"Nunca pensamos que teríamos essas pessoas conosco", diz professor sobre festival em Ivinhema
Iniciativa de turma da escola torna-se festival conceituado e o mais longevo de MS
13 AGO 2024 • POR TERO QUEIROZ • 01h27Professor Leonimar Bacchiegas, coordenador pedagógico da Fundação Nelito Câmara, revelou sua surpresa na manhã desta segunda-feira (12 de agosto de 2024) com a dimensão que o Festival de Cinema do Vale do Ivinhema, agora em sua 18ª edição, atingiu. O festival acontece até o dia 16 de agosto.
“Quando começamos o projeto, em 2000, já tínhamos feito outras coisas. A gente sempre pensa grande, acredita que um dia isso vai acontecer, mas não imaginava que seria tão grande. A ideia era trabalhar com os jovens e fazer com que eles apreciassem o cinema de uma nova forma, não apenas assistindo e se deleitando, mas também entendendo a parte técnica do processo. Quando pensamos em cinema, pensamos no entretenimento e nas reflexões que ele proporciona. Eu queria que eles compreendessem cada detalhe do cinema, como a fotografia, a interpretação, a continuidade das cenas e as gravações. Essa era a ideia: partir daí para desenvolver o projeto”, contou.
De acordo com o professor, existe um divisor de águas acerca de como era o trabalho realizado há 20 anos, se comparado com atualmente. “Nos anos 2000, imagine como era a edição na época. Hoje é muito fácil gravar com celulares, mas na época era trabalhoso, usávamos vários vídeos cassetes. Era uma coisa bem amadora. Sonhávamos, mas era difícil imaginar que teríamos Antônio Pitanga assistindo ao nosso projeto – um artista pelo qual temos grande admiração. Também já tivemos aqui Zezé Motta, Arnaldo Antunes e agora Chico César. Nunca pensamos que teríamos essas pessoas conosco. Achávamos que o projeto seria grande, mas não tanto. A ideia era que todos na cidade conhecessem, mas agora ganhamos o prêmio da UNICEF e o projeto realmente cresceu”, celebrou.
Bacchiegas detalhou que outra grande surpresa foi um dos homenageados pelo cineclube da escola, hoje ser o curador do festival. “Sou de Letras, fiz mestrado em Literatura e, como disse, a ideia era trabalhar com linguagem cinematográfica. O projeto cresceu, criamos um cineclube, o Cineclube Joel Pizzini, e começamos a discutir cinema. Eu não imaginava que o Pizzini se tornaria um parceiro”, disse.
Ainda conforme o professor, é possível notar com facilidade os impactos tanto na formação de público, quanto na formação de novos agentes culturais. “Passamos a discutir cinema e percebemos os impactos disso no cotidiano dos jovens. Não imaginávamos que hoje a nossa população se tornaria tão voltada para o audiovisual. Observamos os impactos nos nossos alunos, que desenvolvem diversas habilidades e competências. Muitos ex-alunos seguiram carreiras no audiovisual, tanto na cidade quanto fora dela. Recentemente, um ex-aluno de Campo Grande que trabalha com mídias sociais para o Shopping Campo Grande pediu uma carona e disse que nossa oficina foi crucial para sua trajetória profissional. Esse é o impacto do projeto: além da apreciação e discussão, também influencia a vida profissional dos jovens”, pontuou.
Provocado a resumir em uma frase o significado de ver um projeto que teve iniciado na escola tomar tal dimensão, Bacchiegas completou: “Gosto de uma frase de Lô Borges do Clube da Esquina: 'Sonhos não envelhecem!' Acho isso bacana porque eu sempre sonhei em trabalhar com cinema. Sendo de uma cidade pequena e desafiadora, aprendi a unir cinema e educação e a concretizar esse sonho. Sonhos não envelhecem e ainda há muito o que acontecer”.
PARCERIA BEM-SUCEDIDA
Como há mostramos em entrevista ao TeatrineTV, o diretor do FestiVali, o cineasta e produtor cultural Ricardo Câmara, revelou que a comunidade escolar da pequena cidade no vale tem forte influência no surgimento do FestiVali. "Esse festival começou num colégio particular de Ivinhema. Eles queriam fazer uma festa do Oscar, onde dariam o prêmio ‘Glaubinho’, e para fazer isso fizeram uns filmes, isso lá nos anos 2000. E aí fizeram três, quatro filmes, o professor Leonimar Bacchiegas que estava à frente, e ele é coordenador pedagógico da Fundação Nelito Câmara até hoje. E aí foi a primeira vez que teve competição", introduziu Câmara.
Quando a Fundação Nelito Câmara abriu em 2004, já havia ocorrido ao menos três festivais reakizados por Bacchiegas. Com intuito de ampliar o alcance da proposta, na época, o professor Leonimar procurou as lideranças da Fundação e fez uma provocação. "O Leoni disse: 'olha, eu tenho esse projeto. A gente faz os filmes estudantis, aí a gente coloca premiações e tals’. Ele perguntou se não queríamos fazer mais amplo, no município todo, aí nós compramos a ideia e foi bem bacana já no primeiro ano. Então, começamos a colocar um tema, uma mostra de filmes e começamos a fazer as oficinas. Assim, o festival foi crescendo junto com a comunidade ano a ano, e era uma mobilização gigantesca", contou Ricardo. Leia a entrevista completa aqui.