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'FRAGMENTADA'

Com professores goianos, oficinas circenses fazem sucesso em Campo Grande

Ações aconteceram no início do mês de julho, na sede da Cia Pisando Alto

24 JUL 2024 • POR ALY FREITAS • 21h40
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Foto: Antonio Lopes

A Cia Pisando Alto realizou gratuitamente entre os dias 15 e 17 de julho, as oficinas "Contorção e Aéreos" e "Parada de Mão e Acrobacia", com os professores goianos Mellina Fioreti e Rafael Eckert, no Ateliê Cênico, em Campo Grande (MS).

As ações são parte do projeto "Fragmentada", viabilizado pelo Fundo de Investimentos Culturais (FIC), por meio da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul.

Foto: Antonio LopesOficinas aconteceram na sede da Cia Pisando Alto, em Campo Grande (MS) | Foto: Antonio Lopes

Nos três dias de oficinas, artistas sul-mato-grossenses aprenderam técnicas de circo e trocaram conhecimentos a respeito da cena circense brasileira. "Pra mim o que fica de mais importante é esse contato e essa abertura pra gente poder se comunicar mais entre os estados do Centro-Oeste, pra gente conseguir pensar em uma possibilidade de um cenário circense que seja fora desse eixo São Paulo - Rio", refletiu a professora de "Contorção e Aéreos", Mellina Fioretti.

Foto: Antonio LopesProfessores goianos ministraram oficinas de circo para artistas sul-mato-grossenses | Foto: Antonio Lopes

Para Mellina, projetos como o proposto pela Cia Pisando Alto, abrem espaço para o debate a respeito da importância da formação específica para os profissionais do circo. "Falta investimento [do setor público] em formação, acima de tudo. O que falta é esse olhar mais preocupado para a formação voltada para um profissional da arte, olhando pra esses artistas enquanto classe trabalhadora. Mas é claro que isso é um processo, de ser enxergado pelo governo como um trabalhador. Esse é um ponto importante que falta e eu penso muito nisso", apontou.

Foto: Antonio LopesA oficina "Contorção e Aéreos" aconteceu na sede da Cia Pisando Alto, em Campo Grande | Foto: Antonio Lopes

Ministrante da oficina de "Parada de Mão e Acrobacia", Rafael Eckert elogiou a iniciativa da Cia Pisando Alto. "A oficina traz o que pra mim, por muito tempo também foi uma busca. Eu venho de família de circo, e mesmo assim a gente teve as nossas dificuldades, tivemos que viajar, ir pro rio, ir pra outras escolas buscar esse conhecimento. Ter essa iniciativa de trazer o profissional pra cá, pra dar essa oficina, abrange muito mais pessoas e é muito positivo. Foi muito enriquecedor", declarou.

Foto: Antonio LopesEm três dias de oficinas, artistas puderam aprender com professores de Goiânia | Foto: Antonio Lopes

Rafael acredita que o Circo de Mato Grosso do Sul será fortalecido quando o poder público passar a investir também nos espaços de formação. "Já existe o formato de pontos de cultura. Se vocês tivessem nesse espaço um ponto de cultura, vocês teriam um pouco mais de infraestrutura. Com mais infraestrutura, lógico que a gente teria mais recursos de ferramentas de treinamento, de execuções e isso aprimoraria mais. Os pontos de cultura deram uma paralisada, mas agora estão voltando e isso fortalece demais, não só essa região, mas o país todo. Eu já participei de vários pontos de cultura, tive um com minha família também e foi muito enriquecedor pra comunidade no seu entorno participar, porque é um espaço que te dá recurso pra você trazer um profissional pra fazer um treinamento em várias etapas", considerou.

Foto: Antonio LopesProfessor Rafael defende os Pontos de Cultura para o fortalecimento da cena circense  | Foto: Antonio Lopes

IMPORTÂNCIA DO PROJETO

Morador de Corumbá, o professor Mauro Shiroma, de 37 anos, disse que as oficinas foram uma oportunidade de melhorar sua prática pedagógica. "Foi uma experiência única. Claro que a gente aproveitou a oportunidade que coincidiu com nossas férias, porque se fosse em um momento de trabalho seria difícil conciliar isso. Pra mim, enquanto professor, foi muito importante esse momento de troca, de pegar a didática, a metodologia, os exercícios, os alongamentos. Eu me senti como aluno e nem sempre eu vou estar nesse papel de aluno, porque eu quase sempre vou estar no papel de professor. Pra mim isso foi muito importante", relatou o fundador do Espaço Vivart de Atividades Circenses.

Aluna do Vivart desde criança, a professora Sofia Costa, de apenas 16 anos, acredita que a oficina de "Contorção e Aéreo" será importante para seu crescimento profissional. "Eu era aluna do Vivart desde os 9 anos e em 2022, depois da pandemia, eu comecei a trabalhar com o Mauro, quando ele me deu a oportunidade de ficar junto das crianças. Eu acho que esse projeto que teve aqui em Campo Grande é uma oportunidade muito grande pra mim, pra eu crescer como artista. Eu acredito que, mesmo sendo nova, eu consegui absorver bastante e sugar todo esse conhecimento pra levar para as crianças que eu dou aula", relatou.

Foto: Antonio LopesOficinas atenderam artistas de diferentes cidades do Mato Grosso do Sul  | Foto: Antonio Lopes

OUTRAS ETAPAS

Conforme Moreno Mourão, da Cia Pisando Alto, o projeto "Fragmentada" tem como objetivo a preparação e montagem de um espetáculo. Neste processo, a companhia oferece conhecimento teórico e prático por meio de oficinas ministradas pelos profissionais envolvidos no projeto.

"A primeira etapa foi a preparação física e acrobática minha e da Fran Corona, que aconteceu lá em Goiânia, com os professores Rafael e Mellina. Passamos cinco meses nessa preparação e terminando a preparação nós viemos pra cá pra Campo Grande, onde pudemos continuar nossos ensaios e treinos, só que trazendo esses professores que deram uma formação pra nós, pra ter uma vivência de oficina com o público circense aqui em Campo Grande", explicou.

Além das oficinas, o projeto também ofereceu os "Diálogos Formativos", que ocorreram entre os dias 11 e 13 de julho. "Tivemos os diálogos formativos com dois professores doutores formados na Unicamp. O Daniel Lopes que pesquisa o circo historiograficamente e tem uma visão bastante provocativa sobre o que é circo e a Lua Barreto, que tem esse mapa do circo aqui no Brasil, tanto das escolas de circo, quanto o conceito de circo de rua. Eles trouxeram toda essa bagagem pra gente, inicialmente, pra conceitualizar, pra gente saber do que a gente está falando e do que a gente está vivendo", detalhou.

Foto: Antonio LopesOs professores Daniel Lopes e Lua Barreto compartilharam conhecimentos sobre a história do Circo no Brasil | Foto: Antonio Lopes

As próximas etapas do projeto envolvem uma oficina ministrada pelo palhaço e acrobata Rodrigo Mallet, que também irá dirigir o novo espetáculo da Cia Pisando Alto. "Agora, a gente está fazendo uma preparação semanal com o Rodrigo Mallet e, depois, ele também vai vir aqui pra Campo Grande pra também ministrar uma oficina de três dias como parte dessa vivência que o circo tem que ter. Ao final do projeto teremos a estreia de um espetáculo, que é o "Fragmentada", que ainda está na fase da criação", concluiu.

Mais informações sobre o projeto, podem ser obtidas no Instagram @ciapisandoalto.