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ARTISTA INDÍGENA

Sushiman, ator de MS conquista papel fixo na novela 'Mania de Você'

Sem incentivo, Florismar Vargas deixou o estado com apenas R$ 70 no bolso em busca desejo de viver do ofício

23 SET 2024 • POR TERO QUEIROZ • 14h10
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Florismar com Gabz e Alanis Guillen nos bastidores da novela Mania de Você. Fotos: Arquivo

Florismar Vargas, de 31 anos, natural da Aldeia Jaguapiru em Dourados (MS), está conquistando espaço nas telas da TV Globo. O artista integra o elenco da novela "Mania de Você", onde interpreta um cozinheiro em um resort de luxo, contracenando com diversas estrelas da teledramaturgia.

Filho de Ana Cristina de Souza Vargas e Florêncio Vargas, o sul-mato-grossense sonhou em um dia viver do trabalho de ator, embora isso parecesse distante. A mãe de Florismar revelou ao TeatrineTV que levou um susto quando o jovem, com apenas R$ 70 no bolso, decidiu mudar-se para a capital carioca em 2022.

— No começo, não acreditei muito, mas quando chegou o dia, eu chorei muito. Pois, por mim, nenhum deles [filhos] sairia de perto de mim. Na época em que ele foi, eu e minha família estávamos passando por uma dificuldade muito grande, e ele sempre disse: “Mãe, eu vou e, quando eu conseguir as coisas, não quero que a senhora trabalhe mais, quero ver a senhora e o pai descansando, pois já cuidou de nós todos” — recordou Ana, de 45 anos. 

O ator Florismar, de Mania de Você, à direta na imagem com sua família na Aldeia Jaguapiru. Crédito: Arquivo pessoalFlorismar, ator da novela 'Mania de Você' (boné azul), ao lado de sua família na Aldeia Jaguapiru. Crédito: Arquivo pessoal.

O primeiro contato de Florismar no Rio de Janeiro foi com um doutor que precisava de um sushiman para uma rede de restaurantes japoneses. Para isso, o empresário propôs pagar o aluguel e a passagem de Florismar.

— Como eu já estava me preparando, falei: “Mãe, eu vou embora, vou trabalhar fora.” Só que quase ninguém acreditava em mim, sabe? Porque eu nunca saí de casa assim. Eu falava: “Mãe, eu vou embora tal dia, vou para tal lugar”, mas ninguém acreditava. Então fui me preparando. Lembro que passei o Natal, na verdade, foi em novembro, outubro de 2021. Fui falando: “Gente, eu vou embora, eu vou embora,” e ninguém acreditava. Parei numa situação em que falei: “Cara, eu preciso correr atrás do meu sonho. Eu não posso morrer aqui sem realizar meu sonho, tanta gente com tanto sonho e nunca faz nada.

Florismar disse que em MS, o sonho de viver do ofício de ator parecia quase inalcançável.

— Parecia impossível para mim por conta da nossa realidade de viver em uma aldeia. Não somente para nós, indígenas, mas também para nós, douradenses, um exemplo para os não indígenas. Até porque não há políticas e meios que venham acolher essas pessoas que querem seguir esse ramo. Um exemplo: quando eu queria dar os primeiros passos, o que eu fazia? Eu lembro que tinha um jornal, aquele jornal de papel normal, onde tinha os anúncios, e eu ficava caçando escolas de teatro em Dourados. E toda vez que eu ligava para essas escolas, tipo, só vou citar um nome aqui, não precisa divulgar, um exemplo. Eu lembro que vi aquele estúdio ***, onde eu tive que ligar para essa academia, não lembro o que era para esse estúdio, e comecei a perguntar: “Tem aulas de teatro?” A resposta que eu ouvia era só não. “Ah, tem que formar grupos, tem que ter uma quantia de pessoas assim, tal.” Eu procurei me informar, só que aí percebi que precisava de um curso que emitisse o DRT, e eu também nem sabia o que era DRT. Foi uma realidade tão dura para mim que eu via que estava muito impossível de se realizar em Dourados.

Artista sul-mato-grossense deixou o estado com o desejo de viver da profissão de ator. Foto: ReproduçãoFlorismar Vargas, ator sul-mato-grossense (de shorts verdes), saiu do seu estado com o sonho de viver da atuação. Foto: Reprodução.

A falta de incentivo ao ofício não é algo restrito à 2ª maior cidade do estado, mas também à capital.

— Aí é onde eu ficava imaginando: não tem nenhuma escola aqui ou em Campo Grande. Pensei também em trabalhar, mas fazer curso em Campo Grande, de teatro. Mesmo assim, não há políticas, nem meios, nada da cultura que ajudem o artista ou o cidadão sul-mato-grossense a ingressar nesse meio, nesse ramo. Para mim, era um sonho muito difícil, muito distante de se realizar. E é onde a gente tem que encarar a realidade.

Sem qualquer perspectiva de conquistar seu objetivo em MS, Florismar inicialmente pensou em ir para Santa Catarina.

— As grandes escolas estão espalhadas pelo Brasil, principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro, que é onde eles acabam encontrando grandes artistas. Eu falava: “Não, eu vou ter que ir para esse lugar.” Mas nunca me passou pela cabeça sair e ir embora por conta disso. Na verdade, eu ia para Santa Catarina, que eu ia trabalhar. Falei: “Não, eu vou trabalhar.” Só que numa dessas, vi um anúncio no Instagram, selecionando pessoas para a escola Wolf Maya. Aí me inscrevi, paguei 50 reais na taxa e passei na seletiva. Eu já estava com viagem marcada para Santa Catarina, mas do nada apareceu essa oportunidade de vir aqui para o Rio de Janeiro, que eu vim trabalhar. Cheguei aqui para trabalhar na rua.

Florismar e sua mãe, Ana. Foto: Arquivo pessoal Florismar e sua mãe, Ana. Foto: Arquivo pessoal 

A criação dada pela mãe a Florismar inspirou a resiliência necessária ao artista sul-mato-grossense.

— Eu sempre disse a ele: faça o bem sempre, pois não sabemos o dia de amanhã. Ele vem de uma família humilde, porém com grandes valores religiosos e culturais. Por essa razão, ele nunca deixou de lembrar dos nossos costumes. Ele foi criado dentro de um lar cristão, com muita força de vontade e determinação. Ele tem ajudado sempre as pessoas, tem um coração enorme — declarou Ana.

A mãe revelou que no começo a família ajudou na medida do possível para que Florismar insistisse em seu sonho.

— Sempre que podemos, ajudamos ele. Só não faço mais porque não temos mesmo, e ele sabe disso. No ano seguinte que ele foi, deixei de comprar várias coisas para juntar dinheiro e ir até onde ele estava, pois eu queria ver com meus próprios olhos como ele estava. Eu nunca tinha ido sozinha tão longe como o Rio de Janeiro — comentou.

Na aldeia Jaguapiru, Ana já sente o impacto da representatividade.

— Hoje, vários jovens têm me procurado para saber se ele é realmente meu filho e como ele foi tão longe. Isso já demonstra que os jovens podem sim sonhar e voar longe — avaliou.

Florismar na TV Globo. Foto: ReproduçãoFlorismar na TV Globo. Foto: Reprodução

Orgulhosa, Ana celebrou o destaque do filho na novela da Globo.

— Para mim é um grande orgulho, pois a vida dele não tem sido fácil. Eu sempre ensinei a eles a conquistar seus sonhos através de muito trabalho. Ele trabalhou muito cedo. Eles têm eu como exemplo, pois eu fui merendeira e hoje sou formada. Para minha família, ele estar na TV é motivo de comemorar e muito — conclui a mãe, que atualmente é professora de Ciências na Aldeia Jaguapiru.  

ESCOLA DE ATORES

Logo que chegou ao Rio de Janeiro, Florismar entrou na Escola de Atores Wolf Maya, mas para isso precisou vender folgas para pagar a cara mensalidade.

— Está longe da nossa realidade. Estudar em uma das melhores escolas, com uma mensalidade de mil a mil quatrocentos e cinquenta, é muito caro para a gente que ganha praticamente um salário. Eu ainda consigo meio que me desdobrar, mas, sabe, trocar o café pela janta. Isso acaba fazendo com que várias pessoas desistam de estudar em uma boa escola. Mas, se é o nosso sonho, temos que nos desdobrar.

Ele trancou sua matrícula na escola, mas, devido à sua capacidade de comunicação, antes disso, garantiu contatos favoráveis para a carreira.

— Depois que entrei na escola, tive vários contatos, e isso acabou me ajudando. Não só por conta da escola, porque eu vou atrás, pergunto. Se eu não sei, eu vou caçando, e nisso acabo ajudando outras pessoas que perguntam como faz. Eu vou lá e falo: "Ó, você faz isso, isso e isso aqui." Eu sempre vou me informando, sou bem curioso.

Após as gravações de “Mania de Você”, Florismar disse que pretende retomar os estudos na Wolf Maya.

— Tranquei a minha escola por conta das gravações da novela, por conta do trabalho e dos meus outros cursos que eu tenho que fazer, sabe? Então, pra mim, ainda não tenho pressa. Tudo vem com o tempo... Se eu tiver de trancar, eu tranco. Assim que acabar a novela, eu volto a estudar de novo e tá tudo bem. Eu não tenho pressa. As coisas vêm conforme o tempo. Tudo tá ocorrendo conforme a vontade de Deus. Eu vejo isso não só como a minha vontade, mas sim como a vontade de Deus. E eu sou grato a tudo isso — comentou.

Para o artista, conseguir o papel o fez refletir sobre a dura vida de figuração que teve que enfrentar.

— Comecei do zero, querendo entender como funcionava o processo por trás das câmeras. É muito cansativo, às vezes você entra muito cedo e sai muito tarde, pois são 12 horas de gravação. Como figuração, é um pouco mais puxado, já que não é bem visto e muitas vezes mal pago. Apesar da exaustão, eu queria viver essa experiência. Participei de figurações em 'Arcanjo Renegado' e 'Dom'.

RESILIÊNCIA E PACIÊNCIA

Florismar Vargas posa para foto na logo da TV Globo no Projac. Foto: Arquivo pessoal Florismar Vargas posa para foto na logo da TV Globo no Projac. Foto: Arquivo pessoal 

A resiliência em busca do sonho de viver do ofício de ator, para Florismar, define esse momento em sua vida.

— Cheguei aqui em 2022, só que a minha vida foi deslanchar agora em 2024. Então, tudo vem com o tempo. Eu não estava apressado até todo esse tempo. Falei: “Caraca, será que eu tô aqui no Rio de Janeiro à toa?” Assim, sabe? Não vai dar certo. E eu ficava imaginando. Eu não pensava nisso. Graças a Deus, eu sempre pensei positivo, não pensava desse jeito. E por mais que passou em 2022, em 2023, em 2024, um ano depois praticamente, que a minha vida foi deslanchar. Então hoje eu não tenho pressa.

A vida de Florismar começou a mudar efetivamente em 2 de maio de 2024, quando ele retornou ao Rio de Janeiro após uma visita à família em Dourados. No ônibus na capital carioca, ele viu sua agenda ficar lotada após um convite inicial para a gravação de um clipe ainda inédito de Jorge Aragão.

— Quando eu passei para o projeto do Jorge Aragão, por exemplo, foi nessa semana que eu tinha chegado. Eu estava em Dourados em abril, passei um mês em Dourados de férias e, quando estava chegando no Rio de Janeiro, entrei em um grupo e vi lá: precisamos de pessoas de perfis variados, tipo, diversidade. Foi eu chegando no Rio de Janeiro e vi isso. Eu estava dentro do ônibus quando vi esse anúncio. Eu fui, mandei meu material, só que não foi concluído. Aí o produtor me ligou e falou: “Florismar, eu tenho seu cadastro aqui agora que tô vendo, mas você precisa preencher isso, entrar nesse link, você tem que preencher esse formulário inteiro.

O produtor auxiliou Florismar passo a passo para que, ao final, após dois dias, ele conquistasse uma vaga no clipe de Jorge Aragão.

— Aí, quando eu fui ver, só falaram assim: “Você foi aprovado para um trabalho com um cantor, assim, assim, assado.” E eu falei: “Mas que cantor é esse?” Tipo, eu fiquei imaginando. Aí, com um tempinho, acho que uns dois dias antes, falaram: “Você vai gravar no clipe do Jorge Aragão. Você vai estar representando a diversidade do povo brasileiro.” Vai ter outras pessoas, negras, ribeirinhas, assim, com perfis que mostrem as pessoas ribeirinhas do Amazonas, indígenas, negros, variando os perfis. Aí eu fiquei feliz, falei: “Caraca, o Jorge Aragão!” E eu já lembrei daquela música.

Então, Florismar ligou para a mãe para dar a boa notícia, ocasião em que a mãe, fã de Jorge Aragão, disse:
— “Meu Deus, não acredito que você vai gravar com o Jorge Aragão! Ah, fala pra ele cantar aquela música pra mim!” Aí foi que o barraco desabou e ela ficou toda feliz. Todo mundo lá ficou feliz.

Depois do Jorge Aragão, Florismar estrelou peças publicitárias da Unigran Rio.

— Foi um dos maiores trabalhos que eu já fiz, por conta da visibilidade, por conta do cachê, que, graças a Deus, me ajuda também a pagar as minhas contas. Então eu vi como um grande desafio e como um grande trabalho também, por ser bem valorizado, que foi uma campanha pra Unigran Rio, onde eu era um médico indígena, trazendo a diversidade pra dentro da universidade. E eu fiquei muito feliz — declarou.

O retorno ao Rio de Janeiro foi a época em que foram surgindo trabalhos um após o outro.

— Era quinta-feira a gravação, só um exemplo, do clipe do Jorge Aragão. Na sexta, eu tinha que estar no Projac, na segunda, no Projac de novo, na terça, gravação da Unigran Rio. E assim, cara, foi uma semana bem corrida. Aí passou, passou, passou. Comecei a gravar “Mania de Você”, que eu já estava dentro, né? Foi na mesma semana de maio pra junho, então foi bem corrido pra mim, sabe? Mas foi bem gratificante, bem prazeroso, até porque eu pedi isso pra Deus e não tem como eu reclamar do cansaço nem nada. E deu tudo certo até aí.

‘MANIA DE VOCÊ’

Ator sul-mato-grossense, Florismar Vargas, conquistou papel fixo na novela Mania de Você, da TV Globo. Foto: Arquivo pessoalAtor sul-mato-grossense, Florismar Vargas, conquistou papel fixo na novela Mania de Você, da TV Globo. Foto: Arquivo pessoal

Ao TeatrineTV, Florismar revelou detalhes de como conquistou o papel fixo como shusiman em ‘Mania de Você’, enfrentando uma prova disputada.

— Eu vi um anúncio em um grupo de figuração, onde faço parte de vários grupos que escolhem elenco coadjuvante, elenco de apoio, figurantes e passistas. No anúncio, estava escrito que precisavam de profissionais de cozinha de vários ramos diferentes. No caso, eu sou sushiman. Como já estou no ramo e estudando, tive uma facilidade a mais para entrar. Foi onde mandei meu material, com todas as informações, como nome e medidas de roupa, e fui aprovado. A produtora me chamou no privado e disse: "Tal dia você vai ao Projac, onde fará um workshop."

Ele foi ao workshop acompanhado de seu chefe, Ricardo Louveira, também sul-mato-grossense, natural de Miranda (MS). Ricardo é o chefe executivo de uma rede de restaurantes japoneses onde Florismar trabalha no Rio.

— Falei com o meu chefe e perguntei: "Você quer ir?" Ele respondeu: "Se eu quero, sim." Assim, fui com ele. Aliás, ele também é de Mato Grosso do Sul. Chegando lá, tivemos a oportunidade de conhecer a casa de vidro, onde é gravado o programa 'Mais Você', da Ana Maria Braga. Para mim, isso foi uma realização de sonho. Estar lá, olhando tudo... foi maravilhoso — disse.

O workshop foi realizado atrás da casa do reality Big Brother Brasil (BBB), em uma área separada.

— Quando acontecem as festas do BBB, é ali que eles fazem todas aquelas comidas, onde preparam o buffet para a casa. Então, ficamos na cozinha do BBB, que fica atrás da casa. Ao chegar, havia várias pessoas, no mínimo umas vinte. Elas foram divididas em grupos de cinco para o workshop, mas percebemos que estavam eliminando os participantes — contou.

Em determinado momento, Florismar notou a dinâmica e comentou com seu chefe:

— "Cara, está muito estranho esse workshop." Os chefs renomados da Ana Maria Braga e da TV Globo estavam lá e acenando para o produtor. Quando uma pessoa não se saía bem, eles diziam "não". As provas eram simples, mas a pressão aumentou quando a produção da novela entrou e anunciou que escolheriam apenas cinco pessoas para ficar com o elenco. Nesse momento, senti a necessidade de me apressar — recordou.

A partir daí, a prova ficou mais tensa.

— Eu olhava para o meu chefe, que fazia um sinal positivo quando alguém se saía bem. Depois de algumas provas, chegou um vídeo que foi publicado na página da TV Globo. Nós não falamos nada, mas aparecemos fazendo as atividades junto com o elenco, incluindo Agatha Moreira, Alanis, Bruno Monteleone e Gabz.

Com o afunilamento da prova, Florismar chegou a emocionar a equipe que o avaliava.

— Nesse dia, fizemos várias tarefas, como cozinhar macarrão, picar ingredientes e ferver água. Precisavam de profissionais para evitar erros em um restaurante sofisticado. Comecei a fazer as provas na hora, cortando cebolinha bem fininha. O avaliador olhou e disse: "Agora quero ver se você assistiu mesmo." Ele comentou: "Caraca, desse jeito você até me emociona." Aí pediu um abraço, e percebi que tinha passado. Fiquei em choque: "Caraca, eu passei!" Meu chefe também passou — detalhou.

INÍCIO DAS GRAVAÇÕES DA NOVELA

Florismar celebra conquista de papel fixo na novela Mania de Você, da TV Globo. Foto: ReproduçãoFlorismar celebra conquista de papel fixo na novela Mania de Você, da TV Globo. Foto: Reprodução

Após o teste, vieram as primeiras cenas dos cinco melhores, que incluíam os dois sul-mato-grossenses.

— No dia, gravamos com Agatha, Gabz, Bruno Montaleone e Alanis. A cozinha que me ajudou a sobreviver no Rio de Janeiro garantiu meu primeiro grande trabalho na TV Globo, pois o teste não foi apenas para uma participação — destacou.

O trabalho, segundo Florismar, conta com uma rotação, e por isso ele não estará todos os dias na tela.

— Eu e meu chefe somos cozinheiros, e há outros auxiliares. A história se passa em um restaurante dentro de um resort em Angra dos Reis, mas tudo é gravado no Projac. Existem dois turnos: às vezes gravam apenas um turno pela manhã, e outras vezes eu e mais algumas pessoas gravamos à noite. Assim, pode haver variações na minha presença nas cenas — explicou.

Florismar destacou um momento marcante ao contracenar com Gabrielly Nunes.

— Foi surreal viver tudo isso. Já fiz figurações em projetos como 'Arcanjo Renegado' e 'Dom', onde contracenei pela primeira vez no centro do Rio com a Gabz. Essa cena ainda não foi ao ar, mas foi maravilhoso mostrar como funciona uma cozinha de verdade. E ela ali... é surreal estar passando por isso.

CONTRACENANDO COM ESTRELAS

Adriane Esteves, Mariana Ximenes e Bruno Montaleone ao lado de Florismar Vargas. Fotos: ArquivoAdriane Esteves, Mariana Ximenes e Bruno Montaleone ao lado de Florismar Vargas. Fotos: Arquivo

‘Mania de Você’ é uma novela dividida em três fases, e será na segunda fase que Florismar deve brilhar na cozinha.

— A novela já está nessa troca de fase, onde Chay Suede assumirá o resort e entregará a cozinha à Viola, interpretada pela Gabz. É nesse momento que começaremos a contar a história, e a gente aparecerá na cozinha junto com grandes artistas renomados.

A atriz Agatha Moreira e Florismar. Foto: ArquivoA atriz Agatha Moreira e Florismar Vargas. Foto: Arquivo

Apesar de respeitar o momento de cena, Florismar revelou que não esconde sua admiração pelos astros da teledramaturgia.

— É surreal, eu não vou mentir. Eu sou fã e sempre peço uma foto. Não podemos incomodar os artistas, pois eles precisam estar concentrados. Mas no final das gravações, sempre falo: "Ô Ágata, posso tirar uma foto com você? Pode mandar um beijo pra tal pessoa?" O mesmo com Bruno Montaleone, Gabz e Alanis.

Dividir cena com pessoas que o inspiraram a seguir a carreira de ator é a realização de um sonho.

— Estar na cozinha com grandes artistas que só via pela TV é incrível. Conheci Bruno Montaleone em 'Verdades Secretas 2', acompanhei Ágata nas duas temporadas da série, e adoro a Alanis, nossa Juma do Pantanal. Trabalhar com eles é uma verdadeira realização. Eriberto Leão, que é nosso gerente do restaurante no resort, também é um ótimo profissional, interpretando um personagem rígido.

Um dos momentos mais esperados por Florismar é contracenar com o "dono do resort".

— O Chay Suede, a gente ainda não gravou juntos. Apesar de ele ser o dono do resort e o restaurante estar lá, ainda não tive a oportunidade de contracenar com ele, pois as gravações não são diárias e as equipes variam.

'Mania de Você', estreou em 9 de setembro. O folhetim é de João Emanuel Carneiro com direção artística de Carlos Araújo.

Os protagonistas da novela das 9 são Nicolas Prattes e Gabz.

DIFERENCIAL É A QUALIFICAÇÃO

Florismar continua seus estudos para se especializar, apesar dos preconceitos enfrentados por sua origem.

— Tudo que fiz até aqui, trabalhando em diversos empregos, me preparou. Enfrentei a dura realidade de um adolescente indígena que, muitas vezes, não é bem-visto. Sempre fui extrovertido e comecei a trabalhar cedo.

Questionado sobre suas experiências em Dourados, o artista contou:

— Meu primeiro emprego foi de entregador de bicicleta em bairros nobres como Jardim Europa e Jardim Mônaco, com 14 ou 15 anos. Trabalhei meio período, pois estudava. Isso me ajudou a não depender só dos meus pais. Sempre tive o sonho de ser ator. Trabalhei em diversos serviços, desde limpar calçadas até colheita de maçã. Durante a pandemia, trabalhei em uma olaria, uma experiência difícil, mas que me ajudou financeiramente. Comparando, na cozinha você trabalha limpo, enquanto na olaria o trabalho é pesado. Mas foi uma experiência incrível que valorizo.

O artista revelou suas estratégias para conquistar trabalhos e como sua identidade indígena trouxe oportunidades.

— Entrei em várias agências e grupos de WhatsApp de figuração e elenco. Sou o único indígena em uma das agências, o que me dá preferência em campanhas de diversidade, como a da Previ, do Banco do Brasil. Minha identidade me ajudou a conseguir essas oportunidades.

Apesar da etnia garantir alguma preferência, Florismar enfatiza a importância da qualificação.

— Não adianta ser indígena apenas; é preciso se qualificar. Estar diante das câmeras exige habilidades como emoção e interpretação. É fundamental se preparar para as exigências do mercado.

REFERÊNCIAS

O ator Florismar Vargas (com camiseta vermelha) na adolescência, ao lado da família na Aldeia Jaguapiru. Foto: Reprodução.O ator Florismar Vargas (com camiseta vermelha) na adolescência, ao lado da família na Aldeia Jaguapiru. Foto: Reprodução.

Para Florismar, suas origens humildes e experiências de vida o prepararam para este momento na carreira.

— Tudo que passei até agora tem contribuído para meu crescimento e formação como ator. Estou em busca dessa formação.

Ele também busca incentivar outros artistas, indígenas ou não, a buscarem seus sonhos.

— Minhas redes sociais estão abertas para quem precisa de incentivo. Recebo muitas mensagens de fãs, tanto indígenas quanto não indígenas, que se identificam com minha trajetória. Um menino venezuelano me contou que seu sonho é ser ator, e eu o orientei sobre como começar.

Florismar deseja que as pessoas não precisem deixar suas famílias para seguir seus sonhos.

— Eu explico que é possível buscar seus objetivos sem abandonar a família, diferente da minha experiência.

Para o ator, as gestões de Dourados, Campo Grande e outras cidades de Mato Grosso do Sul não oferecem apoio adequado aos artistas que desejam seguir a carreira de ator.

— Converso com jovens indígenas e não indígenas que sonham em atuar e me disponibilizo sempre que tenho um tempinho. Fico emocionado com as mensagens que recebo, pelo carinho das pessoas.

PRESERVAÇÃO E INCENTIVO

O ator acredita que o incentivo público permitirá que artistas surjam em MS e não precisem sofrer tanto para alcançar seus sonhos. Foto: Reprodução.O ator acredita que o incentivo público permitirá que artistas surjam em MS e não precisem sofrer tanto para alcançar seus sonhos. Foto: Reprodução.

Para o artista, Mato Grosso do Sul deveria investir em projetos que ajudem a descobrir e impulsionar talentos locais.

— Precisamos de noites culturais, incentivos à música, à dança e à cultura em geral. No caso dos povos indígenas, por exemplo, é fundamental que nossa cultura não se perca. Nossa cultura é rica, mas, com o tempo, já está se desfazendo. Muitas crianças e adultos não sabem mais o significado de danças tradicionais. Por isso, é essencial promover incentivos culturais que ajudem a resgatar essa cultura, não apenas para os artistas, mas também para os indígenas.

Florismar comentou que esses talentos precisam do apoio do estado para dar apenas o primeiro passo.

— Às vezes, a pessoa canta bem, mas tem vergonha. Às vezes, atua ou dança bem, mas sente medo. Tudo isso é cultura, tudo é arte. Nossas danças são ricas e preciosas para nós.

 
 
 
 
 
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Além disso, para o artista, é preciso ser feito um trabalho sério de preservação da cultura indígena. 

— Os indígenas devem preservar sua cultura, que é muito rica, assim como seus jovens. Precisamos de projetos que resgatem nossa identidade, pois a cultura deve ser transmitida de geração para geração. Se eu passar minha cultura para meu filho, e ele para o neto, isso não pode morrer. Além de incentivar a cultura não indígena, é importante descobrir novos talentos. Em nossa aldeia, temos cantores, rappers e atrizes, pessoas que só precisam de um empurrãozinho. Políticas públicas direcionadas aos indígenas e à população de Dourados e Mato Grosso do Sul poderiam ajudar a revelar esses talentos. Noites culturais com premiações também poderiam incentivar a população a se destacar.

Com mais incentivos, Florismar disse que os talentos não precisariam deixar o estado para buscar oportunidades.

— Se houvesse mais incentivos, não haveria outros Florismars que precisam sair, deixar suas famílias e enfrentar dificuldades em busca de realizar um sonho tão distante. Eu não passei por dificuldades aqui, mas enfrentei muitos desafios em grandes metrópoles. É importante que não haja mais Florismars que precisem abandonar suas famílias. O governo e os órgãos públicos precisam olhar para isso, para que não seja necessário sair do estado para conquistar um sonho. Se tivéssemos essas oportunidades em nossa cidade, facilitaríamos ainda mais a realização dos sonhos de todos, seja em teatro, dança contemporânea ou outras formas de arte — finalizou.