Neste sábado (25.nov.23), o jovem escritor sul-mato-grossense Febraro de Oliveira, de 25 anos, está participando da 21ª Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, na cidade de Paraty (RJ). Ele é autor do romance 'Uirapuru' e do recém-lançado 'Caixa D'água', livro de poemas que narra a morte de um menino LGBT.
Ao TeatrineTV, Febraro explicou que 'Caixa D'água' foi lançado no último dia 17 de novembro, na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo. O livro, que parte de uma história real que aconteceu no interior do Pará em janeiro de 2022, venceu o 3º Prêmio Caio Fernando de Abreu de Literatura e rendeu um contrato para a publicação da obra pela Editora Reformatório.
"Eu já estava escrevendo um livro chamado Caixa D'água por uma fixação que eu tinha na infância, de um flerte alí numa caixa d'água que eu tinha em casa. Eu tinha uma brincadeira de me afogar na caixa d'água, aquela brincadeira de criança de ficar pulando e saindo e vendo quanto tempo aguentava debaixo d'água. Eu começo a escrever um livro à partir da minha relação com a caixa d'água, mas um dia um amigo me manda uma notícia no jornal, falando que um menino tinha sido assassinado numa caixa d'água, afogado. Eu apago o livro que até então eu estava escrevendo e eu penso: agora sim eu tenho um livro a escrever", introduziu.
Durante a produção da obra, o escritor percebeu a oportunidade de falar do luto e da invisibilização da morte de jovens LGBTQIAPN+. "Não se fala muito desse menino. A própria família não fala muito dele e eu, no livro, eu proponho um outro processo de invisibilização, que é contar como a família desse menino lida com a morte ficcionalmente. O jogo do livro é o seguinte: se cada membro dessa família fosse um escritor ou uma escritora, o que é que eles escreveriam à partir desse assassinato? À partir desse crime de homofobia?", questionou.
Febraro esclareceu que o caso do jovem paraense é apenas um exemplo das tantas mortes violentas de LGBTs que acontecem pelo Brasil. Para o escritor, pensar na invisibilização que os corpos dessas pessoas sofrem em morte é revoltante e a quem fica, cabe a dura missão de narrar essas histórias. "Se não nós, quem? Se não agora, quando? Quando eu conto desse menino que é assassinado eu penso em contar também as histórias que vão se assemelhando nas diferenças. A gente tem aqui no Mato Grosso do Sul vários crimes de homofobia. Teve, por exemplo, a Apollo Black que era uma artista muito importante pra cena drag, que era uma conhecida minha e que eu via os shows dela, com muita felicidade. Um dia ela foi morta atrás do Shopping Campo Grande e até hoje não sabem quem matou a Apollo. Entende? Atrás do Shopping Campo Grande, em um bairro nobre. Então [o livro] é pra pensar em como os corpos LGBTs passam por uma invisibilidade e aí a literatura, nessa resposta, há uma revolta. Essa resposta com revolta ela vai se propôr a tensionar isso. Pra mim é isso, é criar uma tensão na vida, criar uma tensão nessa dialética à partir desse livro (sic)".
O livro de 108 páginas tem a capa ilustrada com uma tela da artista visual Isabê. "Foi uma vontade minha [ter a tela na capa]. Contar com a Isabê que é uma artista daqui do Mato Grosso do Sul, uma parceira minha de longa data. Essa tela ela disponibilizou pro livro gratuitamente, com uma generozidade muito linda. Ela ofereceu essa tela sem receber um real. É muito emocionante pra mim. É pensar no coletivo, se impulsionar junto. Ser publicado pela Editora Reformatório que é uma editora que eu tenho muito carinho e respeito pelo que ela faz há muitas décadas na literatura brasileira é pensar, de fato, nesse lugar do coletivo", celebrou.
'Caixa D'água' custa R$ 46 e pode ser adquirido por meio do Instagram de Febraro, que envia o livro autografado para todo o Brasil, com frete fixo a R$ 12.
FEBRARO NA FLIP 2023
Neste sábado, Febraro participará de um bate-papo com a jornalista Gabriela Soutello e mediação do editor Marcelo Nocelli, às 16h20, na Casa Queer. A transmissão será feita pelo Instagram.
Mais tarde, às 20h, o escritor fará uma sessão de autógrafos na Casa Pagã Flip.
A programação também conta com uma performance literária em local surpresa, feita pela atriz e bailarina Thais Yatho.
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