San nega que tenha pichado mural de Fernando Berg, mas apoia reação das ruas
'Eu sou do pixo e graffiti não institucional', protestou o artista campo-gradense
28 SET 2024 • POR TERO QUEIROZ • 19h14O artista campo-grandense San Martinez negou neste sábado (28.set.24) que tenha pichado o mural de arte urbana criado pelo Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS) em parceria com o artivista paulistano Fernando Berg, instalado no viaduto Pedro Chaves, na Avenida Ricardo Brandão, em Campo Grande (MS).
Ao longo desse sábado, diversas mensagens enviadas à reportagem apontavam o artista como suposto autor da pichação. “Não fui eu. A página pública acontecimentos anônimos. Estão me relacionando porque eu tenho posicionamento e não encho linguiça”, respondeu San no início da noite ao ser procurado pelo repórter do TeatrineTV.
San administra a página Campão Graffiti e é a ela que está se referindo na resposta acima, pois a página foi a primeira a publicar um vídeo na madrugada de hoje, em que mostra que haviam pichado sobre o mural, concluído 24 horas antes. “Recebemos essa mensagem hoje às 05h da manhã anônima e, como nossa página é democrática, vamos divulgar o que acontece em Campo Grande - MS sobre as ruas. Não apoiamos o vandalismo! E também não ficamos parados. Então, o que vocês acham sobre essa atitude??? Comenta aqui embaixo para nós entender (sic)”, dizia a publicação que ensejou diversas matérias jornalísticas ao longo do dia.
San explicou que os artistas de rua de Campo Grande vivem intensa privação dos órgãos, como a Secretaria de Cultura e Turismo (Sectur), prefeitura e outras entidades que deveriam apoiar a arte, o que, na avaliação dele, gerou a reação. “A cidade cresce de forma obtusa e irregular. Vivemos nas ruas e sobrevivemos dela, mas o fato ocorrido que gerou meu nome, sem ao menos prova de que fui eu, já me indigna. Se eu tivesse alguma pichação lá, eu iria lá e cobraria na hora. Na rua, não tem mais diálogo; as instituições nos privam e querem ditar sobre arte, e tão pouco sabem como vivemos nas ruas para sobreviver nesse estado”, protestou.
Segundo o artista, existe atualmente um movimento da administração pública que apoia o graffiti institucionalizado em detrimento do graffiti das ruas. “Eu sou do pixo e graffiti não institucional. Tenho muitas passagens da DP pra defender meu direito, não preciso de aprovação nem participar de roda de debate com pessoas que não fazem questão e nem vivem o que nós das ruas vivemos (sic)”.
Prova disso, de acordo com San, é que o mesmo pontilhão foi solicitado à Sectur para intervenção, mas não tiveram resposta. "Pedimos aquele pontilhão para o projeto incluir a história da tia Eva e não recebemos resposta na época do Max Freitas, em 2019. E foram feitos outros pontilhões. Como tem pichações, o projeto era chamar a galera da cidade e interagir com arte. Temos nosso respaldo de rua e respeito", destacou.
Apesar de afirmar que não pichou sobre o mural de Berg, o artista sul-mato-grossense destaca que a desvalorização padrão contra o artista de ‘casa’ e a supervalorização dos artistas de outros estados, desconsiderando as artes locais, tem consequências. “Nós lá fora do Estado nem existimos e somos tirados. Se a galera pichou em cima do trabalho do cara é porque mereceu mesmo. As ruas não têm mais diálogo e isso serviu para todos verem o tanto de linguiça que a arte enche (sic)”, considerou.
O artista criticou ainda instituições de proteção ambiental de MS, que sempre alegam que não têm dinheiro para investir nos artistas locais, mas têm dinheiro para artistas de fora do estado.
OUTROS LADOS
Neste sábado, mostramos que a Instituição Nacional de Conservação de Animais Brasileiros – Instituto de Preservação da Ecologia (INCAB-IPÊ) manifestou repúdio em razão da pichação no mural, a qual a entidade ambientalista classificou como ‘vandalização’.
Falamos como Fernando Berg em sua rede social, mas muito triste com a situação, ele preferiu não se manifestar.
Enviamos questionamentos à assessoria da Sectur, que apoiou a realização do mural no viaduto, mas não recebemos nenhuma resposta até a publicação desta matéria.