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CINEMA

"Quase como conto de fadas", diz Joel Yamaji sobre oficina de roteiro no FestiVali

Cineasta elogiou o empenho dos jovens estudantes e o pioneirismo do festival de Ivinhema (MS)

16 AGO 2024 • POR ALY FREITAS | TERO QUEIROZ • 22h44
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Foto: Renan Braga

O cineasta Joel Yamaji integrou a programação do 18º Festival de Cinema do Vale do Ivinhema (Festivali), onde ministrou de 13 a 15 de agosto uma oficina de Técnicas de Roteiro.

Mestre em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da USP, onde atua no Departamento de Cinema, Rádio e TV, Yamaji coordena também o curso profissionalizante em cinema da Escola Inspiratorium de Cinema e Artes, na qual é professor de Direção Cinematográfica.

Entre os diversos filmes realizados, destacam-se os premiados Assembleias (1977), As mesma perguntas (1981), Cafundó (1986), O Espectador que o cinema esqueceu (1990), Impressões para Clara (1999), Flores para os mortos (2000), A Ira (2004), Um grão de claridade (2010) e Cartas de Ourinhos (2014), entre outros.

“Eu estive aqui há alguns anos, pelo menos uns 4 anos se não me engano, para dar uma oficina de roteiro. E novamente fui convidado pelo Joel Pizzini, o curador, para vir desta vez também. O que eu senti foi um grande avanço. Me surpreendeu, no sentido de que a realidade aqui, como em todo lugar, tem a sua particularidade.  As pessoas só conseguem gostar de algo quando elas têm conhecimento, quando elas têm referência. Se a pessoa não sabe que existe aquilo, ela não vai atrás”, introduziu o cineasta, destacando a importância do festival enquanto mediador cultural na região. 

Foto: Renan BragaJoel Yamaji ministrou oficina de Roteiro durante o 18º FestiVali, em Ivinhema (MS) | Foto: Renan Braga

Na oficina, Yamaji abordou o processo de escrita do roteiro cinematográfico. No entanto, lhe chamou a atenção a pouca idade dos inscritos nesta edição. "Eu fiquei impressionado que ao entrar para dar a oficina, eram grupos de faixa etária do ensino fundamental, de 13 a 14 anos. Tinha meninos e meninas de 13 anos de idade. Falei, como é que eu vou fazer? E ia conversando, dialogando", revelou.

Conforme o cineasta, à medida que o diálogo aconteceu entre ele e os estudantes, os exercícios fluíram e deram lugar a boas ideias. "A produção vem deles mesmos, de dentro para fora. Foi surpreendente pela poesia que vem no olhar. Tinha imagens que surgiam, sentimentos. Sentimentos também muito brilhantes, sabe?", refletiu.

"Eu pedi para eles levarem para casa o que produziram, para eles produzirem textos e reformularem, explicando o roteiro nas cenas. Eu pensei que talvez eles não fossem fazer porque estavam em outra pegada e no outro dia apareceu todo mundo. Eles vieram com o trabalho e era muito, quase que do maravilhamento, sabe? Você via argumentos amarrados, mas não era argumento linear. Assim, era quase como conto de fadas e o que mais me comovia eram os olhinhos deles. Eu sentia alguns olhinhos brilharem, porque, 'nossa, fui eu mesmo que fiz isso'. Isso para mim foi uma grande gratificação”, celebrou.

Foto: Renan BragaJoel Yamaji se surprendeu com a dedicação dos estudantes de Ivinhema | Foto: Renan Braga

Ao final dos três dias de oficina, Yamaji compartilhou suas impressões a respeito da importância do FestiVali para a juventude sul-mato-grossense. "Havia pelo menos umas três meninas, moças que, na minha modesta opinião, eu sentia que tinham uma vocação, um link, sabe? E uma delas falou: ‘professor, eu gosto muito dessa coisa do cinema, da imagem, da fotografia’. Então eu falei: ‘nossa, se você consegue contribuir dessa maneira, vale a pena, né?’. Eu senti que isso é trabalho de vocês. Eles persistem, e não é no grandioso, é no pequeno, é trabalho de formiga, como se fala. Estão de parabéns é uma cidade pequena, né? 30 mil [habitantes] ? Nossa, é a aldeia do Asterix", brincou, referenciando a série de quadrinhos francesa. 

Por fim, o cineasta revelou o que acredita ser um dos grandes diferenciais do FestiVali. "Tem uma riqueza, uma originalidade de cultura, no sentido de original mesmo. Os sentimentos são mais verdadeiros, eu acho. Tem o deslumbramento de descobrir a vida, de conhecer a vida, tem a batalha, né? Porque é uma realidade aqui, eu percebo que é gente que luta, não tem frescura, põe a mão na massa. Isso é muito bom. O Godard falava que a civilização está na realidade das pessoas comuns, não está nos governantes. A barbárie está nos governos e a civilização está na sociedade. A sociedade, às vezes, é mais civilizada, mais culta, mais sofisticada, mais refinada do que a elite que nos governa, muitas vezes. Eu senti que o trabalho que vocês estão fazendo aqui é bem pioneiro mesmo, de quase que semear o terreno. E esse semear, eu acho que já está vingando coisas", concluiu.