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CULTURAS POPULARES E TRADICIONAIS

Comitê de Cultura de MS é lançado com quebra-torto, arte e esperança

Agenda inclui seminário do Comitê e uma oficina do MinC em MS

8 OUT 2024 • POR TERO QUEIROZ • 19h07
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"Esperança". Essa foi a palavra mais mencionada nesta 3ª feira (8.out.24) durante uma ação político-cultural organizada pelo Comitê de Cultura de Mato Grosso do Sul, que inclui uma apresentação pública do Comitê, Seminário de Políticas Culturais, em conjunto com a Oficina do Plano Nacional de Cultura, organizada pelo Ministério da Cultura (MinC).

A atividade acontece no Teatro Aracy Balabanian, localizado no Centro Cultural José Octávio Guizzo, na capital sul-mato-grossense, e reúne representantes do governo e da sociedade civil para discutir a valorização das culturas populares e tradicionais.

A cerimônia iniciou com um café da manhã intitulado "Quebra-torto com Poesia e Axé", com interpretações de Ana Cabral no rol de entrada do Teatro Aracy Balabanian. A apresentação foi uma mistura de som a capela, declamações e instrumental.

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Em seguida, às 9h, a imortal que ocupa a Cadeira nº 31 na Academia Sul-Mato-Grossense de Letras (ASL), Lenilde Ramos, cantou "O Hoje", tocando músicas autorais no piano e na acordeon. A performance da escritora, musicista, compositora e ativista cultural deixou o público vidrado.

Então, começou o momento de abertura "padrão", quando diversas figuras sobem ao palco e falam. Na ocasião, compuseram o dispositivo:

Logo no início das falas, a coordenadora do Comitê explicou que apesar de ter sido hoje foi apresentado publicamente hoje, o Comitê já está trabalhando desde o início do ano. "Já temos uns seis meses de trabalho", observou Teixeira. Falando por cerca de minutos passando a fala aos demais. Assista cerca de 50 minutos de cerimônia abaixo:  

Para este momento na Capital, o Comitê de Cultura trouxe cerca de 28 agentes culturais de todo o estado, com transporte, alimentação e estadia pagos, para participarem do Seminário e da oficina. Além disso, haverão mais apresentações artísticas como já mostramos aqui.  

PERSPECTIVAS

Tião Soares, Diretor de Promoção das Culturas Populares do MinC, durante o café, destacou a relevância da participação popular nas decisões políticas. “Eu acho que a participação popular, a participação da sociedade civil nas decisões políticas, sempre enaltece, mas também enriquece o debate e promove a reflexão em torno da apreensão, mas também da implementação de políticas públicas, certamente voltadas para as culturas tradicionais e populares. Eu acho que esse cenário da participação, especialmente do debate, traz ao governo instrumentos que subsidiam a formulação, mas também a elaboração de políticas e a sua efetividade”, afirmou ao TeatrineTV.

Tião enfatizou ainda que a participação da sociedade civil é crucial para que as demandas das culturas tradicionais e populares sejam efetivamente atendidas e não fiquem apenas no campo do achismo com propostas ineficazes. “Então, precisa dessa participação para que a gente tenha efetividade, definitivamente, recursos públicos para ela. Um olhar mais orgânico, mais horizontal, mais igual. Eu poderia até dizer: qual o lugar das culturas tradicionais e populares na política nacional de futuro? Essa é a questão”, acrescentou.

Foto: Tero QueirozTião destacou a relevância da participação popular nas decisões políticas | Foto: Tero Queiroz

Ao lado de Tião, a coordenadora do escritório do MinC em Mato Grosso do Sul, Caroline Garcia de Souza, ressaltou que o seminário é parte de uma agenda de inclusão das culturas populares, uma prioridade do governo do presidente Lula (PT), que está em franco avanço. “O governo federal tem trabalhado há muitos anos na inclusão das culturas populares como a nossa identidade raiz, nossa identidade que deve ser vista e respeitada”, declarou.

Caroline também apontou a importância da presença de representantes do MinC no estado para compreender melhor as demandas regionais. “A importância de o Tião vir aqui dessa vez e das próximas que ele ainda virá é no sentido de a gente conseguir organizar, criar legislação de salvaguarda, criar linhas de financiamento, uma convenção para comentar as culturas populares que estão aqui. Nós temos em Mato Grosso do Sul uma riqueza, uma diversidade, uma pluralidade para ser mais valorizada”, pontuou.

Foto: Tero QueirozCaroline apontou a importância da presença de representantes do MinC no estado | Foto: Tero Queiroz

Um dos temas centrais a serem discutidos no seminário é o abandono sistemático dos artistas idosos e aqueles em situação de vulnerabilidade de saúde. Garcia disse que essa preocupação está na pauta do governo federal e deve ser encarada pelo governo local como prioridade. “Desde o início, na primeira gestão do governo do PT, tem um trabalho incansável em relação às culturas populares. É um pouco com quem o PT trabalha, isso tem sentido. E aqui no Mato Grosso do Sul nós precisamos ampliar, muitos estados já têm isso... São grandes tesouros como os estados do Nordeste, o Norte, que geram diversos grupos econômicos, mas também simbólicos na identidade e respeito a esses grupos.”

Thayna Cambará, da Bela Oyá Pantanal — 1ª Agência Receptiva de Afroturismo do MS — saiu de Corumbá, a 420 km da capital, para participar do seminário e da oficina. “Eu trabalho especificamente em Corumbá com comunidades remanescentes, quilombolas e povos de terreiro, que são comunidades expressivas, dada a dimensão de Corumbá, né? Nós temos aí 80% da população de Corumbá que é parda. Nós temos mais de 300 terreiros no nosso município. Então, assim, a gente ainda tem a questão da invisibilidade e da vulnerabilidade desses mestres, né?”, relatou. Thayna destacou a importância de garantir a presença e os direitos dessas comunidades, que frequentemente são apagadas da narrativa cultural. “A gente precisa realmente estar aqui, se fazer presente, para que essas políticas públicas, de fato, cheguem até as pessoas”, afirmou.

Foto: Tero QueirozThayna saiu de Corumbá para participar do seminário | Foto: Tero Queiroz

João Henrique dos Santos, superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), também ressaltou a importância do evento, celebrando a retomada do MinC. “Você receber essa comitiva do Mato Grosso do Sul, com os técnicos, com os gestores, que são capazes de fomentar e de, no mínimo, a gente ter um olhar para a nossa região, que muitas vezes é esquecida, é uma região periférica do Brasil”, disse. Ele expressou esperança em relação ao futuro das políticas culturais, afirmando que a elaboração de um plano a longo prazo é essencial.

Foto: Tero Queiroz | Foto: Tero Queiroz

Catarina Gató, Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), aos 73 anos, celebrou o momento de troca possibilitada pelo Comitê. "Na minha experiência, a mais carência é a lonjura, como eu vejo as pessoas idosas. Porque as pessoas ficam com dificuldade, né? De não deixar andar sozinha, né? E aí, esse aí que é mais ruim. Tem que ter condução, para levar, para trazer, né? E lá do Pantanal é a distância, né? É mais difícil. Sim. Mas, graças a Deus, que agora já estão melhorando muita coisa, né? Eu acho que vai dar certo. E eu fico feliz por isso. Mas hoje, o difícil é isso", explicou.

Para Catarina, a manhã foi frutífera e espera que rendam ações positivas do seminário. "Eu tô saindo muito feliz, porque já teve coisas que vou fazer, que vai ser ótimo para mim e todos que tão comigo. Espero que nós da cultura tire boas coisas daqui", concluiu.

Foto: Tero QueirozCatarina Gató celebrou o momento de troca possibilitada pelo Comitê | Foto: Tero Queiroz

No Brasil, para esse trabalho de discussão de políticas culturais, foram instituídos no governo Lula 3, cerca de 26 Comitês de Cultura, resultantes do Programa Nacional dos Comitês de Cultura (PNCC), iniciativa que tem como objetivo ampliar o acesso às políticas públicas de cultura, fortalecendo a democracia e a participação popular e cidadã no âmbito das políticas socioculturais e do Sistema Nacional de Cultura (SNC).

Desiree Tozi, da Diretoria de Articulação e Governança do MinC, explicou o funcionamento dos comitês de cultura, que atuam em rede por todo o Brasil. “Esses comitês foram escolhidos em territórios estratégicos, que são territórios que têm pouca atividade de equipamentos culturais ou as políticas culturais chegam com alguma deficiência”, informou. Ela acredita que a proposta de trabalho em rede pode transformar a maneira como as políticas culturais são formuladas e implementadas no país.

Foto: Tero QueirozDesiree Tozi explicou o funcionamento dos comitês de cultura | Foto: Tero Queiroz

"CULTURA É BASE DA DEMOCRACIA BRASILEIRA"

A secretária dos Comitês de Cultura do MinC, Roberta Cristina Martins, já na abertura da sua fala, declarou que MS é um estado desafiador no quesito de implementação de políticas culturais. "O Mato Grosso do Sul é um desafio para o Ministério da Cultura, mas sobretudo para o governo brasileiro. Estou feliz de estar no Mato Grosso do Sul, que eu vim substituir meu chefe, o Márcio Tavares. E obviamente estou aqui representando a incrível, a maravilhosa, a inacreditável ministra Margareth Menezes...".

Roberta ressaltou que o Ministério da Cultura, reconstruído pelo presidente Lula, conta com um time especial, que ela tem a esperança que mude a situação das políticas públicas para a cultura no Brasil. "A ministra, que é uma mulher que veio da Bahia, que lutou pela sua carreira, mas que está enfrentando avançar nas políticas públicas de maneira nunca feita antes na história desse país. A gestão da ministra Margareth Menezes e dos meus companheiros, gestão do Ministério da Cultura nesse governo Lula 3, com tanta dificuldade, mas também com tanta disposição, daquele senhor cheio de experiência que veio do Nordeste, foi para São Paulo, reconstruiu o Movimento Social, após a Ditadura, ajudando na democratização do país nos anos 80."

Na avaliação da secretária, a cultura está sempre em processos de reconstrução. "Este Ministério da Cultura é diferente, porque esse Ministério da Cultura veio no momento do país da necessidade de reconstrução dos processos democráticos... O Ministério da Cultura está sempre nesses processos de redemocratização do Brasil, porque a cultura é base da democracia brasileira. É através disso que a gente pode efetivamente dizer que o país, Brasil, será um país democrático, quando as culturas de todos os territórios se fizerem representativas no conjunto da sociedade, quando elas se fizerem reconhecidas pelo conjunto da sociedade e valorizadas pelo Estado brasileiro e pelo povo brasileiro. Quando a gente conseguir estabelecer uma relação direta, sem piscar, cultura é direito social básico da população brasileira, a gente vai ter um Estado realmente democrático. Essa é a importância da cultura para a sociedade brasileira", completou Roberta.

Foto: Tero QueirozA secretária dos Comitês de Cultura do MinC, Roberta Cristina Martins | Foto: Tero Queiroz

ATÉ QUANDO OCORRE?

As atividades seguem até quarta-feira (9) e representam uma oportunidade importante para que os povos tradicionais e as culturas populares de Mato Grosso do Sul tenham seus direitos e suas demandas ouvidas em um nível federal. A expectativa é que os debates gerem propostas concretas que promovam a valorização e a salvaguarda dessas culturas no Brasil.