Douradenses 'fecham contrato' com novela da TV Globo
17 MAI 2023 • POR • 19h35O indígena Guarani-Nhandeva, ator e cineasta Luan Iturv, de Dourados (MS), está trabalhando como consultor de elementos indígenas para a novela Terra e Paixão. Além dele, a também douradense Fabiana Fernandes está oferecendo consultoria etnográfica ao folhetim — ambos os contratos seguem até o final da produção da TV Globo.
Como mostramos aqui no TeatrineTV, 'Terra e Paixão' será a novela das nove mais longa desde 'Amor à Vida (2013), também de Walcyr Carrasco. A novela estreou em 8 de maio de 2023 e deve terminar no início de janeiro de 2024, totalizando 221 capítulos.
Em todo esse período, pela 1ª vez na história, artistas douradenses produzem cenários à Arte e dão consultorias com contratos duradouros junto a emissora carioca. “Eu e Luan somos os únicos de MS com contrato firmado até o final da novela. Somos os únicos na história da cenografia do estado a montar um cenário de novela da Globo no Projac”, celebrou a produtora Fabiana Fernandes, em conversa exclusiva ao TeatrineTV.
Ao lado de Luan, o trabalho de Fabiana é oferecer auxílio na produção de objetos e cenografia da aldeia cinematográfica construída no Projac, nos Estúdios Globo, no Rio de Janeiro (RJ).
Luan contou à reportagem que a dupla está desde o início dos trabalhos prestando assessorias. “Estamos integrando o projeto, muito próximos da equipe de Arte na novela. Eu estou dando consultoria a elementos indígenas... Por exemplo, aquela casa que apareceu no 1º capítulo da novela. Também tem todos os elementos indígenas sagrados da nossa cultura que foram construídos para a casa, incluindo o Cocar que o personagem do Daniel Munduruku usa, passou por nossa criação. Também fiz chiru, mbaraká, apyká, mboy e vários outros que vão aparecer, que são objetos que igual dizem nossas anciões: que preservam nossos ancestrais”, detalhou ao TeatrineTV.
Conforme o artista de 23 anos, a casa, palavras usadas e ambientes por onde os personagens de Daniel Munduruku, Mapu Huni Kui, Suyane Moreira e Rafaela Cocal transitam, são minuciosamente adereçados por Luan, Fabiana e a equipe de Arte da TV Globo, dirigida por Eugênia Maakaroun.
“O que construímos e estamos auxiliando na construção é muito próximo dos costumes dos dos parentes Guarani e Kaiowá... Quisemos fazer uma casa, que lembra uma casa de reza, mas que também é um ambiente híbrido, porque hoje em dia alguns povos indígenas não estão 100% isolados, a cultura dos brancos chega até nós e o que é bom nós usamos. Então, você vai ver uma geladeira, um fogão, coisas de conexão à internet, porque temos isso em nossas aldeias aqui em Dourados, né? Então, nosso trabalho na novela foi repassar os conhecimentos sobre os costumes indígenas daqui”, detalhou.
De acordo com Luan, a mistura com os novos costumes reforça a importância da preservação dos ensinamentos ancestrais. “Vamos cada vez mais perseguir a preservação da nossa cultura, porque se nossa cultura morrer, nosso povo desaparece, né? As produções cinematográficas têm grande valor nisso”, observou.
O artista celebrou a conquista do espaço na produção nacional, reforçando que isso deve crescer cada vez mais. “Nós temos indígenas em todas as áreas. Somos capazes de atuar em todos os lugares e estamos batalhando para ocupar os espaços que nos pertencem. Não pode uma pessoa não indígena querer dar vida a um personagem indígena, isso é errado. Estou feliz demais com essa oportunidade de mostrar meu trabalho e também de ver os parentes ocupando as telas, porque nós somos um povo diverso e temos indígenas em todas as regiões do Brasil... Então, esses indígenas são atores, poetas, escritores, cantores, dançarinos e tudo o que se pensar. Queremos ocupar nossos lugares e isso tende a aumentar no meio artístico”, considerou.
Ainda segundo Luan, agora ele está na ponte Rio/MS, atuando de duas maneiras. “Quando eles precisarem de algo mais específico vão me chamar até o Projac, mas agora estou fazendo a consultoria online, porque a Casa e os objetos estão tudo pronto lá. Mesmo assim, ainda devo ir lá em outros momentos até o Projac, para fazer coisas de cenas chaves da novela”, adiantou.
CARREIRA DE LUAN NO AUDIOVISUAL
Luan já foi protagonista do longa-metragem "A pele morta", com roteiro de Daniel Tavares, direção de Bruno Torres e Denise Moraes. Também esteve em curtas-metragens, como "calvário", de Cadu Modesto, produzido pela produtora Xaraés e "O vazio", de Adriano Paes, produzido pela produtora Rococoth.
Luan também fez Produção Executiva do curta-metragem "Amor Teu", também de Cadu Modesto, produzido pela produtora Xaraés. Foi Still e diretor de making-off na série documental "A sustentável leveza do ser ", dirigida por Leo Bello e produzida por Bruno Torres. A produção deve ser exibida em breve no Canal Futura. Luan também compôs a equipe de filmagem do projeto ‘Oga Pysy: Registrando a Cultura Guarani e Kaiowá”, apoiado pelo museu britânico em Londres. Veja mais e acompanhe o artista pelo seu Instagram oficial, abaixo:
BREVE HISTÓRICO DA CARREIRA DE FABIANA
Fabiana já foi notícia aqui no TeatrineTV, quando mostramos que ela estava compondo a equipe técnica da novela. À época, porém, ela ainda não podia dar detalhes de seu trabalho em razão do sigilo da produção. Ela é reconhecida no estado e em todo Brasil, por seu trabalho no cinema e por ser a produra do 1º grupo de Rap indígena do Brasil, o Brô MC's — que estiveram no Rock' In Rio.
Em 2021, Fabiana foi a primeira sul-mato-grossense a ganhar a Mostra Internacional de Audiovisual do 12º Fazendo Gênero. Ela venceu com o curta-metragem documental 'Kuña Porã: Matriarcas Kaiowá e Guarani', gravado em Dourados. A produção expõe processos de empoderamento e alteridade feminina das mulheres Kaiowá e Guarani nos espaços que compõe o imaginário social de suas aldeias e acampamentos. Quatro anos antes, ela havia ganhado o prêmio internacional de fotografia do 11º Fazendo Gênero e Mundo de Mulheres. Veja mais e acompanhe a artista pelo seu Instagram oficial, clicando AQUI.