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'O GRANDE SALTO'

Revelação circense do Centro-Oeste, João Rocha apresenta em Dourados

Espetáculo que circulou 5 estados será exibido no Parque do Lago

12 MAR 2024 • POR TERO QUEIROZ • 14h55
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João Rocha apresenta 'O Grande Salto durante a edição do Boca de Cena 2023. Foto: Tero Queiroz

Considerado um expoente do Circo no Centro-Oeste, João Rocha, apresenta um dos seus mais renomados trabalhos: “O Grande Salto”, às 16h30, em 17 de março, no Parque do Lago, em Dourados (MS).

Segundo o grupo douradense Sucata Cultural, a classificação indicativa é livre. O artista passará o chapéu após a apresentação, sendo a contribuição do público voluntária.

Nesta ocasião, o projeto é incentivado pela Lei Paulo Gustavo (LPG), do governo federal, gerenciada pela Secretaria de Cultura de Dourados.

Em “O Grande Salto”, João Rocha une a coragem circense com a alegria do palhaço, realizando números circenses impressionantes e de alto risco.

O espetáculo esteve no Boca de Cena 2023, em Campo Grande e em segundos levou o público do medo a uma alegria inesquecível.

‘O GRANDE SALTO’

João Rocha apresenta 'O Grande Salto durante a edição do Boca de Cena 2023. Foto: Tero QueirozJoão Rocha apresenta 'O Grande Salto durante a edição do Boca de Cena 2023. Foto: Tero Queiroz

Em entrevista ao TeatrineTV, João contou que o espetáculo foi concebido durante a pandemia de Covid-19. “O Sucata Cultural, local onde atuo, encontrava-se fechado, proporcionando-me a oportunidade de dedicar grande parte do meu tempo ao aprimoramento da técnica", introduziu.

De acordo com o artista, o espetáculo nasceu da vontade de mesclar técnicas circenses distintas. "Surgiu do desejo de criar um espetáculo que combinasse a técnica de trampolim acrobático com elementos de comicidade e a técnica de "dandys acrobáticos", que consiste na fusão de acrobacias com quedas e cascadas de forma humorística, resultando em um número ou espetáculo único. Inspirado por Larry Griswold, ginasta e acrobata que inovou ao integrar o trampolim em números cômicos, 'O Grande Salto' busca destacar-se dentro do universo circense", disse. 

Desde que começou a ser apresentado, 'O Grande Salto' foi destaque em diversos festivais de Circo país afora. “Até o momento, tivemos a oportunidade de apresentar este espetáculo aproximadamente 20 vezes em diversos estados brasileiros, como MS, MT, CE, RJ e RO, participando dos principais festivais de circo do país. Dentre esses locais, a participação no Festival Internacional de Circo do Ceará foi especialmente marcante, devido ao seu formato itinerante, que atraiu um público de mais de 1000 pessoas às praças para apreciar números circenses de artistas de renome mundial”, enumerou.

Para João, a jornada de ‘O Grande Salto’ tem sido uma experiência incrível e desafiadora, repleta de momentos que o enchem de orgulho. “A oportunidade de aprimorar técnicas e explorar a fusão entre o trampolim acrobático e a comicidade tem sido verdadeiramente enriquecedora. Inspirados por figuras como Larry Griswold, buscamos trazer um novo olhar para o circo, mesclando acrobacias e humor de forma única”, anotou.

 
 
 
 
 
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Assim como uma apresentação teatral, uma apresentação circense segue um roteiro, entretanto, João esclareceu que o espetáculo é ‘único’ em cada apresentação. “O espetáculo é conhecido por sua capacidade de se adaptar a diferentes ambientes, levando arte e entretenimento a públicos variados. Com sua versatilidade, ele encanta espectadores de todas as idades, criando uma atmosfera mágica e envolvente onde quer que seja apresentado. A cada nova apresentação, o espetáculo se renova, trazendo novas nuances e surpresas, mantendo-se sempre fresco e cativante para todos que têm a oportunidade de apreciá-lo”, revelou.

‘PASSAR O CHAPÉU’

João Rocha durante apresnetação na Capital sul-mato-grossense. Foto: Tero Queiroz João Rocha durante apresnetação na Capital sul-mato-grossense. Foto: Tero Queiroz 

Conforme o douradense, o pequeno apoio financeiro oferecido pela Lei Paulo Gustavo de Dourados deve beneficiar ao menos 5 artistas e ainda contemplar um plano de trabalho do espetáculo. “Esta apresentação é realizada com o apoio da LPG do município de Dourados, que disponibiliza um auxílio no valor de 12 mil reais para a realização de uma apresentação e uma oficina. Além das atividades propriamente ditas, é necessário coordenar a divulgação e a produção integral do projeto, que envolve uma equipe de 5 pessoas”, esclareceu.

Ante ao pequeno recurso para as apresentações e para manter viva a tradição da arte de rua, o artista considerou necessário passar o chapéu após a apresentação. “Assim, a interação entre os artistas de rua e o público se torna essencial para a continuidade dessa tradição. O gesto de passar o chapéu não apenas simboliza a valorização do trabalho artístico, mas também estabelece uma conexão genuína entre quem cria e quem aprecia a arte. É através desse ato de generosidade e reconhecimento mútuo que a magia da arte de rua se mantém viva, inspirando e encantando a todos que têm o privilégio de vivenciá-la”.

JOÃO ROCHA

Arista conta sobre sua trajetória na arte em entrevista ao TeatrineTV. Foto: Tero QueirozArista conta sobre sua trajetória na arte em entrevista ao TeatrineTV. Foto: Tero Queiroz

'O Grande Salto' é o primeiro solo do multiartista que atualmente integra os coletivos douradenses Cia. Theastai de Artes Cênicas e Circo Le Chapeau e a Cia. Blanche Torres de Dança. Graduado em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Grande Dourados, João lembrou como começou sua relação com a arte. “Iniciei minha jornada artística em Campo Grande com o Grupo Prisma, uma instituição de significativa importância para a base teatral da capital. Nesse ambiente, participei de espetáculos de rua e do teatro de palco italiano, além de adquirir conhecimentos sobre produção teatral e trabalho em equipe. Meu envolvimento com o teatro foi fortuito, uma vez que minha família nunca teve o hábito de frequentar espetáculos teatrais”.

Além de ser um amante das artes, para alcançar o prestígio atual e obter uma renda de seu trabalho, João precisou focar na profissionalização. “A expressão artística sempre representou uma fonte de prazer em minha vida. As pessoas que conheci nesse meio contribuíram imensamente para meu crescimento pessoal, intelectual e emocional. Portanto, compartilhar experiências com artistas de circo, teatro e dança é uma fonte inesgotável de alegria para mim. Ao dar os primeiros passos na profissão, foi necessário abandonar a abordagem amadora e comprometer-me com a profissionalização da arte. Permanecer atualizado em relação às tendências da cena artística, estudar a produção cultural nacional e internacional, e estar receptivo a aprender com os colegas mais próximos tornou-se essencial”, comentou.

Assim o artista conquistou o privilégio de conseguir viver exclusivamente com arte no Centro-Oeste brasileiro. “A arte desempenha um papel fundamental em minha vida, pois proporcionou-me uma formação enriquecedora e possibilitou certa estabilidade financeira, embora dentro de um contexto peculiar do universo artístico”.

Artista considera que a arte circense tem conquistado cada vez mais espaço na agenda pública. Foto: Tero Queiroz Artista considera que a arte circense tem conquistado cada vez mais espaço na agenda pública. Foto: Tero Queiroz 

Desde que iniciou sua carreira, João avaliou que houve uma evolução no que tange o reconhecimento da linguagem circense. “Neste cenário deslumbrante e repleto de possibilidades, é inspirador testemunhar a evolução e a essência do circo ganhando destaque. A sinergia entre a estética e a técnica circense é um verdadeiro espetáculo à parte, capaz de cativar e emocionar multidões. Ao explorarmos as oportunidades de crescimento, vislumbramos a consolidação da nossa região como um polo de excelência na arte circense, onde cada apresentação se torna uma experiência inesquecível. O circo, mais do que entretenimento, é um convite à superação de desafios, à quebra de barreiras e à conexão emocional com o público. A sua história rica e ancestral nos recorda da importância de preservar e reinventar constantemente essa forma de arte tão especial. Assim, comprometemo-nos a honrar essa tradição, abrindo caminho para novas expressões e inspirando gerações futuras a apreciarem a magia e o encanto circense. Juntos, podemos elevar o circo a novos patamares, encantando e transformando vidas através da sua beleza e poesia”.

O artista considerou que este é um dos momentos mais especiais e realizadores em sua carreira. “Considero este momento como um dos mais significativos da minha vida. Acredito verdadeiramente nisso em todos os aspectos. A verdadeira arte reside em viver o presente! O momento ideal para montar um espetáculo é o presente, o momento ideal para estudar é o presente, o momento ideal para aprender uma nova técnica é o presente. Em relação ao trampolim, ainda estou imerso no processo de estudo, e percebo que é um caminho contínuo. Unir a técnica olímpica com a arte do riso é um desafio árduo. Estou direcionando minhas energias para formar uma equipe técnica para o Sucata Cultural, especificamente na área de produção, com a expectativa de que, a médio prazo, isso proporcione mais oportunidades para a criação e inovação no cenário nacional”.

‘MULTIARTISTA POR NECESSIDADE’

Em 'O Grande Salto', João faz manobras no aéreas vendado. Foto: Tero Queiroz Em 'O Grande Salto', João faz manobras aéreas vendado. Foto: Tero Queiroz 

Citado por muitos como ‘multiartista’, devido a suas diversas habilidades, João admitiu que talvez a condição do artista brasileiro o leva por esse caminho. “Sim, por necessidade. De fato, nunca encontrei uma artista que tivesse o respaldo e a oportunidade de dedicar-se plenamente a uma atividade artística com todos os recursos à sua disposição. No Brasil, é imperativo desempenharmos uma série de funções, desde a produção até atuar, distribuir panfletos, contabilidade, direção, entre outras responsabilidades, para viver da arte. Assim, o que nos capacita a ser multifacetados é o público. Contudo, ao assumirmos tantos papéis, corremos o sério risco de não sermos reconhecidos por nenhum em particular”, observou.

POLÍTICA PÚBLICA PRÓ-CIRCO

João Rocha apresenta 'O Grande Salto' em Dourados neste fim de semana. Foto: Tero Queiroz João Rocha apresenta 'O Grande Salto' em Dourados neste fim de semana. Foto: Tero Queiroz 

Na avaliação do artista, a política pública de fortalecimento do Circo carece de muitas ações em prol de seu fortalecimento. “É fundamental reconhecer o potencial único do Circo como forma de arte e entretenimento, destacando a importância de preservar e promover essa rica manifestação cultural. O Mato Grosso do Sul, assim como toda a região Centro-Oeste, possui uma oportunidade ímpar de valorizar e impulsionar o cenário circense local, proporcionando oportunidades para artistas, produtores e público em geral. Investir em programas educacionais especializados em circo é um passo crucial para garantir a formação de novos talentos e a continuidade desta expressão artística. Além disso, é essencial incentivar a criação de espetáculos de alta qualidade, que possam cativar e emocionar plateias de todas as idades”, indicou.

Para tanto, João voltou a manifestar-se pelo oferecimento de formação. “Ao capacitar produtores locais para atuarem em nível nacional, abre-se um leque de possibilidades para a disseminação do circo sul-mato-grossense pelo país, contribuindo para a diversidade cultural e fortalecendo a identidade artística da região”.

No encalço disso, o artista citou a necessidade de haver editais públicos específicos para o Circo. “A implementação de editais específicos para o Circo é uma maneira eficaz de estimular a criação e inovação dentro desse universo tão singular. Reconhecer a evolução constante das técnicas circenses e a renovação de cada apresentação como parte essencial do processo criativo é fundamental para o crescimento e aprimoramento dessa forma de arte tão encantadora”.

LEI PAULO GUSTAVO EM DOURADOS

João Rocha celebra execução da Lei Paulo Gustavo em Dourados. Foto: Tero Queiroz João Rocha celebra execução da Lei Paulo Gustavo em Dourados. Foto: Tero Queiroz 

João disse ao repórter que a gestão de Alan Guedes está executando a Lei Paulo Gustavo de forma ‘satisfatória’ se considerada as circunstâncias do município. “Há ainda um longo caminho a percorrer para que nossa cidade possa posicionar a cultura como um agente transformador. A comunidade cultural continua a batalhar por aprimoramentos, evidenciando que Dourados ainda está aquém do status de uma cidade culturalmente desenvolvida”.

Sob essa ótica, João reconheceu o empenho dos colegas ativistas e trabalhadores da arte. “É encorajador ver o comprometimento e a dedicação dos artistas locais em prol do crescimento cultural de Dourados. Com mais investimentos, apoio da população e políticas públicas eficazes, a cidade certamente poderá florescer como um centro cultural vibrante e diversificado. Que cada pequeno passo dado hoje seja uma semente plantada para um futuro culturalmente rico e próspero para todos os habitantes de nossa amada cidade. Juntos, podemos transformar desafios em oportunidades e fazer de Dourados um verdadeiro celeiro de arte, criatividade e expressão. Vamos seguir em frente, unidos em prol desse belo objetivo comum!”, prospectou.

Apesar dos elogios, o artista revelou qual seria, na sua opinião, a maneira ideal de gerir os recursos da LPG em Dourados. “Percebo que os projetos estão dispersos, resultando em uma demanda de execução significativa que pode comprometer a qualidade e eficácia dos mesmos. Embora a gestão de recursos seja satisfatória, considero crucial realizar uma análise minuciosa da sua aplicação. Seria viável que a prefeitura centralizasse todos os projetos como um prêmio, eliminando a necessidade de abrir contas específicas para receber os recursos. Isso ajudaria a evitar despesas adicionais, como taxas bancárias, tempo gasto em filas e o esforço dos profissionais bancários que precisam lidar com um grande volume de artistas para questões financeiras relacionadas à abertura de contas”, sugeriu.

RELAÇÃO INTERIOR/FCMS

Espaço Cultural em Dourados, MS, oferece aulas de Circo, Teatro e Dança, com teatro de bolso, biblioteca e espaço gastronômico e musical "Lá no Jardim", sendo sede das Cias Artísticas: "Cia TheAstai" e "Circo Le Chapeau".Espaço Cultural em Dourados, Sucata Cultural oferece aulas de Circo, Teatro e Dança, com teatro de bolso, biblioteca e espaço gastronômico e musical 'Lá no Jardim', sendo sede das Cias Artísticas: 'Cia TheAstai' e 'Circo Le Chapeau'.

Ainda numa análise sobre a política cultural em Mato Grosso do Sul, João apontou falhas da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS), quando promove políticas centralizadas na Capital. “Percebo uma lacuna significativa no diálogo com o interior. Desde minha chegada a Dourados em 2009, somente Andreia Freire, durante sua gestão na FCMS, procurou interagir com os artistas locais para compreender suas necessidades e levantar demandas em nível estadual. O investimento cultural permanece centralizado em Campo Grande, com festivais de teatro, circo e dança todos sediados na capital. Urge a necessidade de descentralizar a atuação da FCMS para abranger todo o estado, participando ativamente dos eventos e das discussões acerca da produção artística do interior”.

Citando o grupo do qual é fundador, João reclamou da ausência do poder público cultural até mesmo nas atividades de grande impacto cultural promovidas. “O Sucata Cultural, em atividade há sete anos, é lar de duas companhias artísticas. No último ano, recebemos grupos distintos e realizamos mais de 150 apresentações fora de nossa sede e mais de 80 eventos internos incluindo exposições, concertos e artes cênicas. Lamentavelmente, não contamos com a visita de representantes do governo estadual para discutir o cenário cultural, exceto em ocasiões de eventos específicos”.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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PROJETOS FUTUROS

Por fim, João citou projetos artísticos sendo desenvolvidos e a continuidade da valorização do ‘O Grande Salto’. “No momento, tenho três projetos em andamento, sendo dois relacionados ao circo e um à dança. Em todos eles, atuo como diretor/provocador, desempenhando um papel essencial na minha expressão artística. Esses projetos ainda estão em fases iniciais e em breve serão concluídos. Quanto ao espetáculo "Grande Salto", continuaremos a participar de festivais e mostras em todo o país. As próximas apresentações estão planejadas para Campo Grande e Cuiabá, mas aguardamos confirmação para fornecer mais informações”, finalizou.