No FestiVali, Helena Meirelles é homenageada com debate, cinema e música
Mesa "100 Anos da Grande Dama da Viola", antecedeu a exibição do documentário "Dona Helena", de Dainara Toffoli
16 AGO 2024 • POR ALY FREITAS | TERO QUEIROZ • 12h10Na noite da última 4ª.feira (14.ago.24) o Espaço Cinelito, em Ivinhema (MS) foi palco de uma homenagem ao centenário da violeira e compositora sul-mato-grossense, Helena Meirelles.
A ocasião foi marcada pela mesa "100 Anos da Grande Dama da Viola", mediada pelo pesquisador da música sul-mato-grossense, Rodrigo Teixeira, com a presença do violonista e pesquisador Raphael Vital. Na mesma noite, foi exibido o documentário "Dona Helena", dirigido por Dainara Toffoli, que mostra o cotidiano de Helena Meirelles, artista que lutou pelo direito de tocar viola e foi reconhecida entre os 100 melhores guitarristas do mundo pela revista norte-americana Guitar Player.
"Tempos áridos que a gente está vivendo. Estou muito feliz de estar aqui no aniversário da dona Helena Meirelles, essa personalidade fantástica que deixou pra gente um legado enorme", introduziu Rodrigo.
Diante de estudantes e profissionais do audiovisual, o pesquisador falou das primeiras influências culturais e estéticas na carreira da violeira. "Tinha acabado de nascer a guarânia, nos anos 20 e ela começa a tocar praticamente junto ao nascimento do chamamé. Depois, na década de 40 veio o rasqueado, que é uma adaptação brasileira de todos esses ritmos. É interessante notar como que a dona Helena é um exemplo dessa música que corria por aqui. A dona Helena nasce na antiga estrada boiadeira, pro lado de Bataguassu. Ali era uma passagem de tropa, a guadeirama dos peões, que ela falava. Ela nasce nesse ambiente do boi, da polca paraguaia, das coisas ligadas a esse grande território guaranítico que é a nossa região", contextualizou.
Rodrigo também compartilhou suas vivências ao lado da artista, que teve a oportunidade de conhecer em 2004, quando foi trabalhar na Fundação de Cultura de MS. "Naquela época já era famosa, estabelecida como um nome importante. Apesar da cara fechada ela era muito alegre, tirava sarro de tudo, falava muito palavrão, tinha uma presença de espírito muito grande. Ela era realmente uma pessoa diferenciada que você se sentia atraído. Eu comparo muito a dona Helena com uma onça, em que você se sente atraído por aquela vibração raiz, aquela vibração da natureza mesmo", descreveu.
Raphael Vital, por sua vez, emocionou o público ao compartilhar a história por trás da música "Me pega por favor", famosa na voz de Helena Meirelles. "Dentro da parte de pesquisas, de direitos autorais eu escolhi uma música que ela cantava, que era a única música que eu conhecia dos discos dela que era cantada, chamada "Me pega por favor". A gente passou pelo processo de produção, gravou, tudo muito bom e na hora de finalizar os registros, a gente descobre que justamente a música que eu decidi gravar, que era cantada, não era uma composição de Helena Meirelles e que além disso, essa música não tinha o nome que Helena Meirelles deu pra ela. Essa música é como se fosse um filho registrado com dois nomes. Primeiro Délio e Delinha compõem essa canção e registram como "Um pouquinho só", só que não gravam", revelou antes de se apresentar.
PÓS-HOMENAGEM
Após a sessão do documentário "Dona Helena", a atriz Ana Ivanova celebrou a história da artista, que considera inspiradora e incomparável. "Pra mim, Helena Meirelles é uma mulher em meio a uma selva, que desenvolveu sua arte de maneira autodidata. Uma pessoa analfabeta que aprendeu a escrever seu nome, mas que também desenvolveu não só um estilo próprio de viola, como um estilo muito especial de vida e de caráter. Ela conseguiu ser ela mesma durante todo o tempo, consegue a fama já mais velha com 60, 70 anos graças a um sobrinho que grava seu primeiro disco e expande seu talento para um espaço internacional e isso não a muda. Helena é uma marca singular de talento, mas também da singularidade humana do Pantanal. É um tesouro incomparável, só comparável com outros grandes nomes do mundo da guitarra. Uma mulher que dá à luz um estilo próprio", declarou.
Para a diretora de arte carioca, Mariana Villas-Bôas, Helena Meirelles é um exemplo da importância da valorização de artistas regionais. "Helena é uma grande artista com uma missão de vida mesmo. Mostra que cada vez mais a gente tem que acreditar nos nossos sonhos, nos nossos dons e valorizar essa artista que tem uma trajetória de vida incrível, com muita luta, e que consegue viver da sua própria arte porque acreditou, sonhou e estudou", concluiu.
O encerramento do FestiVali acontece na noite desta 6ª.feira (16.ago.24), com Cerimônia de Premiação e show de Celito Espíndola, Paulo Simões e Renan Nonnato, no Espaço Teatro do Galpão.