Delegado cultural diz que a FUNAI tira autonomia dos indígenas em MS
'Fica com nossa autonomia e não leva nossa voz para frente', diz Emerson Fernandes
23 NOV 2023 • POR TERO QUEIROZ • 01h58Emerson Fernandes, da Aldeia Porto Lindo, em Japorã (MS), foi eleito durante a IV Conferência de Cultura de Mato Grosso do Sul (IV CONEC) – realizada de 20 a 23 de novembro, em Campo Grande (MS) – como um dos delegados indígenas que vão representar o estado na Conferência Nacional em Brasília (DF), em março de 2024.
Estreante em conferências culturais, Emerson comentou que é importante acolher as biodiversidades culturais em eventos como conferências e que ficou honrado de ser eleito para a próxima etapa. “A experiência que tive aqui é que a coletividade é muito importante, seja negros, seja LGBT, seja nós indígenas, a coletividade é muito importante para que a gente ocupe nossos espaços, todos os espaços, e para isso precisamos criar leis e nacionalizar essas leis. Foi isso que entendi aqui”, resumiu.
O evento político-cultural organizado pela Secretaria de Estado de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania (SETESCC), em parceria com a Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS), levou delegações de 30 municípios à Capital, com direito estadia e alimentação, mas ainda assim, havia poucos indígenas presentes na IV CONEC. “O estado fez uma parceria com a prefeitura para a gente estar aqui hoje. Então fizemos um movimento para conquistarmos uma vaga aqui, para participarmos dessa Conferência”.
Segundo Emerson, Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI) de MS estaria tirando a autonomia dos povos de participar com voz ativa em eventos como conferências. “Infelizmente, o que muita gente não sabe é que a FUNAI interfere em nossos movimentos, eles tentam limitar o que a gente pode fazer, seja na educação, saúde ou mesmo conferência. Existe uma limitação para a gente, e isso dificulta muito os movimentos que fazemos... Pelo que vejo a FUNAI tenta tirar a nossa autonomia, a nossa voz, o que a gente deveria ter, o que a gente quer, o que temos em mente para a nossa comunidade, a FUNAI tira nossa autonomia, fica com nossa autonomia e não leva nossa voz para frente. Então, os movimentos que a gente faz fica apenas com a nossa cabeça e movimentos como esse, uma conferência, em que a gente poderia falar, poderia participar, mas acabamos não podendo participar”, denunciou.
O delegado definiu ‘cultura’ como o ‘modo de viver de toda sociedade’. “É uma forma de nos expressarmos em nossa sociedade de um modo geral, seja ela com arte ou em outras linguagens, para mim cultura é um modo de viver”.
Emerson completou citando quais são suas expectativas para a Conferência Nacional. “A nossa expectativa é que possamos conquistar todos os debates que fizemos dentro da Conferência Estadual, porque como vimos, temos uma grande diversidade dentro de Japorã, são muitas culturas, então nossa expectativa é que conquistemos leis nacionais que alcancem essa diversidade de indígenas e não-indígenas”, finalizou.
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