'Tucano repetido': Oscip pega milhões para o 22º festival de Bonito
Herança mais sintomática da gestão Azambuja repetida na gestão Riedel
27 JUL 2023 • POR TERO QUEIROZ • 00h58Com um modesto plano de trabalho de R$ 6.765.000,00, a Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), Instituto de Cultura e Desenvolvimento Solidário Máxima Social foi a escolhida, de novo, para realizar o 22º Festival de Inverno de Bonito. Eis a íntegra.
Este conteúdo pertence a série de reportagens 'Uso dos Recursos Públicos Culturais em MS', do TeatrineTV.
Como mostramos aqui no TeatrineTV, essa edição do festival é alvo de uma verdadeira desordem e chegou a ficar suspensa, após a Fundação de Cultura (FCMS), lançar um edital desrespeitoso à classe cultural. Há anos, artistas sul-mato-grossense cobram que o festival seja realizado diretamente pela FCMS, mas diante do edital errôneo, muitos pediram o cancelamento do festival pelo mecanismo desejado.
"Já fizeram esse edital todo errado, só para depois lançar esse outro chamamento para essa Oscip, que só tem essa aí, acho... Porque nem lembro desde quando é só essa Máxima que ganha, né?”, disse um artista e produtor cultural, sob anonimato.
Como abordamos em outros conteúdos aqui, a Oscip ‘Máxima Social’, inscrita no CNPJ/MF n° 09.375.853/0001-82, é há quase dez anos ganhadora unânime dos certames culturais em Mato Grosso do Sul. A empresa, que tem como presidente a servidora Pública de Santa Catarina, Larissa Crepaldi Dias Barreira, é vista com estranheza pela classe cultural, já que ano a ano os festivais são produzidos de maneira equivocada, com desdém aos artistas locais.
Os erros da Oscip são, na maioria das vezes, na montagem de palcos, hospedagens precárias, dificuldade no recebimento dos cachês e tratamento desrespeitoso por parte dos produtores contratados pela Oscip. "Essa Oscip contrata pessoas que não nos conhece e trata muitas vezes os artistas daqui de maneira mal educada, com desdém mesmo, sabe?", aponta outro artista. Detalhamos aqui no TeatrineTV, como os artistas disseram que foram tratados por produtores da Oscip, durante o 16º Festival América do Sul Pantanal 2022, no final da gestão Azambuja.
Ainda assim, a Oscip de Larissa foi novamente selecionada para gerir os recursos milionários de um dos mais importantes festivais sul-mato-grossenses. Agora, o cofre cultural está sob o comando do novo Diretor-Presidente da Fundação de Cultura e Secretário de Estado de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania (Setescc), Marcelo Miranda, que "sobreviveu" ao duelo com o gestor anterior da FCMS, Max Freitas, acumulou cargos e pegou o 'carro andando'.
'TUCANO REPETIDO'
(06/08/22) - Reinaldo Azambuja (PSDB), elevou seu ex-secretário à política para continuar após 8 anos de governo tucano em MS. Foto: Tero Queiroz
O governo de Eduardo Riedel (PSDB), repetiu, neste 1º semestre, o modelo de gestão cultural fracassada do também tucano Reinaldo Azambuja.
Até o momento, a promessa de Riedel de que faria uma gestão cultural de maior qualidade, descentralizada, digital, com entregas de equipamentos e valorização à cultura, não vem se fazendo real.
Exemplo disso é a importante obra do Centro Cultural José Octávio Guizzo, que abriga o Teatro Aracy Balabanian, fechado em 2016 no governo Azambuja e que ainda segue sem previsão real de entrega. Lembramos que a expectativa inicial era de que a obra fosse entregue em abril passado.
Outro símbolo da péssima gestão cultural de Azambuja, é a escultura vandalizada em 18 de abril de 2021, de um dos mais importantes poetas da história mundial, Manoel de Barros, que até este final de julho de 2023 segue com o ‘pé decepado’ na Avenida Afonso Pena, no Centro da Capital sul-mato-grossense.
Feito por Victor Henrique Woitschach, a escultura de Manoel de Barros seria restaurada até o final desse mês, conforme o ex-diretor-presidente da FCMS, Max Freitas, que em março cravou um prazo de 3 meses para a entrega da restauração. Apesar disso, Max 'pediu para sair' da FCMS em 19 de junho de 2023, após duelo com o atual chefe da Fundação.
Nesta última semana de julho, a reportagem do TeatrineTV questionou Marcelo Miranda sobre o andamento da restauração da escultura de Manoel. O novo chefe da FCMS disse que iria buscar informações sobre o assunto e que retornaria, entretanto, não deu nenhuma resposta até a publicação deste conteúdo.
(19.mar.23) - Marcelo Miranda e Max Freitas trabalharam juntos apenas na entrega da obra da Casa do Artesão. Foto: Instagram | Reprodução
Riedel também repete a gestão Azambuja na realização do principal edital cultural de MS — Fundo de Incentivo à Cultura de Mato Grosso do Sul (FIC) — lançado no final de 2022, isso é, atrasado e com valor defasado de R$ 8 milhões, que este ano foi disputado por mais de 400 propostas culturais de todo o estado. O pequeno valor, assim como na gestão Azambuja, também acaba tendo grande fatia para a classe musical, como anotamos aqui.
A herança mais sintomática da gestão de Azambuja repetida na gestão Riedel, e que agride fortemente a cultura sul-mato-grossense, é o fato de não haver nenhuma programação financeira apresentada pela FCMS ou Setescc à classe cultural, ao Conselho ou Fórum Estadual de Cultura. Até o fim desse semestre não se sabe quais serão as políticas pública culturais executadas pela FCMS e Setescc para o fortalecimento da cultura sul-mato-grossense.
"Estão esperando sair essa Paulo Gustavo aí para dizer que estão investindo, porque investimento mesmo só estamos vendo a música receber", apontou outra artista que atua em nas áreas de literatura, teatro e dança.
A reclamação dos artistas se deve ao fato de que o grosso recurso da cultura continua sendo escoado para realização de shows musicais e festas de peões ligadas a indústria sertaneja. Vamos publicar, nos próximos dias, um levantamento que mostra que mais de R$ 3 milhões dos recursos culturais sul-mato-grossenses foram gastos com apenas 4 artistas do gênero sertanejo nesse 1º semestre de 2023.
Com isso, em Mato Grosso do Sul, até o momento, a FCMS de Riedel atua como uma produtora ‘vestida de Fundação’, e que apesar disso, não consegue gerir seus pouquíssimos festivais culturais. Esse foi o modus operandi dos 8 anos da gestão Azambuja.