Prestes a completar 71 anos, Américo Calheiros é homenageado na Boca de Cena
Ex-gestor cultural, fundador de um primeiros grupos de teatro do estado
28 MAR 2023 • POR • 16h37Américo Ferreira Calheiros completará 71 anos no próximo dia 31 de março e na noite da 2ª.feira (27.mar.23), ele foi homenageado durante a abertura da Semana Boca de Cena, no Teatro Dom Bosco, em Campo Grande (MS).
A homenagem foi entregue pelos mãos do professor, ator e diretor Fernando Cruz, da atriz e diretora Bianca Machado e do diretor-presidente da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS), Max Freitas (foto da capa).
Uma placa com o nome do artista referenciando a Boca de Cena foi dada em razão das décadas de atuação de Calheiros como professor universitário, diretor, ator, escritor, poeta e gestor público cultural.
Ao receber o prêmio Américo Calheiros considerou:
— A arte de fazer teatro te pega e não te larga nunca mais. Foi assim comigo. Eu cheguei nessa caminhada que fiz desde os anos 1970 até os dias de hoje graças, exclusivamente, ao desafio que o teatro implantou em minha vida. Eu comecei a fazer teatro aqui nesse espaço, era um anfiteatro do Colégio Dom Bosco, e a gente saía da faculdade e vinha ensaiar. De lá para cá percorremos um trecho grande dentro do teatro e que foi também me interligando com todas as formas de arte. Porque o teatro tem essa força tão grande de estabelecer pontes e de ampliar a sua visão para além do seu eu e dar valor à democracia que existe no tratado com as demais pessoas. O teatro não é uma arte isolada, nunca foi e nunca será. Com toda a sua força sacra e profana, ele nos ensina a ir além do nosso próprio nariz e ver o mundo com todas as suas belezas e mazelas.
— Todos esses espetáculos em que trabalhei, que ajudei a montar, e todo o caminho que trilhei, eu tive a oportunidade de me enriquecer como ser humano e me enriquecer como ser político dentro da estrutura da cultura e da arte. Porque se nós não tivermos o exercício político, o teatro vai morrer. É através dessa força que o teatro tem, unida com o nosso exercício político, com a nossa união, com nosso trabalho em conjunto ao trabalho que é feito com todos, que a gente consegue sobreviver. O teatro tem a força da transformação. E essa é a força política do teatro, e é dela que não podemos nos afastar nunca. Parabéns a todos neste Dia Internacional do Teatro, à Fundação de Cultura, pelo trabalho que está realizando neste momento neste Boca de Cena, esperamos que seja um trabalho que venha e traga em seu bojo o reconhecimento do teatro sul-mato-grossense — completou Américo Calheiros.
Hoje chefe da Fundação de Cultura, Max Freitas agradeceu ao homenageado pela influência em sua carreira profissional.
“Acreditamos, como o professor Américo — eu gostaria de agradecer a ele pelos bons ensinamentos que tivemos juntos e aqui fica meu eterno agradecimento por ter trabalhado na gestão junto com ele — que o teatro, na sua circulação, na sua formação, na sua ansiedade de transformar vidas, como transformou a de várias pessoas, como transformou a minha, de levar um legado, uma história, momentos, mas acima de tudo, de levar sentimento que nunca ninguém vai deixar apagar, que nunca ninguém vai deixar morrer”, disse.
Assim como havia afirmado ao TeatrineTV na entrada do evento, no palco, Max Freitas promoveu a ideia de levar a Boca de Cena para o interior.
“O Boca de Cena retorna de uma forma ainda modesta, mas tenho a certeza que, construindo com vocês, com o setorial, com cada artista, cada profissional da arte e da cultura, será privilégio percorrer 79 municípios. Porque o Boca de Cena não pode ser feito só para Campo Grande. O Boca de Cena tem que ser feito para onde tiver um habitante sul-mato-grossense, porque a arte é feita para todos”.
O gestor completou agradecendo também ao professor, ator e diretor Paulo Sanches, homenageado da noite pelo seu trabalho no circo. E completou agradecendo ao governador Eduardo Riedel.
"Que nos propicia, ainda de uma forma modesta, estar retomando através da gestão pública, o Boca de Cena. O próprio colegiado setorial, os próprios artistas não deixaram morrer este Festival. O que nós queremos aqui é, simplesmente, em nome do nosso secretário Marcelo Miranda, da nossa secretária adjunta Viviane Luiza, falar para vocês que estamos juntos”, finalizou.
BIOGRAFIA DE AMÉRICO
Nascido em Goiana (PE), Américo Calheiros é reconhecido como fundador do Grupo Teatral Amador Campo-Grandense - Gutac (1971-1987) e do Grupo Teatral Infantil Campo-Grandense - Gutic (1973-1987). Ao longo da gestão de André Puccinelli (1º de janeiro de 2007 a 1º de janeiro de 2015 - 2 mandatos consecutivos), Calheiros foi Presidente da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul que na época detinha a sigla Fundac.
Formado em Letras pela FUCMT e em Teatro pela Escola de Teatro Martins Penna, no Rio de Janeiro, Calheiros é filho de Juracy Ferreira Calheiros.
Quando fundou o Gutac, Américo Calheiros trabalhou com a professora Cristina Mato Grosso.
Calheiros esteve trabalhando como artista de 1970-1984, tendo desenvolvido 17 obras nesse período, nas quais esteve várias vezes como ator, diretor ou produtor.
IMPORTÂNCIA NO TEATRO SUL-MATO-GROSSENSE
Em sua tese o Mestrando em História e historiografia do Teatro Brasileiro, Fabrício Goulart Moser, Aspectos do Teatro no Oeste do Brasil: notas para a história do Teatro Sul-Mato-Grossense, no Programa de Pós Graduação em Artes Cênicas-UNIRIO, destaca a importância de Américo. Veja abaixo:
Em 'Um Fascínio de Trezentos Anos', artigo de Américo Calheiros, publicado na revista Teatro e Dança das diversas regiões brasileiras (1984), pode ser considerado a primeira reflexão empreendida sobre a história do teatro em Mato Grosso do Sul.
MS teve a divisão com o Mato Grosso em 1979 e o texto foi veiculado anos depois, em informativo do antigo Instituto Nacional de Artes Cênicas (INACEN). No artigo, Calheiros cita encenações no Mato Grosso do século XVIII e faz um rápido apanhado do teatro na região nos séculos XIX e XX, sem
situar essas informações. Depois focaliza, com base na memória, a década que precede a criação de Mato Grosso Sul e os primeiros anos de sua existência, de 1969 a 1983, mencionando artistas, grupos, peças, entidades e eventos de Cuiabá, Aquidauana, Três Lagoas e especialmente de Campo Grande.
A falar de Cuiabá ele destacava no artigo o trabalho de Maria da Glória Albuês, que fomentou entre os anos de 1973 e 1975 os encontros “Tempo de Teatro”, eventos que “contaram com a participação de mais de quinze grupos de teatro amador em cursos onde se debateu a arte teatral e se iniciou a organização da classe”, foram anos de “ebulição e criatividade para os amadores do Estado”.
Já sobre a capital sul-mato-grossense, ele citava o término do TUC, que “durante quatro anos produziu e levou para o interior do Estado espetáculos, como “Arena Conta Zumbi”, e os Festivais Estudantis de Teatro (FEMT), organizados por Maria da Glória Sá Rosa, uma de suas integrantes, até o ano de 1976.
No mesmo artigo, Américo comentava que o FEMT permitiu a criação de grupos que, com a “falta de apoio por parte dos órgãos governamentais desapareceram tão rápido como surgiram”, sendo o único “sobrevivente” desse período o GUTAC, o qual ele integrou.
Ele continua o escrito considerando a riqueza da produção teatral das capitais dos dois estados, mas também cita Três Lagoas e Aquidauana conseguiram “criar e sustentar grupos de significativa expressão”, o TPI – Teatro da Patota Infantil e o Teatro de CERA – Centro de Educação Rural de Aquidauana.
Américo também afirmava no texto que a criação de Mato Grosso do Sul redefiniu o trabalho do GUTAC e mobilizou o grupo na direção de uma busca pela identidade sul-mato-grossense. Essa mesmo intuito teria lavado a criação da Federação Sul-mato-grossense de Teatro Amador (FESMATA), em 1979, e um
movimento de resistência pela valorização dessa categoria artística no Estado.
O artigo de Américo aparece ligado a uma ação do extinto órgão de gestão do teatro nacional, o Mambembão. Conforme divulgação do INACEN, o projeto era realizado desde 1978 e valorizav “espetáculos produzidos fora do Eixo Rio – São Paulo”.
Além do texto de Américo Calheiros, também constam relacionados ao 'Mambembão', uma artigo de Teatro e Dança das diversas regiões brasileiras (1984), escrito por Maria da Glória Sá Rosa sobre a trajetória da dança no Estado, intitulado Para Bailar Tudo é Pretexto.
BOCA DE CENA
A Boca de Cena 2023 acontece até 1ª de abril na Capital. As atrações são abertas ao público. Confira a programação completa AQUI.