZap é apoiado pelo projeto "Diversidade nas Redações 3: Desinformação e Eleições", promovido pela Énois e patrocinado pelo Google News Initiative.
Afinal, as praças e parques de Campo Grande ficaram abandonados pela prefeitura, ou são 'fake news' contra a candidata?
Com a saída de Marquinhos Trad (PDT) da prefeitura para disputar o cargo de governador há dois anos e meio atrás, a então vice-prefeita de Campo Grande (MS), Adriane Lopes (PP), foi empossada como chefe do Executivo municipal no dia 4 de abril de 2022. Assim, o TeatrineTV fez uma apuração de qual era a situação desses espaços públicos de lazer durante esses período.
APURAÇÃO RETROSPECTIVA
Parque Ayrton Senna
No mesmo mês da posse da atual prefeitura Adriane Lopes, abril de 2022, o Parque Ayrton Senna, localizado na Rua Jornalista Valdir Lago, no Conjunto Aero Rancho, sofreu danos na fiação elétrica, e ficou sem luz por algumas semanas, o que impossibilitou as atividades noturnas regulares e as oficinas realizadas pela Fundação Municipal de Esporte (Funesp). Assim, as atividades ficaram suspensas nesse período .
Em dezembro de 2022, houve outra apuração no Parque Ayrton Senna, e as imagens encontradas no espaço foram melhores, a manutenção estava em dia, poda de árvores, do gramado, limpeza das piscinas, cuidado com as quadras e parquinho. Mesmo com embalagem de preservativo jogada na grama, a situação era definitivamente melhor do que antes.
Um ano depois, no final de 2023, foram registradas novas denúncias por parte da população que frequenta e utiliza o parque: cenário de abandono novamente. As reclamações e críticas de moradores, visitantes e comerciantes que tentavam aproveitar o espaço ao lado da família e amigos se baseavam no estado de depredação do parque: lixo no gramado, bancos destruídos, corrimões da pista de acessibilidade quebrados, torneiras estouradas, poucas lixeiras e bocas de lobos entupidas com lixo e barro. Os aparelhos para atividades físicas também se encontravam enferrujados e com a tinta descascando. Com a falta de segurança, ocorreram assaltos, e também dependentes químicos que furtaram cabos de energia e danificaram os portões.
Nesse período a prefeitura chegou a ser contatada pelo jornal Campo Grande News, mas o site disse que não obteve resposta.
Em fevereiro de 2024, as reclamações continuaram, dessa vez vindo dos alunos de natação do parque, que tiveram a aula cancelada pela sujeira na piscina. Os problemas estruturais, como falta de reparos e manutenção de banheiros e corredores, se mantiveram, o que precarizou o espaço de lazer por esse período.
Em nota, a Funesp disse que chuvas no fim de semana causaram quedas de galhos e danos aos fios de energia elétrica no parque, o que afetou as operações de manutenção.
Após essa data (e, consequentemente, mais próximo as eleições municipais) não houveram mais registros de denúncias por abandono ou falta de manutenção do respectivo parque.
Parque do Sóter
A retrospectiva do Parque Ecológico do Sóter, localizado no Bairro Mata do Jacinto, na região norte de Campo Grande, é mais problemática que a anterior. No começo de 2022, o parque se encontrava em processo de deterioração, e apresentava riscos e insegurança para quem mora e trabalha na região, onde o número de assaltos aumentou durante esse período.
Os sinais de descaso pelo poder público ficaram escancarados em pelo menos duas das três entradas do parque, com sujeira extrema encontrada. Na Rua Hermínia Grize, os portões encontravam-se parcialmente retorcidos e caídos.
A guarita, também abandonada, possui indícios de que pessoas em situação de rua se abrigavam no local. Na entrada do parque na Rua Rio Negro, o cheiro de urina era forte, as pias e vasos sanitários ficaram inutilizáveis por muito tempo, com os restos da estrutura competindo por espaço com as manifestações de pixo em meio a sujeira.
Ao final de 2022, outra apuração foi feita no local, demonstrando que a situação da falta de manutenção em todo o parque se manteve: a pista de skate sem manutenção, banheiros sem vasos e com janelas quebradas, sem torneira, armários quebrados, falta instalação elétrica, a altura da grama batia no quadril em toda a extensão do parque municipal, o que tornava impossível das crianças e adolescentes brincarem, e favoreceu o aparecimento de animais peçonhentos na região. O cenário atraiu dependentes químicos e os assaltos continuaram.
Apesar da placa de "obras no local", moradores e comerciantes próximos relataram descaso total, e que há pelo menos um ano não avistavam ninguém trabalhando no local. Durante o dia, deterioração, à noite, ruas sem iluminação pública, levando insegurança aos pedestres.
Um ano depois, no final de 2023, foram registradas mais denúncias: manilhas, pedras empilhadas, pedaços de madeira amontoados, água suja e parada (atraindo mosquitos da dengue e outras doenças) e córrego assoreado são as primeiras imagens a serem visualizadas pelos visitantes do Parque Sóter. Os moradores e frequentadores do parque relatam que os restos da obra de desassoreamento foram deixados no local.
Alguns meses depois, de janeiro à março de 2024, o Parque do Sóter completou anos "às escuras", reforçam usuários ainda convivem com a insegurança trazida pela baixa iluminação, desde 2022. A "novidade" nesse período foi o acúmulo de lixo, com dezenas de sacos de lixo largados há dias nos canteiros, problema diário enfrentado por quem pratica atividade física na região norte da Capital e já desistiu de frequentar o lugar à noite. Apesar de consertos pontuais começarem a serem feitos, a escuridão, o lixo e o descaso ainda permaneceram.
OUTROS PARQUES E PRAÇAS
Praça do Trevo Imbirussu
No primeiro semestre de 2022, moradores próximos e comerciantes locais da Praça do Trevo Imbirussu, localizada na Avenida Manoel da Costa Lima, bairro Guanandi denunciaram o cenário "sujeira, bancos quebrados e postes sem luz", e relataram diversas dificuldades enfrentadas, já que o local estava sem manutenções e se tornou ponto de usuários de droga, além de reclamações de falta de segurança, que atrapalham o comércio local.
Praça Itanhangá
A Praça Itanhangá, que leva o nome do bairro onde está localizada, sofreu com a falta de manutenção e preocupou os frequentadores do local em janeiro de 2023. À época, o córrego transbordou e a água invadiu a Rua Chaadi Scaff, deixando motoristas ilhados. Depois que a água abaixou, a areia permaneceu na pista de manutenção do local. Conforme os moradores, o olhar precisa estar atento também para o chão da praça, que estava com vários pisos soltos e desnivelados.
Praça das águas
Em agosto de 2023 foi a vez do abandono da Praça das Águas e do Córrego Prosa, localizados em frente ao Shopping Campo Grande, de serem denunciados pelos moradores. A área de preservação ambiental apresentava acúmulo de lixo e árvores queimadas; na entrada era possível avistar a fachada destruída, pichada e com lixo, pneus e caixas de papelão acumuladas, sem segurança, o que atraiu assaltantes e dependentes químicos. A cerca que deveria limitar a passagem e evitar acidentes no Córrego Prosa, estava arrebentada em alguns pontos e violada em outros, dando acesso livre a área preservada. A ponte de madeira, instalada no centro da praça, estava quebrada em alguns pontos e com a cerca de proteção destruída e enferrujada. A Prefeitura foi condenada a pagar uma multa na ordem de R$ 150 mil, corrigidos, a título de dano moral coletivo.
Praça Ary Coelho e Praça do Rádio
Em julho de 2023, foi denunciado por moradores e comerciantes locais o desleixo da prefeitura com a Praça Ary Coelho, que ocupa 10 mil metros no Centro da cidade, formado pelo quadrilátero da Afonso Pena, 13 de Maio, 14 de Julho e 15 de Novembro. Foram citados pontos como: falta de cuidado, manutenção e limpeza. Os trabalhadores da redondeza destacaram à época que a situação dos banheiros onde portas de alumínio foram furtadas, sem sabonete ou detergente para lavar a mão, grama alta e com montes de formigueiros, e a fonte (o chafariz é patrimônio histórico/cultural da capital) estava descascada.
Três meses depois, em outubro de 2023, as reclamações continuaram, agora pontuando a falta de ladrilho na fonte e os canteiros das árvores que se resumem à terra, e cobravam cuidados com a jardinagem e iluminação, além de criticarem a falta de manutenção do local.
A poucas quadras da Praça Ary Coelho, a Praça do Rádio enfrenta os mesmos problemas de infraestrutura já relatados, falta de manutenção na grama e jardim, lixo espalhado, o parque destinado às crianças se encontrava sem portão, onde deveria ter brinquedos, tinha espaço vazio e os poucos que resistiram estavam enferrujados. A situação do piso se assemelha aos demais locais visitados pela reportagem: desnivelados e quebrados. A pouca quantidade de bancos para sentar, alguns quebrados, e a falta de limpeza e manutenção foram questões citadas por quem frequenta o local.
Maria Fumaça
Em outubro de 2023, os comerciantes da região da 'Maria Fumaça', localizada no cruzamento das avenidas Mato Grosso e Calógeras, reclamaram que o espaço virou "atacadista de droga". Mesmo com a beleza da locomotiva de cinco metros de altura, 20 de comprimento, que pesa cerca de 20 toneladas, os turistas desistem de tirar fotos nela, pois ao redor estava depredado, bancos e lixeiras quebradas, pisos soltos e usuários de drogas.
Na época, a Prefeitura de Campo Grande foi contata, para questionar se a atual gestão prevê revitalização, manutenção, ou até mesmo projeto de "recuperação" da Orla Ferroviária como um todo, e também foi questionado a respeito da manutenção das outras praças citadas (Ary Coelho e Rádio).
Praça dos imigrantes
Em agosto de 2023, a prefeita Adriane Lopes (PP) reuniu a imprensa para anunciar a "histórica" revitalização da Praça dos Imigrantes, localizada no centro de Campo Grande, na esquina das ruas Ruy Barbosa e Joaquim Murtinho. No palco montado na praça, como parte da agenda em comemoração aos 124 anos de fundação da cidade, a prefeita garantiu que a obra estaria concluída no prazo de 3 meses, ou seja, em 1º de novembro.
Porém, em setembro de 2023, as obras mal começaram e paralisaram na Capital. A construção acumula lixo e frustrou comerciantes, que aguardavam pela melhora do lugar.
Mais de sete meses depois do anúncio, a obra orçada em R$ 226 mil continua parada e os 53 artesãos que tradicionalmente ocupavam o local para expor seus produtos seguem sem o espaço, transformado em abrigo para pessoas em situação de rua e usuários de drogas. Os moradores e comerciantes denunciavam como "espaço em abandono" e "aguardando o final de uma revitalização". Todas as antigas lojas estavam com portas arrombadas, com muita terra e os banheiros destruídos, entulho, lixo espalhado, cheiro de urinas e fezes.
Memorial Papa João Paulo II
Em janeiro deste ano (2024), um dos principais monumentos e cartão postal de Campo Grande, o Memorial do Papa, na Vila Sobrinho, virou ponto de vandalismo e uso de drogas. Ao circular o monumento, era possível ver diversas manifestações com mensagens e desenhos de profanação ao santo da Igreja Católica. O aspecto é de total abandono e com forte mau cheiro, já que o local abriga muita sujeira por todo o lado, mato alto, bancos destruídos, objetos que servem para a proliferação do mosquito aedes aegypti, roupas e calçados abandonados por pessoas em situação de rua, dentre outros.
Mesmo diante da situação, a Prefeitura de Campo Grande informou em nota que irá fazer apenas a manutenção da limpeza no local, como o corte de grama e a substituição de lâmpadas quebradas, justificando que o serviço será realizado para melhor receber as escolas de samba e espectadores do desfile.
Praça Esportiva Ana Maria Couto
Em abril deste ano (2024), a quadra poliesportiva do bairro Ana Maria do Couto virou dor de cabeça para moradores e alvo de repetidas reclamações da vizinhança. Com sinais aparentes de deterioração, o local está sem iluminação e virou abrigo para usuários de drogas e 'lixão' a céu aberto em plena Avenida Júlio de Castilho. Com a situação que se arrasta há anos, moradores dizem ter desistido de frequentar a praça.
CONCLUSÃO
Uma das atividades preferidas dos campo-grandenses é se reunir com familiares e amigos nas praças e parques municipais, onde podem se divertir, praticar esportes ou relaxar em meio à natureza. Porém, a apuração retrospectiva feita pela equipe de reportagem do TeatrineTV teve como conclusão final que o Parque Ayrton Senna teve alguns períodos de descaso, enquanto o Parque Ecológico do Sóter teve um cenário de abandono completo pela prefeitura nesses dois anos. Além disso, como averigou a reportagem, outros parques e praças de Campo Grande ficaram em situação de abandono nesse período.
Isso afetou gravemente a qualidade e a segurança desses espaços de utilidade pública e da população próxima. A falta de manutenção e cuidado com os parques municipais traz prejuízos significativos não somente para os usuários, mas também à riqueza ecológica da cidade e ao meio ambiente, afetando inclusive, questões de saúde pública, como a proliferação de mosquitos da dengue e animais peçonhentos.
As principais reclamações e irregularidades encontradas foram: criadouros de mosquito-da-dengue, poluição e descarte de lixo excessivo e inadequado, banheiros públicos intransitáveis, brinquedos e bancos enferrujados e quebrados, mato extremamente alto e falta de iluminação.
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