Aos 87 anos, Reginaldo Faria se emociona ao ser homenageado em MS
Ator avaliou o impacto do festival e o legado do cinema sul-americano
20 JUL 2024 • POR TERO QUEIROZ • 15h44O ator carioca Reginaldo Faria, de 87 anos, recebeu uma homenagem na noite da 6ª. feira (19.jul.24), na cerimônia de abertura do Bonito Cinesur, no Centro de Convenções de Bonito (MS).
A entrega de um troféu simbólico ocorreu após a sessão do filme ‘Selva Trágica’, produção protagonizada por Refinaldo, realizada em 1963 em Mato Grosso do Sul.
Mencionado o prêmio e reconhecimento de sua carreira, Reginaldo Faria enfatizou a importância emocional dessas honrarias, e sustentou que elas têm valor individual. “Cada prêmio é cada prêmio, entendeu? Cada um tem um significado, cada um tem uma história. Daí parece até jogo de futebol, aquela coisa assim: cada jogo é um jogo. Então, cada jogo é um jogo! Esse aqui é um jogo e me conquistou. Vocês viram, eu Reme emocionei, eu não esperava por isso. Eu jamais esperei ser premiado, reconhecido, homenageado por um filme que eu fiz há 61 anos. Esse é o significado que a gente está vivo, não? É, nós estamos vivos, nós estamos fazendo cinema, né? Não fosse o audiovisual. Talvez eu não estivesse aqui respondendo a você”, introduziu o artista em entrevista ao TeatrineTV.
O ator exaltou a coragem do diretor de ‘Selva Trágica’, Roberto Faria, seu irmão, e do autor do romance com nome homônimo. “Eu me sinto superimportante vendo esse filme agora, depois de mais de não sei quantos anos... Porque essa importância ela mexe comigo, e eu vejo o que nós conquistamos. Eu vejo o que nós fizemos. Eu vejo a coragem do Hernani Donato de ter escrito esse livro e a coragem do Roberto de ter peitado esse filme naquela época em que a política já estava, o país estava numa situação política muito grave, né? Que logo um ano depois veio a ditadura”, apontou.
No enredo de ‘Selva Trágica’, o personagem Pablito (Reginaldo Faria) tenta fugir com uma namorada, Flora (Rejane Medeiros), de uma fazenda de erva na fronteira de Ponta Porã com o Paraguai, onde os trabalhadores vivem uma situação escravagista. Além de Reginaldo e Rejane, estão no elenco do longo: Aurélio Teixeira, Maurício do Valle e Jofre Soares. ‘Selva Trágica’ chegou às salas de cinema no ano do golpe militar e naquele quadro aterrorizante não fez grande sucesso de público e até a crítica foi reticente. “Esse filme aí ele é apenas um, vamos dizer assim, um ‘recuerdo’... Eu acho que ele vigora até hoje, desde 1963, porque ela é impactante, todo mundo gosta. E eu acho que isso aí ainda acontece nos dias de hoje, que é muito triste, por isso, é sempre bom denunciar, é sempre bom lutar para que isso não aconteça”, observou Reginaldo.
O ator enalteceu o surgimento do Cinesur no coração do Brasil, mas avaliou que é preciso mais: "Eu acho que não basta somente este festival. Eu acho que este festival, vamos dizer assim, é a porta de entrada, né? É o start, para que você siga outros caminhos e possa mostrar a sua obra em outros festivais também".
O fortalecimento do cinema sul-americano, para Faria, é uma luta travada há séculos que aos poucos começa a corroer a discriminação persistente na indústria de cinema americano, contra cineastas sul-americanos "Olha, nós sempre fomos muito discriminados, vamos dizer assim, não que eles não considerem o teor da nossa obra, mas fomos no sentido econômico, porque o poderio das multinacionais continua existindo, continua massacrando, continua tirando o nosso espaço", concluiu.