Mais de 50 acadêmicos recebem formação contra fake news em MS
Iniciativa do programa Diversidade nas Redações, da Enóis, apoiado pela Google News Initiative
17 SET 2024 • POR TERO QUEIROZ • 12h59Cinquenta e quatro acadêmicos de Jornalismo receberam, na tarde desta segunda-feira (16.set.24), a primeira formação conduzida pelo TeatrineTV na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). A iniciativa faz parte do programa Diversidade nas Redações - Desinformação e Eleições da Enóis, apoiado pela Google News Initiative e em parceria com outras nove organizações de jornalismo local e independente.
As formações abordam temas como checagem, mapeamento de desinformação, produção cultural e engajamento comunitário.
A jornalista Camila Zanin, mestre em comunicação pela UFMS, conduziu as formações. Ela atuou como repórter no Correio do Estado e como Redatora Social Media no portal Mais Pet e pesquisa o ecossistema da desinformação contemporânea em Mato Grosso do Sul, incluindo temas como infodemia. Para os alunos da UFMS, Camila apresentou noções básicas de como identificar, checar e quais ferramentas usar contra o avanço das fake news na era tecnológica.
Pedro Vyeyra, estudante do 6º semestre de Jornalismo na UFMS e atuante na Agência Veracidade, revelou que não tinha chegado tão perto da área de checagem de fatos como foi apresentado por Camila. Para ele, a formação foi essencial: “Considerando que estamos na era do imediatismo, sendo bombardeados o tempo todo com informações, acho que é de suma importância para quem trabalha com isso. Porque, querendo ou não, o jornalismo é sobre trazer informações verídicas para as pessoas. E, ao lidar com isso todos os dias, vemos que nossa profissão está sendo constantemente atacada por questões políticas, religiosas e outras. A própria população perdeu a fé em nossa profissão. Tratar e disseminar essas informações, mesmo que seja difícil alcançar um grande público, é muito gratificante quando vemos que há mais pessoas buscando a mesma coisa que nós”, comentou.
Questionado sobre o momento mais marcante da formação, Vyeyra disse: “Foi uma quantidade grande de informações. Mas a parte que ela abordou sobre as dicas de checagem, como verificar as fontes, sempre fazemos isso. Perguntamos: ‘De onde saiu essa informação? Qual é o meio onde você viu isso?’ Para realmente checar a fonte, porque às vezes recebemos uma informação, principalmente de familiares, e não temos o senso crítico para questionar de onde veio. Eu acho que quando ela formalizou aqueles slides e falou sobre as imagens e ferramentas, isso é algo que eu mais valorizei e que vou levar para a profissão”.
Além disso, Vyeyra destacou o momento em que Camila abordou as novas tecnologias na comunicação: “Quando ela falou sobre os mecanismos para identificar o uso de inteligência artificial em imagens e vídeos, foi um ponto muito relevante. A gente tem muita dificuldade em encontrar ferramentas para isso, e quando ela trouxe esses sites e softwares, foi um momento em que eu tirei várias fotos para usar na busca de checagem. Esses softwares serão úteis nas minhas próximas checagens, principalmente devido à inteligência artificial”.
Bastante engajado no debate, Felipe Silva Arguello dos Santos, de 21 anos e no oitavo semestre de Jornalismo, contou por que integrou a equipe da Agência Veracidade: “Justamente para entender como a desinformação estava se movimentando e fazendo com que nós, jornalistas, fôssemos pautados pela lógica das redes”.
Segundo Felipe, a formação com Camila ampliou seus conhecimentos: “Já acessamos alguns dos livros que a palestrante nos indicou, e foi muito interessante ver como podemos usar as ferramentas disponíveis para auxiliar no combate à desinformação”.
Camila Zanin alegrou-se com o interesse dos acadêmicos na formação: “Para mim, isso é muito importante. Eu já venho de uma linha onde quero ser professora, então, para mim, esse processo de educação, de colocar no coração e na cabeça dos jovens essa vontade de pesquisar e ir além, é muito valioso. Realmente, agradeço a vocês. E, cara, para mim, não foi nada vago; muito pelo contrário, foi extremamente gratificante. Eu nem imaginava que viriam tantas pessoas e não sabia que havia tanto interesse na questão. Então, para mim, é um conhecimento de dois anos de mestrado, um pouco mais, que eu achava que ficaria engavetado. Agora estou vendo que não vai ficar, que será útil e ajudará pessoas, contribuindo pelo menos um pouquinho para esse contexto complexo e caótico. Quanto mais pessoas tivermos do nosso lado, ajudando nesse processo de checagem e ensinando a identificar informações falsas, é muito importante e gratificante”, considerou.
Tais Fenelon, professora do curso de Jornalismo e coordenadora da Agência Veracidade da UFMS, afirmou que iniciativas como o Diversidade nas Redações - Desinformação e Eleições são fundamentais para a educação no combate à desinformação: “O trabalho do jornalista é, de fato, fazer checagem. Mas quando você entra numa rede social para distinguir o que é falso do que está sendo distorcido e trabalhar em cima desse conteúdo, é importante porque a rede está cheia de conteúdo falso. Assim, quando fazemos um contraponto, esse conteúdo também circula, embora menos. Então, é essencial também fazermos um contra-ataque”, comentou.
Para Fenelon, a cultura está no centro das discussões sobre o combate à desinformação: “Eu acho que a cultura está em tudo. Ela faz parte das nossas relações e do nosso ambiente. Cultura é tudo e faz parte da nossa vida em sociedade. Trazer a discussão sobre combate à desinformação atua a favor da cultura, porque não podemos viver em um mundo falso ou imaginário”, opinou.
Laura Seligman, coordenadora do curso de Jornalismo e professora da UFMS, revelou que essa foi a primeira formação que reuniu várias turmas ao mesmo tempo sobre o combate à desinformação: “Como um evento que reúne mais de uma turma, é a primeira vez. Mas temos a felicidade de contar com a Agência Veracidade, que desde o início de 2023 faz esse tipo de verificação. Eventualmente, também temos uma disciplina de observação, o Observatório de Mídia, que eu mesma conduzo, e fazemos também verificação de qualidade no jornalismo”.
Laura celebrou o momento formativo na unidade: “Foi lindo ver a quantidade de alunos e o interesse deles. Eles não vieram obrigados; vieram porque têm interesse em se tornar bons profissionais”.
Ela também destacou a importância da cultura no combate à desinformação: “Muita gente tem uma concepção errada do que é cultura, achando que ela está apenas nos livros ou numa canção. Mas a cultura permeia todas as nossas atividades na sociedade. Para que eles entendam a sociedade em que vão atuar de forma mais complexa, e não rasa ou bipolar, como está acontecendo, é importante que eles vejam como a cultura está presente em todas as nossas atividades”, concluiu.
O DIVERSIDADE NAS REDAÇÕES 2024
Em 15 de agosto de 2024, a Énois Laboratório de Jornalismo iniciou o programa Diversidade nas Redações - Desinformação e Eleições, focado no combate à desinformação eleitoral. O projeto, apoiado pela Google News Initiative e em parceria com 10 organizações de jornalismo local, incluindo a TTVChecaZap, agência de combate a desinformação do TeatrineTV, destina recursos financeiros para fortalecer a checagem de notícias falsas, especialmente em comunidades periféricas.
Considerando números do Instituto Data Favela, a Enóis ressaltou que 89% das pessoas em periferias no Brasil já foram vítimas de fake news, e 90% da população brasileira admitiu ter acreditado em notícias falsas.
Preocupação global, a desinformação em contextos tem sido utilizada como estratégia política e de poder por diversos grupos, em sua maioria de extrema-direita. "Veículos de notícias pequenos e médios são os responsáveis, muitas vezes sozinhos, por produzir jornalismo e checar informação para suas comunidades ou municípios. Por meio da Google News Initiative, buscamos apoiar iniciativas como a da Énois e fortalecer o jornalismo local, algo especialmente importante neste momento de eleições", disse Marco Túlio Pires, gerente de Parcerias de Notícias do Google no Brasil.
Mirando reverter esse cenário problemático, o programa de combate a desinformação coordenado pela Enóis com apoio do Google News Initiative distribui R$ 400 mil entre dez redações locais.
As dez organizações que integra o Diversidade nas Redações 2024 já realizaram outros projetos com a Enóis. “A maioria das organizações parceiras no projeto já andam junto com a Énois há bastante tempo. Algumas, a gente viu surgir e crescer e decidimos resgatar essa relação em rede pensando no que faz sentido para elas, desde a questão de recursos até o foco na cobertura das eleições mesmo. Optamos por articular com duas organizações por região e fomos apresentando o projeto”, pontuou Sanara Santos, coordenadora do Diversidade nas Redações - Desinformação e Eleições e diretora de Formação da Énois.
TTVCHECAZAP
Com sede em Mato Grosso do Sul, a equipe de redação do site www.teatrinetv.com.br passou por treinamentos sobre checagem de informações e comanda agora um projeto de verificação de notícias falsas em grupos de WhatsApp e outros aplicativos de mensagem. “Nós contratamos profissionais locais e estamos recolhendo mensagens falsas em diversos grupos e verificando a veracidade. Se for falso, faremos um conteúdo jornalístico desmascarando a fake news. Faremos isso por meio do projeto ‘TTVChecaZap’, que carrega as iniciais do site”, explicou o Tero Queiroz, fundador do TeatrineTV, considerado o primeiro e único site de jornalismo 100% cultural do Centro-Oeste.
O veículo atuará na produção de notícias verificadas com foco na Cultura – seu nicho principal – e ampliando para Educação e Meio Ambiente. “Tudo que políticos, pessoas comuns com fins políticos e demais agentes da sociedade compartilharem envolvendo essas três áreas, vamos tentar verificar. Se as pessoas identificarem fake news também podem nos enviar pelos canais do site que são abertos”, detalhou Tero.
Sugestões de pauta podem ser enviadas para o e-mail teatrinetv@gmail.com.
FORMAÇÕES CONTRA FAKE NEWS
Para replicar os conhecimentos sobre checagens recebidas da Enóis, o TeatrineTV oferecerá formações presenciais em Campo Grande (MS). “Teremos três formações: essa que realizamos na 2ª.feira, 16 de setembro na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e a outra será nesta 3ª.feira, 17 de setembro, na Uniderp. Ambas são formações com turmas de comunicação. A terceira estamos programando para ocorrer em uma ONG”, detalhou Alyadna Freitas, coordenadora de ações formativas e colaboradora do TeatrineTV.
Além do TeatrineTV, integram a rede de checagem montada pela Enóis os seguintes veículos independentes de comunicação: Agência Lume (RJ), Carta Amazônia (PA), Carrapicho Virtual (BA), Com_Texto (MT), Correio do Lavrado (RR), Olhos Jornalismo (AL), Nonada Jornalismo (RS), Transmídia (SP) e Sul21 (RS).
A Diversidade nas Redações – Desinformação e Eleição conta com o patrocínio da Google News Initiative. Ainda, o projeto conta com o apoio da Agência Lupa, Agência Tatu, do Desinformante e do Reocupa.
Cada uma dessas iniciativas acima irá mapear grupos de Whatsapp e outros aplicativos de mensagem e rede social em seus territórios para identificar e checar possíveis publicações inverídicas ligadas com o contexto eleitoral. A metodologia utilizada é a do Checazap, primeiro projeto de checagens de notícias a atuar dentro do WhatsApp no Brasil, desenvolvido pela Escola de Jornalismo da Énois e o Data_Labe.
As checagens e matérias, assim como mais informações sobre o Diversidade nas Redações - Desinformação e Eleições poderão ser conferidas nos sites e nas redes sociais da Énois Laboratório de Jornalismo e das organizações parceiras. Checagens e matérias do projeto podem ser republicadas, é só entrar em contato: sanara@enoisconteudo.com.br
Para apoiar o trabalho da Énois, é possível fazer doações para a campanha recorrente da organização.