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'CONVERSAS COM O CINEMA'

Cineclube oferece filmes nacionais e reflexão a internas na Capital de MS

Exibições estão ocorrendo às quartas-feiras e sábados à tarde

14 JUN 2024 • POR TERO QUEIROZ • 18h53
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Internas recebem sessões cinematográficas no estabelecimento penal feminino de Campo Grande (MS). Foto: Reprodução

O cineclube "Conversas com o Cinema" promove, de junho a julho de 2024, sessões de filmes no Estabelecimento Penal Feminino de Regime Semiaberto, Aberto e Assistência à Albergada de Campo Grande (MS).

Coordenado por Geiciane Feitosa, graduada em Audiovisual pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), com assistência de produção de Lukas Nascimento, mestrando em Comunicação pela UFMS, o cineclube oferece às internas acesso à produção cinematográfica nacional e regional, seguido por debates e rodas de conversa após as exibições.

Segundo a idealizadora, as sessões do cineclube começaram como um projeto de extensão que se expandiu ao ser aprovado na Lei Paulo Gustavo (LPG). "O cineclube começou como um projeto de extensão da professora Daniela Giovana Siqueira, do curso de Audiovisual na UFMS, onde eu fui estagiária. O contato com a extensão encorajou para que o projeto do cineclube fosse inscrito na LPG municipal", introduziu Geiciane.

Geiciane durante preparação para sessão cinematográfica para internas em Campo Grande. Foto: ReproduçãoGeiciane durante preparação para sessão cinematográfica para internas em Campo Grande. Foto: Reprodução

O projeto foi contemplado com R$ 37.350,00 para as ações com recursos do Ministério da Cultura (MinC), gerenciado pela Secretaria de Cultura de Campo Grande (Sectur). Eis a íntegra.

Com a conquista do edital, o projeto ganhou autonomia e qualidade, permitindo a compra de equipamentos próprios como projetor e caixas de som.

As exibições estão ocorrendo às quartas-feiras e sábados à tarde. A dinâmica das sessões inclui a apresentação do projeto e do filme, distribuição de pipoca e refrigerante, e um debate aberto após a exibição.

Geiciane disse acreditar que a disponibilização do acesso à cultura cinematográfica nacional é uma forma efetiva de inclusão social para a população carcerária de Campo Grande. “A exibição de obras que apresentam imagens próximas da realidade comum do brasileiro permite que identificações com as diversas narrativas contadas promovam debates sobre temas relacionados às obras e, que em alguma medida, possam se relacionar às pessoas diversas e com realidades variadas no sistema prisional de Campo Grande”, avaliou.

Lukas durante apresentação em sessão cinematográfica para internas em Campo Grande. Foto: ReproduçãoLukas durante apresentação do filme 'Marte Um' para internas em Campo Grande. Foto: Reprodução

Tão importante quanto a exibição dos filmes, segundo Geiciane, é a etapa de debates acerca das obras. “O contato com provocações ou emoções através de narrativas cinematográficas permite que os debates sejam também voltados para condições particulares e coletivas das espectadoras presentes. Promover um ambiente de conversas e debates seguro e aberto para depoimentos, deixando claro que há espaço para o falar e para o escutar, é também promover experiências coletivas que podem transformar perspectivas das participantes e dos organizadores”.

Ainda conforme a idealizadora, já foram apresentadas às internas obras como ‘Ó Paí Ó’, exibido na primeira sessão do dia 05/06, e ‘Marte Um’, exibido no dia 08/06. “Outros filmes podem ser incluídos na curadoria a depender das internas frequentadoras do projeto e da recepção das obras exibidas. Nós da organização observamos a faixa etária das espectadoras e os assuntos abordados nos debates, transformando a curadoria do cineclube maleável, sendo possível incluir ou excluir obras no decorrer da realização do projeto”, observou Geiciane.

Para a cineasta, a qualidade das sessões e a possibilidade de elas serem no presídio é inerente ao incentivo público. "O edital proporciona recursos necessários e suficientes para adquirir equipamentos próprios para a exibição dos filmes, como o projetor, a tela de projeção, caixas de som, alimentação, transporte, assim como a possibilidade de convidar realizadores de Campo Grande para exibir suas obras e debater sobre elas com as internas”.

Geiciane reforçou que o acesso à cultura cinematográfica é vital e o projeto, contrapondo o modus da indústria cinematográfica estrangeira, proporciona o contato com o cinema brasileiro. "Os filmes que chegam comercialmente nas salas multiplex de Campo Grande geralmente são estrangeiros, normalmente estadunidenses, e poucas vezes são acessados pelas participantes do cineclube, porém, a possibilidade de ver tais obras pela televisão as transformam nas referências possíveis para a imagem cinematográfica, assim como para as histórias possíveis de serem contadas. É a partir dessa perspectiva de acesso ao cinema que o contato com a cinematografia nacional se faz tão importante. Ver um filme brasileiro como Marte Um, não é apenas ser espectador de mais um filme nacional, é também se ver na tela, se identificar com os personagens e ver relações entre a narrativa e sua experiência particular. Ver-se na imagem cinematográfica é a possibilidade de refletir sobre si mesmo e sobre o ambiente em que se vive”, sustentou.

A expectativa da equipe organizadora é que o cineclube provoque reflexões e mudanças de perspectiva entre as participantes: "O potencial da identificação com a imagem cinematográfica e seu impacto psicológico no indivíduo é capaz de propor, não necessariamente modificar, mas propor formas diferentes de se ver o mundo e a si mesma. Através dos debates pós-sessão, essas perspectivas vêm à tona de diversas maneiras na argumentação das participantes. Quando falam sobre si mesmas, sobre suas experiências individuais, há um aprendizado que ali nasce e se desenvolve. Expectativas podem surgir para uma vida além do espaço onde as internas se encontram no momento, alcançando seus objetivos particulares, a forma como se relacionam com os outros, ou quem sabe suas intenções profissionais”.

Geiciane concluiu revelando suas expectativas para a continuidade do projeto. "Há planos para levar as exibições a outros espaços prisionais, para públicos de populações carentes, e também para centros de atenção psicossocial. Com o surgimento de novos editais de incentivo, e com parcerias possíveis com instituições públicas, o projeto pode ser estendido para outros espaços, alcançando novos espectadores para a cultura cinematográfica nacional”.