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RECURSO PÚBLICO

Oscip pega R$ 1,4 milhão e contrata ex-chefe da FCMS para realizar festival religioso

Evento que exalta e privilegia duas religiões teve início nos dias 23, 24 e 25 de novembro

28 NOV 2023 • POR TERO QUEIROZ • 11h00
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Mix das Águas é um evento religioso realizado na NOB, no centro de Três Lagoas. Foto: Reprodução

A OSCIP – “Instituto de Cultura e Desenvolvimento Solidário Máxima Social” pegou R$ 1,4 milhão para realização do ‘Festival Mix das Águas’: uma espécie de festival de música para evangélicos e suposptamente católicos em Três Lagoas (MS). Eis a íntegra

Este conteúdo pertence a série de reportagens 'Uso dos Recursos Públicos Culturais em MS', do TeatrineTV. 

A coisa religiosa é paga pela prefeitura de Três Lagoas, sob o bolsonarista Ângelo Guerreiro, e pela Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS), sob Edu Mendes. A FCMS destinou R$ 527.600 do cofre cultural (eis a íntegra) e o restante Guerreiro injetou. 

O evento que exalta e privilegia duas religiões teve início nos dias 23, 24 e 25 de novembro, com apresentações de pastores e músicos gospel. Além disso, o evento deve ter mais 4 dias: 29 e 30 de novembro e 01 e 02 de dezembro. Na programação dos primeiros dias, haviam diversos cantores exclusivamente do público evangélico. 

Segundo apurado pelo TeatrineTV, o festival evangélico/'católico', pago com dinheiro público, tem como diretor o ex-chefe da FCMS e ex-secretário de Cultura de Campo Grande, Max Freitas.Max Freitas dirige Festival parcialmente pago pela FCMS, a qual foi recentemente diretor-presidente. Foto: Reprodução

QUEM É O RESPONSÁVEL?

(24.nov.23) - Festival Mix das Águas em Três Lagoas. Foto: Prefeitura (24.nov.23) - Festival Mix das Águas em Três Lagoas. Foto: Prefeitura 

Procuramos o diretor de Cultura de Três Lagoas, Heriksen Plesley da Silva Costa, citado como Especialista em Produção de Eventos no extrato. Ao ser questionado sobre o evento religioso, Heriksen disse não ter responsabilidade: “Não sou o responsável, é a Secretaria de Turismo, não estou nisso aí”, respondeu. Apesar do que disse o funcionário da prefeitura, seu nome está como um dos membros da Comissão de Julgamento que aprovou a Oscip para realização do Mix das Águas. Herikson disse que iria encaminhar, por mensagem, o contato dos responsáveis, mas não fez isso até a publicação deste conteúdo.

Em todo caso, a reportagem falou também com a Secretária Municipal de Educação e Cultura (SEMEC), Ângela Maria de Brito, e ela também disse que a pasta não seria responsável pelo festival, e sim a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Turismo (SEDECTT), chefiada por José Aparecido Moraes.

Apesra do que alegou a secretária, a prefeitura disse que o evento teve a organização direta da Diretoria Municipal de Cultura da Secretaria Municipal de Educação e Cultura (SEMEC) em conjunto com a Diretoria de Turismo da SEDECTT.

Procurado, José passou o contato do chefe do gabinete do prefeito Ângelo Guerreiro, Marcos Augusto de Souza. “Vou passar para você o contato do ‘Marquinhos’, que é o pai desse Mix Três Lagoas, todas as informações, ninguém melhor do que ele para te passar... Olha, na verdade, ele não é o pai, não. Ele é o tio, o pai é o prefeito”, disse o secretário.

Então, falamos com o chefe de gabinete por telefone e o questionamos sobre a motivação do Mix das Águas. “A gente sempre faz eventos assim, festival, aniversário da Cidade, Carnaval, festa folclórica. As igrejas sempre pediram shows, a Marcha de Jesus acontece, mas às vezes as instituições encontram dificuldades para realizar esse evento. E o prefeito fez uma reunião com as pessoas católicas e evangélicas que pediram esse evento. E aí tem projeto de Lei, foi aprovado”, justificou Marcos. 

Questionado se haveria realização da festa para outras manifestações religiosas, Marcos disse que a Lei é aberta para todas as religiões. “Esse evento é para todas as religiões, só que como feito em cima da hora não conseguimos colocar outras, mas na lei é para todas as religiões, ano que vem queremos colocar mais religiões, mas claro que a gente precisa ser provocado”, apontou. (Eis a íntegra da Lei citada pelo entrevistado).

A reportagem questionou se o gabinete e o prefeito tinham conhecimento de que o diretor do festival era o ex-chefe da FCMS e ex-secretário de Cultura da Capital, e Marcos esquivou-se: “Eu não conheço direito ele, a empresa, foi feito chamamento público. Nós descobrimos depois que ele... Se chama Max Freitas, né? Só depois descobrimos que ele foi secretário de cultura”, completou. 

Também tentamos contato com o chefe da FCMS, Edu Mendes, para entender qual foi o critério para liberação de mais de meio milhão do cofre cultural para uma ação da secretaria de turismo de Três Lagoas. Ele não atendeu nossas tentativas de ligação. O espaço segue aberto.

“MÁXIMA ASSOCIAÇÃO” 

Max Freitas registra momento durante produção de festival religioso em Três Lagoas. Foto: Redes Max Freitas registra momento durante produção de festival religioso em Três Lagoas. Foto: Redes 

Como denunciamos aqui no TeatrineTV, a Máxima Social é a ganhadora unânime de certames culturais em Mato Grosso do Sul, com atuação na Capital e no interior. E agora, além do interior sul-mato-grossense, também realizará o evento de festividades natalinas de ‘Bombinhas (SC)’. 

Ao mesmo tempo, a Máxima tem como Presidente a servidora pública de Santa Catarina, Larissa Crepaldi Dias Barreira e, a comunidade cultural sul-mato-grossense, sempre denunciou a suspeita de ligação entre Max Freitas e a mulher à frente da Oscip. No entanto, não havia, até pouco tempo, laços que dessem subsídio às denúncias. Após sua saída da FCMS, no entanto, Max começou a figurar como organizador pela Oscip do Festival América do Sul, realizado de 9 a 12 de novembro desse ano em Corumbá (MS). 

Como é de conhecimento público, Max atua desde a sua juventude com produção de eventos culturais em MS. Com sua ascensão à política, no mesmo período, em meados de 2010, a Máxima Social tornou-se a Oscip preferida dos governos para realização de festivais culturais milionários, sistematicamente terceirizados nos últimos anos. A empresa acumula termos, contratações e chamamentos bilhonários junto ao governo tucano e diversos municípios de MS.  

Por muitos anos a Máxima Social não teve nem sede física em Campo Grande. Após denúncias no TeatrineTV, a empresa instalou-se na Vila Carvalho, onde agora exibe uma logomarca. Numa salinha, algumas pessoas atendem às demandas supostamente orquestradas por Larissa, de Florianópolis (Santa Catarina). 

Além de Larissa no estado sulista, a Máxima também tem como Diretor o servidor da Secretaria de Cultura e Turismo de Campo Grande (Sectur), Cristiano Souza Martins, nomeado em 2020 pelo ex-prefeito Marquinhos Trad (eis a íntegra), à época Max era secretário de Cultura na Capital. Mesmo após Adriane Lopes assumir e nomear Mara Bethânia Gurgel para chegar a Sectur, Cristiano segue como funcionário. 

O contato de Max Freitas encontrava-se fora da área de cobertura, por isso, não conseguimos ouvir ele acerca do Festival e sobre sua relação com a Oscip. Também não foram atendidas as tentativas de contato com a Máxima Social. O espaço segue aberto.

BRAÇOS QUE ALCANÇAM CULTURA, TURISMO E ESPORTE

Além de ser a unânime ganhadora dos ‘certames’ culturais, desde 2022 a Máxima Social passou a realizar projetos junto a Fundação de Turismo e em também junto a Fundação de Esporte, todas fundações submetidas a supersecretaria (Setescc), chefiada por Marcelo Miranda. Somente na cultura, em 2023, a Oscip acessou mais de R$ 12 milhões em recursos culturais.  

Neste ano a empresa também conseguiu emplacar projetos no Ministério da Cidadania.