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DESUMANO

Artista fica por 3h com corpo do pai no sol em frente a CEPOL (vídeo)

Leodegar Kunzler faleceu por volta das 7h na Santa Casa

24 NOV 2023 • POR TERO QUEIROZ • 20h11
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(24.nov.23) - Carro funerrário em que estava o corpo de Leodegar Kunzler, de 67 anos, permaneceu por mais de três horas, sob o forte calor, em frente o Centro Especializado de Polícia Integrada (CEPOL) da Capital. Foto: Arquivo pessoal | TeatrineTV

A produtora e atriz campo-grandense, Fernanda Kunzler, denunciou, nesta 6ª feira (24.nov.23), um descaso contra ela e familiares, quando buscavam a simples assinatura no Centro Especializado de Polícia Integrada (CEPOL) da Capital sul-mato-grossense. "No mínimo desumano, esperamos por mais de 3h com o corpo do meu pai em um veículo funerário sob o sol em frente a delegacia", lamentou.

Ela gravou um vídeo em que denunciou a situação. Veja:

Leodegar Kunzler, de 67 anos, havia sofrido um acidente doméstico (queda), na 2ª feira (20.nov.23), quando quebrou o Fêmur. Portador de síndrome mielodisplásica (SMD), que provoca um grupo de distúrbios nos quais células formadoras do sangue anormais se desenvolvem na medula óssea, Leodegar precisava de sangue e seria submetido a cirurgia, que não acabou acontecendo, visto que, conforme a filha, foi exposto e contraiu infecção hospitalar na Santa Casa. “Não fez [a cirurgia]... Precisava do sangue primeiro..., mas, na espera do sangue, ele pegou uma infecção hospitalar, que foi identificada ontem [23.nov]... Depois que já não respondia os sinais, o encaminharam para o CTI”, relatou.  

Familiares e amigos mobilizaram uma campanha de doação de sangue para Leodegar Kunzler, de 67 anos. Foto: ReproduçãoFamiliares e amigos mobilizaram uma campanha de doação de sangue para Leodegar Kunzler, de 67 anos. Foto: Reprodução

Ainda de acordo com Fernanda, mesmo sabendo da síndrome que Leodegar era acometido, a unidade hospitalar não isolou o paciente imediatamente e só fez isso após cobranças insistentes da família. “Não ficou em área isolada como deveria ser. Ontem, quando ele foi para o CTI, o estado já era gravíssimo. Entraram com antibiótico, iam entubar e fizeram o exame que demora 6 dias para ficar pronto, para saber qual o motivo de ter piorado”, detalhou. Ele faleceu às sete e meia da manhã desta 6ª feira.

Após a morte de Leodegar, a filha relatou que recebeu o diagnóstico do que, suspostamente, teria causado problemas no quadro de saúde do pai. “No final, a médica que liberou, falou que tinha dado pneumonia [no resultado do exame]. Então, fomos na patologia, onde esperamos por 1h, e eles nos encaminharam para a CEPOL”. Então, foram informados que deveriam ir até a delegacia registrar um Boletim de Ocorrência. “Nós questionamos o porquê da CEPOL e eles explicaram que quando tem acidente [doméstico], precisa ter Boletim de Ocorrência, para liberar o corpo, não é causa natural. E por conta da idade, que ainda é 67 anos. Aí nós questionamos, mas como? Ele não morreu por conta da queda, ele morreu por conta de uma infecção hospitalar, ele morreu por causa de condições de dentro do hospital. Aí o rapaz do hospital, da patologia, informou que era questão de segurança, a polícia que determina isso. Aí questionamos, mas que segurança? Segurança Pública? É, Secretaria de Segurança, falou assim”.

Fernanda revelou que foi para a delegacia às 11h25 e só conseguiu sair de lá após às 15h, após chamar um advogado. “A gente foi para lá [delegacia], eram 11h25, falamos o que era, chegou o pessoal da funerária para levar para IMOL e a gente ficou lá até aquela hora que eu fiz o vídeo, depois daquela hora, ainda demorou 40 minutos para eles assinarem. Nós tivemos que chamar um advogado para ir lá, porque se não fosse o advogado, estaríamos lá até às 17h da tarde”.

Para a artista, a situação é um descaso que poderia ter sido evitado e que precisa ser denunciado para que não se repita. "E, assim, falávamos: é só uma assinatura, qualquer delegado. Tinha um investigador da polícia que chegou lá e ele falou que ele não podia ser – nós estávamos implorando, só para liberar, porque o carro da funerária estava lá parado no sol quente, o corpo do meu pai dentro do carro. É muito, é muito... (se emociona). Para nós é um descaso esse momento. Eu liguei na Secretaria de Direitos Humanos, eu liguei no Ministério Público, eu liguei na denúncia 100, liguei no 156, fizemos o que conseguimos na hora", finalizou. 

‘MUITO RAZOÁVEL’

Conforme apurado pela reportagem, a equipe policial composta por Felipe, Idelfonso, Raphaela e Eliel, foram responsáveis pelo Boletim de Ocorrência (B.O) registrado às 12h49.

Segundo o documento oficial, Leodegar: “Encontrava-se tomando banho [em casa] na Rua Palmácia [Vila Moreninha II], momento em que teria saído da cadeira de rodas e deslocado-se para o vaso sanitário, momento em que teria machucado a região da cabeça. Importante salientar que a vítima possuía artrose nos dois joelhos, fazendo assim com que o mesmo tivesse dificuldade para locomoção. No mesmo momento, o SAMU teria sido acionado juntamente com o corpo de bombeiros, de forma com que teria sido deslocado até a Santa Casa desta Cidade de Campo Grande (sic)”, escreveu a polícia.

Consultada sobre o assunto, a Delegada de Polícia Civil, Fernanda Félix, responsável pela assessoria da Polícia Civil em Campo Grande, respondeu: “12:49 início do registro da ocorrência. 13:18 final do registro da ocorrência. 12:51 requisição de exame. Prazo muito razoável para finalizar a liberação do corpo... A família recebeu imediato atendimento do plantão CEPOL, logo após a chegada da ocorrência e tão logo foi finalizado o boletim o corpo foi liberado”. 

SANTA CASA

Procurada, a assessoria da Santa Casa solicitou tempo para enviar uma resposta sobre o caso. O espaço segue aberto. 

VEREADOR

O vereador Ronilço Guerreiro, ligado à Cultura e responsável pela Comissão que representa os artistas na Casa de Leis, disse à reportagem que encaminhou imediatamente o vídeo para o Secretário de Segurança Pública. “Minha solidariedade e, principalmente, o sentimento de empatia é fundamental nessa hora”. O legislador disse que assim que obtiver uma resposta, a repassará ao site.

MEMÓRIA E VELÓRIO 

Leodegar foi um grande colaborador na Moreninha, ele que movimentou o nome da escola José Mauro Messias, e a construção do Estádio das Moreninhas. Foi radialista na rádio comunitária FM Moreninhas 106,3 com o programa 'Ronco da Gaita', que ficou por mais de 10 anos no ar, onde popularizou o bordão: "Um abraço de 3 voltas e meia", que falava ao final de cada programa.