Aconteceu na noite do domingo (15.set.23), das 17h às 22h, o '1º Saraguá – Noite de Teatro', realizado no Capivas Cervejaria, no Centro de Campo Grande (MS).
O evento, idealizado para reunir os fazedores de teatro da capital, lotou com a presença massiva da juventude.
Foram realizadas dezenas de apresentações com ênfase no gênero teatral. "Eu queria que isso aqui tivesse recheado de artistas do teatro, porque é um grupo de teatro que está fazendo acontecer e é a noite do teatro, então a gente priorizou as apresentações artísticas do teatro", introduziu uma das organizadoras do evento, atriz, publicitária e produtora Giovanna Zottino, que integra Cia. Teatral Ator Domingos Terras (Adote).
A jovem comentou que o Saraguá foi criado para tentar dirimir a desunião e o afastamento entre os fazedores do teatro. "Sabemos que a nossa classe é desunida, não é junta, não se vê, não se encontra, se conhece. Tem um monte de artistas que não conhecem outros artistas, mas a gente convidou", esclarceu Zottino.
Apesar de terem comparecido mais de 300 pessoas no evento, Giovana reconheceu que a grande maioria era jovem — os acima dos 40 anos eram poucos — assim como não havia representantes do Fórum Municipal de Cultura, Conselheiro de Teatro, representantes do Fórum Estadual de Cultura ou representantes do poder público. "A verdade é que eu convidei todo mundo: todos os diretores, atores que conheço, mas vi poucas carinhas aqui. E é triste porque a gente fez esse sarau para unir os artistas da arte teatral e outros gêneros. Era para a gente beber, para a gente se apresentar e se divertir enquanto vê o colega se apresentando. Para a gente curtir, por nunca temos um lugar de curtir e conversar com descontração, é sempre reuniões políticas, a intenção era essa. Então, é triste na verdade", anotou Zottino.
Para a organizadora, a ausência dos artistas de meia-idade que vivem do teatro é reflexo da não contemplação das apresentações mutuamente. "Porque você sabe que quando a gente se apresenta, vemos poucos do nossos. Eu, falando como Giovana, não como Adote ou Saraguá, mas sim eu, vou em todos os espetáculos de teatro dessa cidade, mas quando eu faço vejo dois, três, ou não vejo ninguém do teatro. Hoje veio aqui: Bete [Terras] — porque é a dona do Adote. E o Nil Amaral — a gente conversou, prestigiou, mas são poucos, né? Então a gente espera que nos próximos eles venham, para que a gente possa conversar, beber junto — eu sei que talvez é uma ideia utópica, mas é o que eu desejo de verdade".
A atriz e diretora da Cia. Teatral Ator Domingos Terras (Adote), Elisabeth Cristina Chiesi Terras, mais conhecida como Beth Terras, de 64 anos, dessa vez apenas observou como seria a organização do evento pelos membros jovens do seu grupo. "É muito forte ver crias tuas indo em frente, é muito bom, muito gratificante! Eu sempre primei pela minha humildade: 'ai, a Beth Terras tem um nome, maravilha, conquistei isso graças a Deus, mas isso não me faz melhor do que ninguém", considerou.
Para Terras, a falta de companheirismo é histórica entre os fazedores de teatro e alguns outros gêneros na capital do estado. "Tem gente que não prestigia, não dá à mínima para o colega que está ali batalhando. Não vão assistir as apresentações teatrais, mas cobram de serem vistos. Quando vocês virão ver o meu? É algo que fico pensando... Falta essa empatia teatral entre os grupos do teatro. Somos tantos e nós parecemos ser nenhum. Eu não gosto da Adote? Cara, é um direito de todo mundo — como eu não gosto de algumas coisas — mas ainda assim não as desprezo", apontou Terras.
Ver a casa lotada emocionou Beth Terras e ela considerou que esse pode ser o início de uma valorização entre os fazedores. "É a coisa mais gostosa de ver aqui, mais de 300 pessoas, você que eu tenho maior respeito como artista está aqui, prestigiando e apresentando seu trabalho. Então, por que todos os outros não vieram? Não é um grupo, é o artista. Vamos nos valorizar entre si, numa terra em que os artistas parecem não ter valor nenhum para o governo, devemos nos valorizar ao menos entre nós".
Na mesma linha, Zottino disse que a juventude do teatro está muito unida. “Porque quando eu me apresento, eu vejo muitos jovens lá. Eu acho que a gente vai dar uma nova cara para o teatro mesmo, sabe? De se assistir, de além de fazer também se conhecer, para criar essa plateia entre nós. Eu acho que a gente do teatro jovem é muito amigo, tenho amigos de verdade no teatro, e aí fico feliz! Ainda assim, a gente sente falta dos antigos, dos clássicos do teatro, sentimos falta deles. Mas eu acho que é uma mudança que vai vir, ela está vindo aos poucos. Você faz essa mudança, faz! Você esteve em quase todas as minhas apresentações e eu estive nas suas, então já somos a mudança”, concluiu Zottino.
CAPIVAS E ADOTE
Localizado na Rua Pedro Celestino, o Capivas Cervejaria inaugurou em 26 de agosto de 2022 e desde então se fortaleceu como um ponto de fortalecimento e parceiro da Cultura campo-grandense.
“Eu acho importantíssimo conseguirmos viabilizar eventos que promovam artistas locais e nossa proposta de casa e aberta para isso, a gente sempre recebe artistas aqui, incentivando vários tipos de arte, porque acreditamos que isso aproxima muito público da marca e a pessoa acaba gerando uma conexão com o estabelecimento”, explicou o sócio-proprietário do Capivas, Luis Sakate.
A escolha da parceria com Cia. Teatral Ator Domingos Terras, de acordo com Luiz, foi para dar maior viabilidade a própria história do grupo.
“Eu sou campo-grandense e eu não conhecia a Adote, mesmo com 20 e poucos anos de idade. Uma coisa que me chamou a atenção foi que é um negócio supergrande, mas para uma bolha específica. E aí propus para o pessoal fazer um negócio que estourasse um pouco a bolha e conseguisse comunicar com pessoas que fossem de fora do mundo do teatro. Foi isso que tentamos construir com eles, para alcançar pessoas de fora do teatro e um ambiente mais friendly, onde a troca acontece de forma mais natural. A gente acredita nisso como pilar do espaço e da nossa marca”, disse.
Conforme o empresário, o público total pagante da noite deve ter alcançado 5 centenas. “Hoje não tive números ainda, mas eu estimo que desde a 5h tivemos um público de 500 pessoas rotativas. Primeiro, há poucos teatros na cidade que tem essa lotação e segundo, é uma noite que recebi feedbacks diversos de clientes de coisas fantásticas que eles nunca tinham ouvido, ou visto e tal. Então, acho que tem o aspecto de entregar uma experiência inesquecível para as pessoas. Portanto, com certeza foi bem proveitosa essa parceria”, avaliou.
Luiz disse ainda que a Capital sul-mato-grossense tem demanda e consome a cultural alternativa e diversa. “Temos uma vez por mês ao menos um evento temático como esse sempre acabamos colocando 500, 600 pessoas de rotativas na casa. É muita gente que vem para consumir esse tipo de conteúdo que elas não encontram em muitos lugares, principalmente em bares. Então, a cidade tem uma demanda e consome cultura a noite, sim”, finalizou.