Portal completa 5 anos e soma 1,5 mil alunos em Escola Antirracista

O que começou como um sonho da jornalista e ativista de direitos humanos Thaís Bernardes, hoje se tornou um dos maiores portais de notícias para a comunidade negra do Brasil

Colaboradores e fundadora do Notícia Preta celebram 5 anos da organização. Foto: André Melo

No dia 20 de novembro de 2018, que coincidentemente marca o Dia da Consciência Negra no Brasil, o Notícia Preta, ou simplesmente NP, foi fundado com o objetivo de amplificar as vozes daqueles que foram ignorados. O que começou como um sonho da jornalista e ativista de direitos humanos Thaís Bernardes, hoje se tornou um dos maiores portais de notícias para a comunidade negra do Brasil. Inclusive, o NP é o único site do país e do mundo, dedicado a cobrir conquistas, desafios culturais e artísticas de pretos e pretas. 

"Ao longo da história, os negros sempre tiveram um lugar no jornalismo, que é a redação ‘geral’. Nos séculos XVIII e XIX, foram publicadas notícias como ‘Procura-se escravos fugitivos’. Muitas vezes são objetivados no mesmo jornal. Mas como podemos ser diferentes? Somos diversos, somos plurais, não nos restringimos à redação geral. Pelo contrário, não me via nesta mídia, então criei uma nova", explicou a CEO.

Thais Bernardes é jornalista formada em Comunicação pelo Institut français de Presse-Université Panthéon-Assas, em Paris e em Jornalismo pelo Institut Pratique de Journalisme (IPJ) na França. É CEO e fundadora do Notícia Preta, portal de jornalismo antirracista que busca combater o racismo e desigualdades sociais por meio da educação. Anteriormente, trabalhou como repórter no canal France 2, no Jornal Extra e na rádio BandNewsFM. Foto: Reprodução

O NP começou com um trabalho voluntário, com pessoas de todo o Brasil enviando mensagens querendo escrever para o portal. Foi assim que, segundo Thais Bernardes,  teve início a formação antirracista dos colaboradores do NP. Diversos workshops foram oferecidos aos voluntários, como Técnicas de SEO, radiojornalismo, telejornalismo, assessoria de imprensa, entre muitos outros.

Em 2019, a trajetória do NP deu uma guinada. Após crescimento exponencial nas redes sociais, principalmente no Instagram, o NP foi homenageado com o Prêmio Carolina Maria de Jesus de Direitos Humanos na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ). O prêmio é concedido a pessoas físicas, entidades e empresas que lutam pelos direitos humanos e que se destacaram no combate às diversas formas de violência cometidas contra as pessoas, principalmente as da periferia, que são as mais vulneráveis.

"Foi um momento muito especial para o Notícia Preta. Foi um ano de fundação do jornal, e estávamos em um momento político muito tenso, com a possibilidade de revogar vários direitos que lutamos durante séculos para obter, inclusive os direitos humanos. a premiação para o NP foi uma honra e uma responsabilidade enorme, assim como o próprio NP", comemora Igor Rocha, ex-editor e hoje Coordenador de Comunicação do Notícia Preta, que representava os 32 colaboradores na época.

Mari Reis, Leo Bispo, Lidia Azevedo, Cíntia Cruz, colaboradores. Thais Bernardes (de vermelho) diretora e Igor Rocha (de azul) coordenador

Durante a pandemia da Covid-19, com o boom das lives e podcasts, o Notícia Preta também produziu alguns episódios do programa Diálogos Pretos, produzido e apresentado pelos coordenadores regionais e editores do NP. Diversos temas foram discutidos no podcast, com a participação de diversos convidados. Ainda durante a crise sanitária global, o NP realizou diversas entrevistas com celebridades de todo o Brasil, como a cantora e ministra da Cultura, Margareth Menezes.

Desde então, o NP não parou de crescer e uma das colaboradoras selecionadas para o corpo de voluntariado, Bárbara Souza, teve um desempenho tão bom durante o processo que hoje é uma das editoras do portal. Ela contou que o Notícia Preta foi uma verdadeira escola para ela. "O que a gente faz no Notícia Preta eu não aprendi na faculdade. Aprendi a escrever, mas não aprendi a escrever, a abordar, e tudo isso a gente não aprende lá. Prática. Muitas pessoas passaram pelo Notícia Preta e conquistaram muitas coisas, chegando a lugares inimagináveis para uma pessoa negra e periférica”, avaliou a jornalista.

"O Notícia Preta foi um divisor de águas na minha vida profissional. Vim de uma trajetória intensa de trabalho em gabinetes, assessoria de imprensa parlamentar e, de certa forma, fiquei ‘viciado’ até no tipo de texto que era produzido. '[No]' Preta, eu poderia fazer o que quisesse no jornalismo, que é factual, hard news, que dá aquele frio na barriga de ter que escrever o mais rápido possível para não perder o timing da notícia”, considerou Igor Rocha.

PRETA NA POLÍTICA 

Bolsa personalizada com identidade visual do site Notícia Preta. Foto: André Melo

O Notícia Preta é um jornal antirracista que aborda todos os tipos de temas que interessam direta ou indiretamente à comunidade negra, e a política não pode ficar de fora quando se trata de políticas públicas. Com isso em mente, o NP firmou parceria com a Câmara Municipal do Rio de Janeiro e, desde julho de 2022, Thais Bernardes é apresentadora do programa Câmara Rio Debate – Notícia Preta.

"O programa busca abordar todos os temas, desde a comunicação antirracista até a moda africana, através da Lei de Cotas. É uma importante ferramenta de comunicação, utilizando meios públicos para levar informação e educação antirracista a um enorme universo de pessoas que acompanham ambos. O NP e a Câmara Municipal do Rio, é um espaço de debate e conhecimento”, explicou a diretora-presidente do NP.

ESCOLA DE COMUNICAÇÃO ANTIRACISTA 

Thais Bernardes, fundadora e CEO do Notícia Preta durante a cerimônia de lançamento da Escola de Comunicação Antirracista. Foto: André Melo

A vontade de transmitir conhecimento por meio do jornalismo fez o sonho do NP crescer ainda mais e, em agosto deste ano, foi lançada a Escola de Comunicação Antirracista (ECA) Notícia Preta, com cursos de comunicação antirracista, assessoria de imprensa, semiótica e antirracismo, comunicação institucional, entre outros. "O combate às desigualdades passa necessariamente pela educação e pela informação. Somos um espaço alinhado aos Objetivos do Milênio (ODM) da ONU e fazemos parte de uma rede poderosa que troca boas práticas na luta antirracista", apontou Thais.

Desde o seu lançamento, em agosto deste ano, a ECA atingiu o impressionante número de 1.500 matrículas em seus cursos gratuitos. A escola é uma plataforma de ensino online, com treinamentos acessíveis e cursos diversos, todos dentro da área de comunicação. A proposta da Escola é democratizar o acesso à educação e inserir as pessoas no mercado de trabalho. A meta da Escola é formar gratuitamente 20 mil alunos na Escola no próximo semestre e formar mais de 2 mil jornalistas que já atuam na mídia tradicional.

A ECA também mantém parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC RJ), onde são oferecidos cursos técnicos em Administração, Produção de Eventos, Design Gráfico Digital, Treinamento e Programação Java, Design Gráfico Digital, Operador de Áudio e Organizador de Eventos. "Investimos no desenvolvimento da comunidade negra, gerando impacto positivo por meio da educação, inclusão e diversidade. Colocamos nossos clientes no centro das decisões, oferecendo soluções de comunicação e jornalismo de melhor qualidade, inovação e demanda mais resiliente", detalhou Thais.

NOTÍCIA PRETA EM NÚMEROS

São cinco anos ininterruptos de trabalho, com mais de 10 mil artigos publicados no site e dezenas de milhares de publicações nas redes sociais. Existem textos sobre uma ampla variedade de tópicos, desde economia, política, educação até entretenimento. Atualmente, a NP tem o Instagram como carro-chefe nas redes sociais, com mais de 415 mil seguidores. Além disso, o X (antigo Twitter) já conta com mais de 24 mil seguidores e o Facebook conta com 19 mil curtidas na Fan Page. Estas são as três redes principais, mas a NP também está presente no TikTok, YouTube e LinkedIn.

Estes números das redes sociais refletem um total de mais de 1,3 milhões de visitas ao site em 2022, com uma média de 112.000 visitas por mês. O maior público do NP situa-se atualmente entre os 25 e os 44 anos, representando 62% do total de leitores do portal, sendo que as mulheres representam 56,5% deste público. Só nos últimos três meses, foram alcançadas mais de 2,1 milhões de contas e 22,3 milhões de impressões nas redes sociais.

Outro dado encontrado nos números do NP é o percentual de pessoas não negras que acompanham o portal nas redes sociais. Um percentual considerável de seguidores não se identifica como preto ou pardo, e Thais credita esses números ao desejo de aprender da população brasileira. "42% do nosso público são pessoas não negras e isso mostra que eles querem aprender. O jornalismo é justamente isso, uma ferramenta de educação e transformação social", finalizou.