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CENTRO CULTURAL

Nau de Ícaros reinaugura Teatro Aracy Balabanian e celebra retomada cultural em MS

Companhia paulista apresentou espetáculo, comandou oficinas e trouxe Leopoldo Pacheco à Capital sul-mato-grossense

3 ABR 2024 • POR TERO QUEIROZ • 22h04
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O Grupo Nau de Ícaros apresentou nos dias 2 e 3 de abriu na reinauguração do Teatro Aracy Balabanian. Foto: FCMS

Durante a entrega de obras e reinauguração do Centro Cultural José Octávio Guizzo, na noite da terça-feira (2 de abril de 2024), a companhia paulista Nau de Ícaros foi a primeira a subir ao palco do Teatro Aracy Balabanian revitalizado, após um hiato de 8 anos com as portas fechadas.

Na ocasião, a companhia apresentou um de seus mais conceituados espetáculos teatrais, “A verdadeira história do Barão”, em que mescla diversas técnicas das artes cênicas.

O diretor artístico e cofundador da companhia, Marco Vettore, compartilhou com a reportagem do TeatrineTV sua perspectiva sobre o momento. "Sinto-me profundamente feliz por testemunhar a retomada das artes, culminando na reforma deste teatro. Essa iniciativa, envolvendo tantos aspectos, desde a reforma física até os detalhes da apresentação, representa um momento especial para todos nós. Participar desse projeto é um privilégio, pois reconhecemos a importância dessas forças reunidas durante esse período de retomada".

À esquerda Marco em cena no espetáculo 'A Verdadeira História do Barão', espetáculo da Companhia Nau de Ícaros. Foto: FCMS À esquerda Marco em cena no espetáculo 'A Verdadeira História do Barão', espetáculo da companhia Nau de Ícaros. Foto: FCMS 

Marco destacou que a escolha deste espetáculo para a reinauguração é muito simbólica. “A escolha desse espetáculo foi muito especial. Acho que é muito vaidoso eu falar desse jeito, mas o que ele traz de informação: o personagem central é uma companhia de pessoas que acreditam na arte. E acreditam com tudo e dão suas vidas por isso. Então, eu achei muito sensível a curadoria de entender e escolher esse espetáculo, mesmo com todo esforço de adaptação de cenário, tivemos muito ensaio para caber nesse teatro. Porque o teatro é ótimo, maravilhoso, só que esse espetáculo nosso é gigante, tem tamanho de elefante”, brincou. 

Ele explicou que o espetáculo vontade de mostrar um grupo de teatro que está se esforçando para se apresentar com criatividade e fazer com que o público imagine junto. "Essas várias linguagens que estão envolvidas: o teatro de sombras, o circo, as acrobacias de solo e aéreas, a farsa mesmo... São forças para fazer com que o público se sensibilize para que a gente entenda que para evitar problemas precisamos de criatividade e imaginação", defendeu.  

Marco ao centro fala em nome da companhia Nau de Ícaros, ao final da apresentação. Foto: FCMS Marco ao centro fala em nome da companhia Nau de Ícaros, ao final da apresentação. Foto: FCMS 

Viajar com o espetáculo, segundo Marco, permite a companhia uma fixação do trabalho a nível nacional. "Fazer no Sudeste, no Nordeste ou Centro-Oeste para nós é um acento de linguagem, sabe? A gente acaba aprendendo com essa relação com a plateia ao fazer em muitos lugares", anotou. 

Como mostramos aqui no TeatrineTV, a compahia paulista recebeu R$ 133.800 para realizar oficinas de 'Dança Aérea' nos dias 30 e 31 de março (sábado e domingo) e em 01 e 02 de abril, além das duas apresentações do espetáculo "A verdadeira história do Barão", nos dias 2 e 3 de abril. 

De acordo com Marco, o valor recebido paga as transporte, alimentação, estadia e cachês do elenco e oficineiros. "Acho isso superimportante de falarmos nesses momentos em que há uma difamação da arte ou da economia... Porque é uma cadeia produtiva, né? Desde o cara que faz nosso transporte em São Paulo, os carregadores, as pessoas que estão envolvidas nos ensaios para essa retomada, até todo mundo que está aqui hoje, olha a quantidade de gente que está envolvida nessa operação. Acho que isso talvez seja a maior função hoje dos divulgadores da arte, do jornalismo, dos artistas, dos gestores, é falar sobre essa economia. É falar do impacto que a gente tem, do impacto que esse teatro fechado teve na economia dessa cidade, do impacto que teve na economia do estado e a reabertura", comentou.  

Ainda segundo o cofundador da Nau de Ícaros, o custo do espetáculo muitas vezes está aquém do valor do cachê oferecido, mas é preciso acreditar na história e investir também. "Se a gente fala do volume de dinheiro, quando a gente chega nessa conta é muito pouco, muito pouco no sentido de que tem muito investimento. Esse espetáculo, por exemplo, para acontecer, tem um investimento de mais de R$ 2 milhões. Quando a gente tenta entender o que a gente recebe por ele, às vezes, com muita sinceridade, não é nem um terço do que ele vale. E nesse momento também de compactação de verbas e tempo, é também a nossa vocação como investidores, como eu também sou dono dos nossos trabalhos – é uma companhia de teatro – a gente está investindo também para retomar nosso trabalho, retomar o nosso ativo que é o espetáculo. Então, para vir para cá foi um grande esforço e o investimento está dentro do transporte, alimentação, hospedagem, tudo envolvido, essa quantidade de gente, o ator maravilhoso que conseguimos trazer, o Leopoldo Pacheco. Todo mundo está investindo junto e acreditando que essas são oportunidades que a gente não pode deixar perder", detalhou. 

O paulistano completou dizendo que a cultura precisa ter sempre mais investimentos. "Porque a cultura beneficia a todos. Espero que a gente esteja abrindo uma porta e que a gente possa estar junto para batalhar pela cultura local e esses encontros provoquem grandes movimentos. A nossa companhia tem 32 anos e fomos provocados por muitos encontros, de companhias de outras regiões de São Paulo... fomos para Recife, uma turnê incrível, vir para o Centro-Oeste, voltar para o Recife, fazer uma turnê pelo interior de São Paulo. Tudo isso tem sido um privilégio da retomada. Estamos muito felizes e estamos contentes com cada pedacinho de agora, encontro contigo, com os oficineiros e cada um representando um grupo. Acho que estamos saindo daqui muito enriquecidos, o que dinheiro nenhum paga”, completou. 

Além de Marco, no elenco do espetáculo "A Verdadeira História do Barão", estão Álvaro Barcellos, Celso Reeks, Erica Rodrigues, Letícia Doretto e Leopoldo Pacheco, que substitui Lu Grimaldi. 

"É DESSE RENASCIMENTO QUE ESTOU FALANDO..."

Leopoldo Pacheco no espetáculo 'A verdadeira História do Barão', apresenta no teatro Aracy Balabanian, em Campo Grande (MS). Foto: FCMS Leopoldo Pacheco no espetáculo 'A verdadeira História do Barão', apresenta no teatro Aracy Balabanian, em Campo Grande (MS). Foto: FCMS 

O ator, cenógrafo, figurinista e diretor Leopoldo Pacheco, de 63 anos, foi um integrante especial do elendo no espetáculo “A verdadeira história do Barão” na noite de reinauguração do teatro na Capital sul-mato-grossense.  

Reconhecido como um dos mestres veteranos das novelas brasileiras, Pacheco apontou o momento de entrega do Centro Cultural como um 'renascimento'. “Acho que estamos retomando a cultura em vários sentidos, pandemia, questões políticas. Agora a gente vem num espaço desse que eu acho lindo, com galerias, salas, auditórios e um teatro lindo, então eu acho que é um renascimento em todos os sentidos, a gente também”. 

Pacheco revelou que tem uma relação de longa data com a companhia Nau de Ícaros e que, diante da ausência de uma das atrizes do elenco, não hesitou em vir para Mato Grosso do Sul. “Eu dirijo a Nau de Ícaros há muitos anos, esse espetáculo não é direção minha. Fiz maquiagem, fiz outras coisas porque eu estou sempre acompanhando o trabalho deles. Quando a Lu [Grimaldi] se machucou e eles me pediram para vir, imediatamente eu topei, até por conhecê-los, por conhecer o espetáculo. Então, assim, tudo é uma conjuntura feliz”, disse.

O artista mencionou que ao longo de sua carreira havia passado apenas por Campo Grande, porém, ainda não havia tido a oportunidade de conhecer a cidade. Ele expressou que ficou positivamente impressionado com o lugar. “Campo Grande, estou impressionado com a cidade. Nunca vi tanta praça, parque e árvores. É muito bonita, com um verde muito feliz. Uma bela cidade com um Centro Cultural maravilhoso”.

A ideia de renascimento também permeou as palavras do artista, que enfatizou a importância de todos os governos valorizarem a arte como um dos pilares fundamentais da sociedade. “É a formação de um povo, de uma civilidade. A cultura é o que dá espaço para a gente poder sonhar e questionar. Então, acho que qualquer governo tem que olhar para a cultura. Hoje em dia temos essa polaridade que está desgastando a cultura muito, a gente padeceu. É desse renascimento que estou falando, de pandemia, política, e que a gente está conseguindo renascer de novo. Espero que a gente consiga sustentar isso e que as pessoas que pensam diferente dos artistas entendam os artistas, que a gente é possibilidade de um novo olhar questionador das coisas. Acho que essa é a relação que temos que ter”.

OFICINA DE DANÇA AÉREA 

Leca conversa com uma das alunas da oficina, demostrando técnica de dança em cordas na parede. Foto: Arquivo

A 'Oficina de Dança Aérea Corpo em Suspensão' com a Cia Cênica Nau de Ícaros ocorreu no Circo do Mato, situado na Rua Tonico de Carvalho, 263, Bairro Amambaí, em Campo Grande (MS).

Os encontros aconteceram das 16h às 19h nos dias 30 e 31 de março, e das 9h às 11h nos dias 1 e 2 de abril.

A equipe de oficineiros foi composta pelo próprio Marco, além das integrantes da Nau de Ícaros, diretora, coreógrafa, preparadora e intérprete criadora, Erica Rodrigues e a coreógrafa, preparadora e intérprete criadora, Leticia Olomidará Doretto (Leca).

Leca em cena no espetáculo 'A verdadeira História do Barão', faz números de dança em cordas. Foto: FCMSLeca em cena no espetáculo 'A verdadeira História do Barão', faz números de dança em cordas. Foto: FCMS

Na noite da inauguração do Centro Cultural, a reportagem conseguiu falar com Leca para ouvir suas impressões como uma das oficineiras na Capital de MS.

Graduada em Artes Corporais pela Unicamp e Mestra em Arte-educação pela Unesp. Leca tem seu trabalho focado nas CorpoOralidades afro-brasileiras. E foi em meio a suas pesquisas que veio pela primeira vez à Capital de MS. "Eu estive em Campo Grande, a primeira vez, já faz uns 10, 15 anos atrás, não lembro direito, para dar uma oficina de Danças Brasileiras para o grupo Bojo Malê, com Chico Simão. Foi a primeira vez e foi um contato muito gostoso, que também era uma galera muito afim, isso é uma coisa que acho muito curiosa aqui de Campo Grande. Os artistas aqui são muito a fim de encontrar, de aprender, de a gente poder fazer essas pontes. Porque é isso que interessa na arte, a gente poder fazer essas redes. A primeira vez que tinha vindo aqui foi muito surpreendente essa rede, voltei um ano depois novamente com a oficina e posteriormente passei com uma orquestra", contou.

Segundo Leca, que também leciona na Faculdade Santa Marcelina e no Colégio Oswald, a parte do educativo na ida a novos territórios é um dos fatores mais importantes quando se refere a transmissão de conhecimento. “Acho que quando a gente vem para um território que não é o nosso, onde a gente habita, né? É muito gostoso quando a gente tem oportunidade de não ser tão efêmero no lugar. Porque às vezes você chega no lugar, faz apresentação e no dia seguinte vai embora. Você mal encontra os artistas, os agitadores culturais daquela cidade. Então, acho que poder estar mais tempo e ainda por cima a gente poder oferecer algo que é da nossa experiência para trocar com artistas aqui, acho que é muito importante, porque a gente faz com que essa permanência seja mais frutífera", considerou.

Leca ainda exaltou a iniciativa do governo de MS de oportunizar o momento de oficina ao grupo e aos fazedores culturais campo-grandenses. "A gente poder estar numa oficina, comunicar uma oficina e compartilhar nossos conhecimentos, eu acho que é um jeito, primeiro, de a gente deixar mais que é espetáculo que pode tocar porque é algo poético, mas entrar em contato como entramos nas oficinas de conhecer os artistas que fizeram, saber dos grupos que estão aqui, acho que foi muito importante. Acho que foi muito gostoso para mim e penso que para o grupo também, ter esse contato mais próximo. A gente conhecer os oficineiros e oficineiras a gente conhece mais  a região, mais do território, mais das histórias dos grupos, trabalhos artísticos, das lutas e resistências... Realmente acho que é uma troca sincera, honesta. A gente poder estar junto fazendo esse encontro, tecer junto esse momento”, analisou.

A artista disse perceber uma forte característica sobre os artistas campo-grandenses em comparação com outras regiões do Brasil. “Tenho essa sensação de que aqui a gente encontra diálogo e espaços para a gente poder se comunicar. Sei que as lutas e resistências são muitas, como em todo lugar. Acredito com esses encontros mais profundos que hoje, ao término da oficina a gente insistiu que a oficina não termina, que é uma porta para outros caminhos... Então, me sinto em diálogo com Campo Grande", celebrou.