No berço do sertanejo, Guto & Gael se destaca com 'modão singular'
24 anos depois, amigos montam formação com qualidades impressionantes
16 SET 2024 • POR TERO QUEIROZ • 18h00
Mato Grosso do Sul é um dos estados considerado ‘berço’ da música sertaneja que produziu estrelas como Michel Teló, Luan Santana, Munhoz e Mariano, Gabriel Diniz, Jads & Jadson, Almir Sater, Ana Castela e tantos outros. Com o objetivo de alcançar reconhecimento semelhante, centenas de duplas se formam nos 79 municípios do estado, mas uma dessas talvez seja a dupla sertaneja mais singular de MS: Guto & Gael.
Amarildo é nome real de 'Guto' e 'Gael' é o nome artístico de Osiel. Ambos têm 42 anos e são naturais do interior do estado. “Fomos criados no interior. Eu, Guto, sou de Mundo Novo, mas passei a maior parte da minha infância em Ponta Porã. O Gael também é de Ponta Porã”, explicou o 'primeira voz'.
Guto começou na música influenciado pelo pai, que se chama Amarílio e toca sanfona. Além disso, Guto tem dois irmãos que também são músicos. “Inclusive, um deles toca com a gente na nossa banda. Ele é o baterista Ademílson, mais conhecido como Nego”, destacou.
Gael iniciou sua trajetória musical na igreja e, aos seis anos, já era músico oficial da banda do centro religioso. Naturalmente, ele seguiu a carreira musical, assim como três de seus irmãos.
ENCONTRO E O INÍCIO DA DUPLA
Cantores se conheceram adolescentes, mas a formação ocorreu somente 24 anos depois. Foto: Arquivo Amarildo e Osiel se conheceram em 1993, na cidade de Ponta Porã, quando tinham 11 anos. Na época, aos domingos, uma rádio local organizava um festival de música ao vivo. Amarildo se apresentava com seu irmão Anderson, enquanto Osiel cantava com seu irmão Fernando. “Foi quando o pai do Guto viu que o Gael tocava viola e pediu a ele para fazer o arranjo da música para os filhos. O Gael prontamente aceitou, e foi assim que nos conhecemos”, contou a dupla à reportagem do TeatrineTV.
Guto e seu pai Amarílio, tocador de sanfona. Foto: Arquivo Apesar de terem se conhecido na adolescência, Amarildo e Osiel seguiram caminhos musicais separados por mais 24 anos. Ambos passaram por aclamados grupos de bailão, como Zíngaro e Tradição, voltando a se encontrar em 2017. “Quando saí do Tradição e ele do Zíngaro, eu comecei a produzir as duplas daqui. O Guto começou a tocar contrabaixo e, em um determinado momento, contratei-o para um freelance. Eu estava produzindo um show de uma dupla em Ribas do Rio Pardo. Na época, eles estavam começando e fizeram um show de 1h30. O ginásio estava lotado, com cerca de 2 mil pessoas. O contratante da dupla ficou desesperado e pediu: ‘Vocês precisam tocar mais uma hora, por favor!’ Mas eles não tinham mais repertório”, lembrou Gael.
Uma das primeiras vezes que Amarildo e Osiel, ainda sem formação, realiza show juntos. Foto: Arquivo Assim, a solução foi sugerida pela banda. “Os integrantes da banda, que já sabiam que a gente cantava e estava nos grupos, sugeriram: ‘Façam vocês, a gente acompanha!’ O Guto concordou em ajudar para salvar a situação, e eu também. A gente só falava a música e cantava. Fizemos mais 1h20 de música e, ao final, quando saímos do palco, havia uma fila de pessoas para tirar foto com a dupla. Nós, como músicos, decidimos sair para que a dupla pudesse atender o público. Mas o contratante disse: ‘Não, esse pessoal todo quer tirar foto com a segunda dupla, que era a gente!’ (risos)”, recordou.
A noite marcaria então o início de uma das mais afinadas e preparadas duplas sertanejas sul-mato-grossenses. “Depois, fomos para o hotel e o Guto perguntou se eu estava interessado em seguir um projeto com ele. Eu aceitei, e assim montamos a dupla”, detalhou o segundo voz sobre o surgimento da parceria de 7 anos.
No começo a dupla se chamava Alê & Oziel, mas esse nome precisou ser alterado por motivos de patente. “Na hora de fazer o registro, por ter uma dupla com o nome muito parecido, fomos aconselhados a mudar o nome, uma vez que ainda estávamos começando, o projeto tinha 2 anos no máximo, achamos melhor mudar então nos tornamos Guto e Gael”, revelou a dupla.
CARREIRA ATUAL E PERSPECTIVAS
Na cena musical sul-mato-grossense, é comum encontrar Guto & Gael tocando em eventos. Eles oferecem um repertório diversificado que inclui canções sertanejas tradicionais, os chamados ‘modões’, músicas atuais e autorais. O que torna suas apresentações tão especiais é a habilidade da dupla em variar os instrumentos e a sua afinação vocal. Isso permite que eles ofereçam um show único e marcante para o público.
Além de MS a dupla começou a abrir novos horizontes nos estados vizinhos como Paraná, São Paulo, Mato Grosso e Minas Gerais e já foram convidados por três vezes para se apresentarem em festivais de música na Argentina e no Paraguai.
A dupla tem três CDs e 2 DVDs, o primeiro audiovisual leva o nome de Guto e Gael "Só Lado B" o segundo DVD que será lançado neste mês de setembro se intitula Guto e Gael "Só aquelas", um trabalho acústico mostrando toda experiência e musicalidade da dupla.
Guto & Gael comentou que o modão é um dos seus trunfos mais reconhecidos pelo público. “Realmente essa é uma de nossas características mais marcante nas apresentações, as pessoas gostam muito do nosso estilo de interpretar as músicas, nosso estilo lembra bastante o modo dos sertanejos mais modão, mas também fazemos músicas atuais do sertanejo universitário, mas além fossemos avaliar num quadro geral, diria que sim, realmente são poucas duplas que fazem esse estilo que fazemos, mais voltado pro modão”.
Guto & Gael tornou-se dupla requisitada em MS. Foto: Arquivo Para chegar à qualidade musical atual, a dupla destacou a importância de referências. “Cantando como Emílio Santhiago, além de músicas latinas e claro, o sertanejo raiz, Milionário e José Rico, Zezé de Camargo e Luciano, João Mineiro e Marciano, César e Paulinho e por aí vai. O Gael também cresceu nesse mesmo cenário sertanejo, mas como ele é guitarrista, gosta muito também de um bom Rock, Pop-Rock, Country, isso me influenciou bastante na maneira de tocar”, mencionou Guto.
Buscar referências musicais em diversos gêneros é, sem dúvidas, uma das estratégias da dupla. “Achamos que não devemos ter preconceito de maneira nenhuma com nenhum gênero musical, arte é sempre arte, se você não gosta ok, mas tem 10 que gosta e para ele isso é arte, enfim, gostamos daquilo que julgamos ser bom, nesse sentido, um músico deve sim ouvir vários estilos, isso aumenta seu conhecimento musical e afina o ouvido para outros sons”, orienta a dupla.
Sete anos depois do início do projeto, Guto & Gael acredita que o segredo para fazer a relação musical forte e promissora está no respeito. “É a base de tudo, não deve existir orgulho por nenhum dos dois. Saber admitir os erros é uma virtude, brigas e desconfiança não é bom em nenhum relacionamento e a falta de planejamento também não pode existir, pois se não tiver um propósito, uma meta, aí não haverá ânimo para trabalhar, é preciso estabelecer um objetivo e seguir em frente”, compartilha.
Com esse planejamento, Guto & Gael produzem suas músicas e seus materiais audiovisuais, como o que pretende lançar em setembro. “Estamos finalizando o projeto acústico que sempre quisemos fazer, chama-se: ‘Guto e Gael’ – Só Aquelas, um DVD gravado ao vivo em Campo Grande, que logo, logo estará disponível para todos curtirem”, adiantam.
Sem falsa modéstia, Guto & Gael também fura a bola quando revela seus desejos para o futuro artístico. “Se respondermos que fazer sucesso é nossa meta e o que almejamos, acredito que ficará uma resposta vaga, porque com referência ao sucesso, acreditamos que já temos sucesso no que fazemos, já sobrevivemos da música, já temos nossos fãs, nossos trabalhos realizados, mas a gente sempre espera que melhore a cada dia mais, claro que gostaríamos muito de ficar conhecidos no Brasil inteiro pelo que fazemos, viver bem da nossa profissão, mas estamos no caminho, um dia de cada vez, um degrau por vez e chegaremos lá”, finaliza a dupla.