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MULTIARTISTA DE MS

Ney Matogrosso celebra 82 anos com defesa da liberdade no Brasil

Artista sul-mato-grossense defendeu combate a caretice em relação as drogas: 'Olha, se eu tiver morrendo bota o ácido da melhor qualidade na minha boca e me deixe morrer'

17 MAI 2024 • POR TERO QUEIROZ • 09h09
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Ney Matogrosso fala do uso de psicodélicos. Foto: Vinicius Garcia/Divulgação.

O multiartista sul-mato-grossense, Ney Matogrosso, aos 82 anos, deu entrevista à revista Breeza – um veículo dedicado exclusivamente à pautas acerca da cannabis medicinal no Brasil. Leia aqui a íntegra.  

Figura icônica na música brasileira, conhecido não apenas por sua voz inconfundível, mas também por sua autenticidade e transparência, Ney revelou suas angústias à jornalista Anita Krepp, editora da Breeza. Na conversa, Ney compartilhou suas experiências com drogas ao longo da vida e como elas influenciaram sua jornada pessoal e artística.

Para Ney, a população de 2024 no Brasil é mais careta que a 1960: "Tá pior, tá pior em todos os sentidos. A questão das drogas, agora tá pior porque é um Congresso tão hipócrita, e eles proibiram só pra contrariar. Eu sei que o Supremo quer liberar, mas o Congresso brasileiro só por pirraça… a impressão que me dá é que tá tudo disseminado e as pessoas fazem o que elas querem, independente de proibição", disse.  

O ponto alto da entrevista ocorre quando Ney compara drogas lícitas e ilícitas, defendo a liberdade para a escolha dos adultos sem proibições do estado: "O álcool é liberado, o remédio pra dormir você compra facilmente, então tem que ser tudo liberado e as pessoas têm que ser conscientes do que estão fazendo. Agora, claro, não é pra criança", defendeu.  

Ele também deu à machete à jornalista quando revelou um pedido feito a seu médico: "Você sabe que eu já conversei com um médico amigo meu: 'Olha, se eu tiver morrendo bota o ácido da melhor qualidade na minha boca, e me deixe morrer".

O artista apontou que desde os tempos do grupo Secos e Molhados – grupo musical que Ney entrou aos 30 anos como vocalista – ele já explorava a psicodelia, influenciando diretamente o conceito visual e sonoro da banda.

Segundo Ney, as substâncias psicodélicas, como LSD, ayahuasca e maconha, desempenharam um papel importante em sua busca por autoconhecimento e expansão espiritual.

Sobre sua relação com as drogas, Ney é claro: ele as utiliza como ferramentas para entender a si mesmo e o mundo ao seu redor. A maconha, por exemplo, é sua aliada quando se sente perdido diante de alguma situação. Ele ressaltou que nunca utilizou drogas para festas, apenas como instrumentos de reflexão pessoal.

Questionado sobre viver em uma sociedade ainda hipócrita e careta, Ney lamentou a postura do Congresso brasileiro em relação às drogas, destacando a importância da conscientização e da liberdade de escolha.

Quando perguntado sobre suas experiências espirituais com as drogas, Ney compartilhou momentos de insight e entendimento profundo, especialmente durante suas viagens com ácido lisérgico e ayahuasca. O artista destacou que suas jornadas psicodélicas sempre foram focadas no autoconhecimento e na resolução de questões pessoais.

Ao falar sobre sua trajetória com as drogas, Ney enfatizou que nunca foi viciado ou abusou delas. Ele as utiliza de forma consciente e responsável, sempre buscando entender a si mesmo e o universo que o cerca.

Ney também contou sobre uma experiência marcante com o também músico Cazuza, que buscou a ajuda da ayahuasca em seus últimos dias de vida."O Cazuza estava muito doente já, foi na época em que nós começamos a ensaiar o último show dele, que foi o último da vida dele, e aí ele dizia: 'Ney, você está com um aspecto tão bom, o que você anda fazendo?'. Eu disse: 'Olha, Cazuza, eu tô tomando daime'; e ele disse: 'Ah, quero ir com você'. Então nós fomos lá. Levaram ele pra fazer uma estrela no meio da floresta. Estrela você sabe o que é, né? Uma alta dosagem num trabalho fechado, não aquele aberto pro público. Cazuza estava sentado do meu lado e eu falei pra pessoa que estava comandando o trabalho: 'pode deixar que eu cuido dele'. Então combinei com Cazuza: cada vez que você precisar de mim, bate o seu cotovelo em mim que eu saio da minha viagem e vou te atender. A última vez que ele fez isso, bateu em mim, eu levantei pra um lado e ele levantou pro outro (risos). Eu estava tão louco que não conseguia nem coordenar os movimentos (risos). Eles davam muito pra ele porque ele estava tomando muita droga, e o daime não ultrapassava aquela coisa das drogas que ele tomava. Aí teve um momento em que eu vi um raio de sol batendo no rosto dele, aí ele abriu os olhos e disse assim: 'é só isso?'. Aí eu entendi que ele tinha captado, e eu disse: 'sim, é só isso, Cazuza, é só aceitar, entende e aceita o que você tá entendendo porque é verdade'. Aí quando acabou ele disse: 'quero chegar em casa rapidamente porque eu quero conversar muito com meu pai e minha mãe'. Nunca soube dessa conversa, também não perguntei se teve. Dias desses a Lucinha tocou rapidamente no assunto dizendo que tinha tido essa conversa sim, mas eu não perguntei o que eles conversaram", lembrou.  

Depois disso, Ney recordou que Cazuza passou a antar com seu daime pessoal e nunca mais voltou na floresta para o ritual: "Não, ele andava com uma garrafinha que não deixava ninguém se aproximar, porque viajava com aquela garrafinha de daime e só ele tomava, não deixava ninguém se aproximar dela. A reta final do Cazuza, pelo que eu saiba, ele tomou o daime. A reta final da temporada dele. Mas ele tomava dois goles, não um copo. Sabe o que eu gosto de tomar hoje em dia? Uma colher. Não quero ficar desvairado, eu quero uma colher só pra ficar na sintonia". 

Atualmente, Ney segue utilizando cannabis para ajudar no sono e na memória, sempre com acompanhamento médico. Ney defendeu a desmistificação das drogas e disse acreditar na importância da pesquisa e da educação sobre seu uso responsável.