
Após arrastar milhares de pessoas, na noite do domingo (27.abr.25), para seu show Xande Canta Caetano, ao lado da Orquestra Sinfônica de Campo Grande (MS), no Parque das Nações, o músico carioca Xande de Pilares classificou o momento como uma ruptura com uma estrutura imposta. “Pô, cara, é muito gratificante, porque eu acompanho muito música clássica desde criança, por estudar música, mas eu nunca, nunca me vi numa oportunidade de poder cantar como essa, com uma orquestra”, disse ao TeatrineTV.

Xande é o nome artístico de Alexandre Moreira dos Santos. Nascido no Rio de Janeiro, ele iniciou sua carreira musical na década de 1990. Sua notoriedade começou na Rádio Tropical do Rio de Janeiro — importante emissora do gênero samba e pagode — onde se tornou participante assíduo de seus programas de auditório.
Em 1994, Xande fundou o Grupo Revelação, que ganhou destaque no cenário musical brasileiro. O grupo lançou nove álbuns e quatro DVDs, consolidando-se como um dos maiores nomes do pagode nacional.

Após mais de 20 anos de carreira com o Revelação, Xande enfim abraçou sua carreira solo em 2014, com o lançamento do álbum Perseverança.
Em 2017, Xande lançou seu segundo álbum solo, Esse Menino Sou Eu, que inclui faixas inéditas e regravações de clássicos do samba.
Em 2020, lançou o primeiro DVD de sua carreira solo, Nos Braços do Povo, gravado no Rio de Janeiro em novembro de 2019.

Já o setlist do show apresentado em Campo Grande (MS) teve origem em 2023, com o álbum Xande Canta Caetano, que traz releituras de canções do baiano Caetano Veloso.
Mesmo com sua vasta experiência e forte respeito na comunidade musical, Xande disse à reportagem que só foi possível pisar no palco com uma orquestra graças ao projeto Vivo Música. “A primeira vez foi em São Paulo, a segunda foi em Campinas, e hoje aqui. Eu acho muito bacana, porque quebra um preconceito que algumas pessoas têm, de que o sambista não pode cantar com o músico clássico”, avaliou.

A chuva que antecedeu seu show em Campo Grande, não impediu que dezenas de fãs comparecessem. Durante a performance, o sambista conseguiu arrancar lágrimas de fãs, como a cozinheira Albanisia Matos Santos, de 55 anos, que chorou, cantou e gritou durante a apresentação. Ela mencionou, em entrevista anterior, que o show “salvou sua vida de uma rotina intensa”.

À beira do palco, além dos adultos, haviam diversas crianças. Maria Júlia, de 9 anos, filha de Marli, disse à reportagem que conheceu a música de Xande por meio do YouTube. “Eu gosto muito das músicas dele, porque eu sinto felicidade. Às vezes, eu danço elas. As minhas amigas (risos), elas acham que eu sou diferente demais. Mas, mesmo assim, eu amo as músicas dele”, declarou a pequena, ao mesmo tempo em que cantava o refrão da música Tá Escrito.

Para Xande, unir samba e música clássica oportuniza que seus fãs consumam e se apaixonem também por um universo musical muitas vezes elitizado. “Música é música. Música cabe tudo. Então, o casamento dos gêneros tem uma importância muito grande. Quando a gente consegue conectar tudo isso aí, a gente só leva alegria — e recebe também de volta”, finalizou o artista.
O SHOW
O grande palco montado nos arredores da lagoa no Parque das Nações Indígenas contou com a abertura musical do grupo Sampri — trio de sambistas sul-mato-grossenses — formado pelas irmãs Magally (cavaquinho e vocal), Luciana (pandeiro e vocal) e Renatinha (violão e vocal). Elas cantaram músicas do ídolo Gilberto Gil, além de autorais como “Deixe a menina sambar”, “Menino travesso”, e grandes sucessos da música brasileira como “La belle d’jour” e “Só quero um xodó”.

Em seguida, o maestro Eduardo Martinelli subiu ao palco com a Orquestra Sinfônica, executando músicas clássicas e eruditas como “Dança Húngara”, de Brahms, “Marcha Turca” e “Aleluia”, de Mozart, além de árias como “O sole mio” e “La donna è mobile”, de Giuseppe Verdi. A orquestra, criada em 2007, já se apresentou em países como EUA, Portugal, Itália, Coreia do Sul, Argentina, Suíça, Canadá, Paraguai, Bolívia e Uruguai.

Na sequência, Xande subiu ao palco e interpretou “Clareou” e “O Show Tem Que Continuar”, acompanhado pela Orquestra Sinfônica de Campo Grande.

Logo após, cantou o repertório do disco Xande Canta Caetano, com “Qualquer Coisa”, “Queixa”, “Tigresa”, “Trilhos Urbanos”, entre outras canções do álbum vencedor do Grammy Latino.
Produzido por Pretinho da Serrinha, o trabalho recebeu o prêmio de Melhor Álbum de Samba/Pagode, além do Prêmio da Música Brasileira e o Prêmio Multishow. Já são mais de 40 milhões de reproduções nas plataformas digitais.
Xande também prestou homenagem ao que chamou de seu “professor”, o sambista Arlindo Cruz. Os sucessos “Salgueiro” e “Tá Escrito” encerraram a apresentação.
CONTAGEM DA PRODUÇÃO
O show do Vivo Música em Campo Grande, segundo a produção, reuniu cerca de 15 mil pessoas no Parque das Nações Indígenas. A reportagem não conseguiu comprovar a contagem.
VIVO MÚSICA
O projeto Vivo Música promove o acesso gratuito à cultura ao reunir artistas da música popular brasileira com orquestras sinfônicas em apresentações ao ar livre. Já passou por várias capitais e impactou milhões de pessoas.
Segundo a empresa, a iniciativa faz parte do compromisso da Vivo com a democratização da arte no país. “O Vivo Música é nosso projeto que reforça o apoio da marca à cultura em todo o Brasil, por meio de novas conexões artísticas, exaltando a pluralidade do país e seus artistas. De forma proprietária e autêntica, seguimos promovendo encontros nos palcos e com o público”, afirmou Marina Daineze, diretora de Marca e Comunicação da Vivo.
O show carrega o Selo Evento Neutro Verde, da consultoria Eccaplan, que certifica a compensação das emissões de carbono geradas pela montagem, desmontagem e realização do evento, incluindo deslocamento do staff, equipe técnica e resíduos produzidos.