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GODÓ, O MENSAGEIRO DO VALE

Caco Monteiro apresenta monólogo dirigido por John Mowat na Capital de MS

Trabalho mistura ficção e história real, narrando a vida de uma família que transforma sua existência ao descobrir que um vagalume é, na verdade, um diamante

28 AGO 2024 • POR TERO QUEIROZ • 14h26
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'Godó, o mensageiro do Vale' é fruto de uma extensa pesquisa conduzida por Caco Monteiro entre 2000 e 2014, envolvendo as histórias de garimpo de diamantes na Chapada Diamantina. - Reprodução/Divulgação

O ator, produtor e diretor baiano Caco Monteiro apresenta o monólogo teatral "Godó, o Mensageiro do Vale", às 20h dos dias 29 e 30 de agosto, no Teatro Aracy Balabanian, em Campo Grande (MS). No estado, o monólogo também foi apresentado em 23 de agosto no Palco Sol dentro da programação do 23º Festival de Inverno de Bonito (FIB).

A obra é inspirada em eventos que marcaram o Vale do Pati, na Chapada Diamantina (BA), entre os anos de 1937 a 1985. "Eu entrei no Vale do Pati pela primeira vez em 2001 para fazer uma trilha ecológica. Me encantei pelo lugar de tal forma que quando voltei para casa depois de cinco dias caminhando por todo percurso do vale (42km de extensão), escrevi uma fábula. A história de um menino de 9 anos de idade que acha uma vagalume de dia no riacho do fundo de casa, junto com seu amigo invisível e a sua amiga galinha de estimação. Quando ele mostra para sua mãe seu vagalume, sua mãe diz que aquilo não era um vagalume e sim um diamante. A partir daí a história dessa família toma um novo rumo", introduziu Caco em entrevista ao TeatrineTV.  

Gódo, o Mensageiro do Vale foi apresentado no 23º Festival de Inverno de Bonito. Foto: Altair SantosGódo, o Mensageiro do Vale foi apresentado no 23º Festival de Inverno de Bonito. Foto: Altair Santos

A faísca em forma de fábula, anos mais tarde daria vida a história sobre a trajetória de Godó. "Em 2014, eu resolvi montar em forma de teatro. Eu queria juntar a minha fábula com histórias reais do vale. Sou apaixonado pelo gênero literário do 'realismo fantástico' e fui fazer uma pesquisa para entender o Vale do Pati", apontou.  

Para chegar ao texto do monólogo, Caco realizou uma pesquisa aprofundada sobre o garimpo de diamantes na Chapada Diamantina. "Fiz durante dois anos essa pesquisa buscando histórias e fatos reais com os últimos moradores do vale. Eram duas mil famílias que viviam da sua terra plantando café e banana até que foram expulsos pelos governos federais (militar e Sarney). Entrei no vale que é um lugar de difícil acesso e fiz diversas entrevistas com as oito últimas famílias que moram e vivem hoje do turismo ecológico. Hoje o Vale do Pati faz parte do Parque Nacional da Chapada Diamantina. Assim nasceu o texto teatral do Godó. Esse foi o início do meu método de criação do meu monólogo", detalhou o baiano. 

Na trama, Godó começa como um menino de nove anos que, com sua mãe Dalzija e seus amigos imaginários Biziu e Zenáide, enfrenta as adversidades trazidas pela proibição do cultivo de café na região e o consequente deslocamento forçado das famílias. Caco contou que seu texto é imerso na magia da localidade. "Eu visito a Chapada Diamantina desde a década de 70, tenho um irmão que tem uma pousada no Vale do Capão, vizinho ao Vale do Pati. Esses dois vales são circundados por cidades que viveram durante anos da extração de diamantes. Época dos coronéis e jagunços. Fui ator do filme 'Cascalho' do cineasta baiano Tuna Espinheira e essa região sempre me fascinou pela sua grandiosidade mística com o 'cristal'. Essa região por causa da sua morfologia calcária e de cristais tem uma energia muito grande e ela me levou até o Vale do Pati onde achei um 'shangrilá' e a pureza da alma humana ainda intacta. Isso me motivou a escrever esse texto teatral", disse.  

Com uma carreira de 45 anos, Caco entrega uma performance complexa dando vida ao personagem Godó em sua fase de criança mais avançada, aos 90 anos, além de dar vida à mãe, pai, e até mesmo a uma galinha de estimação do protagonista. "Há muito tempo eu queria fazer um espetáculo que o ator, somente o ator fosse o centro da trama, sem recursos cenográficos ou projeções que interferissem na historia narrada. O ATOR na sua pura essência interpretativa. Godó foi uma desafio para mim, pois é o meu primeiro texto autoral e a primeira vez que estou em cena sozinho. Meu maior desafio foi criar um texto que eu contracenasse comigo mesmo. E foi assim que foram surgindo os personagens, alguns baseados em alguns moradores do vale e outros através de historias contadas pelos livros que li para a minha pesquisa e que desse fluência a minha história. A minha trilha são sons de cachoeira, rio, pássaros, sons de lenha queimando, bichos, etc. Meu cenário é uma lona de caminhão pendurada com pinturas rupestres dos personagens da minha história. Toda a concepção criada foi para levar o público/plateia para dentro do vale junto comigo", adiantou Caco.  

'Teatro Físico' é umas das técnicas presentes no monólogo de Caco Monteiro. Foto: Reprodução'Teatro Físico' é umas das técnicas presentes no monólogo de Caco Monteiro. Foto: Reprodução

Desde sua estreia no Circo do Capão, na Chapada Diamantina, em janeiro de 2017, 'Godó, o Mensageiro do Vale' tem percorrido diversas localidades, incluindo cidades em Portugal, São Paulo, Minas Gerais, Sergipe e até mesmo Luanda, em Angola. De acordo com o diretor, uma das grandes preocupações de inicio era saber se o texto era universal, pois achava que ele era muito localizado na região da Chapada. "Ledo engano meu! Por onde passei fomos bem entendidos e aplaudidos. O TEATRO é mágico por isso. Ele chega no coração das pessoas se você tem uma história fantástica para contar. E a linguagem cênica do meu espetáculo é falada em 'sertanês' baiano e mesmo assim chega e toca no coração da plateia", declarou.  

O monólogo conta com a direção do inglês John Mowat, o qual Caco conheceu por meio do espetáculo que ele dirigiu, 'Édipo Rei' do grupo português 'Chapitô'. "Fiquei encantado com a sua direção, de como ele levava seus atores para o centro do história, exatamente o que eu estava buscando como pesquisa teatral naquele momento. Dois anos depois fui a Lisboa encontrá-lo para convidar para a direção do meu monólogo. Ele topou na hora, amou o texto e começamos a trabalhar. Levei ele para o Vale do Capão, para ele entender a 'ambiência' de que estávamos lidando no espetáculo", lembrou.  

Para chegar aos 5 personagens de maneiras originais, Caco explorou resultados das técnicas desenvolvidas pelo diretor inglês. "Usamos o método 'Teatro Físico Visual', onde ele [John Mowat] divide o corpo do ator em cinco partes: o andar, a postura, o gestual, a voz e o olhar. E foi com esse método que construí os meus cinco personagens sem ter que sair de cena para mudar de figurino, apenas com o olhar, no andar e a voz, a mãe, o pai, a galinha, ele Godó com 90 e com 9 anos de idade vivem e se relacionam em cima do palco. Viva o TEATRO e a sua magia cênica", completou. 

A abordagem de Mowat é complementada pela iluminação de Jorginho de Carvalho, a trilha sonora de Leco Brasileiro, e a preparação corporal de Thaís Bandeira. O cenário é projetado por Daniela Steele, e o figurino é assinado por Maurício Martins.

SERVIÇO 

A apresentação no Teatro Aracy Balabanian tem a entrada gratuita. O espetáculo começa às 20h em ambos os dias e os ingressos podem ser reservados no Sympla, por meio do link abaixo: