Poeta Armando Freitas Filho morre aos 84 anos vítima de Covid-19
Ganhador do prêmio Jabuti pelo livro '3x4', de 1986, e o Alphonsus de Guimaraens em 2000, por 'Fio Terra'
26 SET 2024 • POR TERO QUEIROZ • 22h50Armando Martins de Freitas Filho, um dos maiores poetas brasileiros, morreu aos 84 anos nesta 5ª.feira (26.set.24), no Rio de Janeiro (RJ), onde nasceu e fez carreira.
Ele sofria de problemas respiratórios e estava internado havia uma semana na Clínica São Vicente, na Gávea, Zona Sul do Rio. O hospital afirmou que Armando morreu em decorrência de complicações da Covid-19.
A morte do artista carioca foi confirmada também pela viúva, Cristina Barros Barreto: "Nós estamos muito sentidos, mas a poesia dele é que fica", disse Cristina. Além da esposa, o artista deixa dois filhos, Carlos e Maria, e dois netos, Lia e Max.
O velório será na 6ª.feira (27.set.24), no Cemitério São João Batista – o horário ainda será definido, segundo a viúva.
CARREIRA
Armando estreou na literatura em 1963 com o livro "Palavra", aos 23 anos.
Em 1970, ele se aproximou da poesia marginal, mas não se vinculou formalmente ao movimento. Foi amigo de Ana Cristina César, a quem organizou a obra após sua morte em 1983.
Armando conquistou o prêmio Jabuti pelo livro "3x4", de 1986, e o Alphonsus de Guimarens em 2000, por "Fio Terra".
Ao todo, em 60 anos de carreira, Armando lançou 15 livros, com destaques também para "À Mão Livre" (1979), "Duplo Cego" (1997) e "Raro Mar" (2006).
No ano de 2020, ao completar 80 anos, lançou "Arremate", com poemas escritos entre 2013 e 2019.
Em sua obra "Só Prosa", de 2022, o autor surpreendeu ao abordar temas como formação literária e a vida na Urca, no Rio de Janeiro.
Em 2023, ele reuniu sua obra em "Máquina de Escrever".
Armando inspirou o documentário "Manter a linha da cordilheira sem o desmaio da planície" (2016), de Walter Carvalho. O escritor e o diretor estiveram juntos na mesa de abertura da edição daquele ano da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).
"Ficamos apaixonados", brincou o poeta, arrancando risos da plateia. "Ninguém nunca tinha me olhado tanto", continuou, em referência aos sete anos de duração das filmagens.
Em entrevista ao programa Estúdio Móvel da TV Brasil, em 2016, o diretor Walter Carvalho comentou: "Sempre me pergunto como nasce um poema. Um poeta pega ônibus? Vai no banco? Paga uma conta de luz? Tem tarefas domésticas? Ao meu ver, o poeta é uma pessoa que flutua. Mas isso é algo da minha imaginação. Esse era um dos aspectos que eu gostaria de saber através do meu contato com o Armando". Eis um teaser do filme:
Além de poeta, Armando foi pesquisador da Fundação Casa de Rui Barbosa, secretário da Câmara de Artes no Conselho Federal de Cultura, assessor do Instituto Nacional do Livro no Rio de Janeiro, pesquisador da Biblioteca Nacional e assessor no Gabinete da presidência da Funarte.
ÚLTIMOS TRABALHOS
Seu último trabalho, "Cristina", é uma homenagem à esposa, Cristina Barros Barreto, e teve apenas 20 exemplares produzidos.
Em uma rede social, a editora Compahia das Letras prestou uma homenagem ao autor: “Armando era um dos maiores poetas brasileiros em atividade. Sua poesia fala sobre o amor, a morte, a casa, o ofício de escrever, o Rio de Janeiro. Seu legado é gigantesco e continua vivo em cada poema seu”, disse Alice Sant’Anna, poeta e editora de Armando na Companhia das Letras.
A editora também informou que “Respiro”, anunciado como último livro do poeta, será publicado em breve e postou um dos poemas da coletânea. Leia abaixo:
MANIFESTAÇÃO DE PESAR
Em nota de pesar, o Ministério da Cultura (MinC), destacou que Armando teve uma carreira de mais de seis décadas, sendo aluno de grandes mestres como Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade. "Neste momento de luto, o MinC se une a sua esposa Cristina e aos filhos Carlos e Maria, assim como familiares, amigos e admiradores de sua obra. A contribuição de Armando Freitas Filho à literatura brasileira será eternamente lembrada", disse a entidade.