A sessão da Câmara Municipal de Campo Grande (MS), nesta 5ª feira (24.out.24), foi suspensa, pois a maioria dos 29 vereadores faltou. Isso ocorreu após a vereadora Luiza Ribeiro (PT) anunciar que iria “desmascarar” uma fake disparada pelo jornal Top Mídia News (Top Mídia Painéis Publicitários Ltda), de propriedade de Marcos César Américo dos Reis, que veiculou a seguinte manchete: “'MÁFIA DO LEITE': 'mães atípicas' vendem latas enquanto cobram doação da Prefeitura”.
O termo “Máfia do Leite” foi utilizado pela deputada federal de extrema direita, Carla Zambelli, em abril deste ano, para se referir à prisão de 4 pessoas acusadas de desviar leite do programa “Viva Leite”, do governo paulista. Os acusados agiam no ABC paulista e foi usado pela extremista de direita para criar correlação entre os presos e o eleitorado, a maioria petista, do ABC.
O contexto em que foi utilizado na Capital sul-mato-grossense é semelhante, para ferir os Direitos Humanos de mães atípicas e defender a prefeita que busca reeleição.
Em um vídeo publicado pela vereadora Luiz a Ribeiro, as mães relatam sofrimento e revolta com os ataques da campanha de Adriane Lopes e seu marido, deputado estadual Lídio Lopes. Veja:
PORQUE A SESSÃO FOI CANCELADA?
O atual presidente do executivo campo-grandense, vereador Carlão, que no primeiro turno apoiou o candidato do seu ninho, Beto Pereira (PSDB), agora anunciou que está apoiando a reeleição da prefeita, como mostram imagens nas suas redes (ao lado).
“Eu precisava de dez vereadores para abrir a sessão e só tem nove, então declaro a sessão encerrada”, disse o presidente, que, em seguida, fez a convocação para a próxima sessão prevista para terça-feira (29.out.24), dois dias após o segundo turno. Apesar disso, esse momento não foi transmitido no Canal do YouTube da Câmara, que teve mais de 15 minutos de espera para iniciar. Veja:
A reportagem questionou Carlão por mensagem a razão do cancelamento da sessão deste dia 24 de outubro, mas não recebemos posicionamento até a publicação deste conteúdo.
ACUSAÇÕES DO VEÍCULO DE COMUNICAÇÃO
Na matéria, o jornalista Vinícius Squinelo faz as seguintes onze acusações destacadas como mais acentuadas pelo TeatrineTV:
- “Protestos liderados por mães de crianças que precisam de medicamentos especiais revelam um lado sórdido, com pessoas se aproveitando do sofrimento alheio para obter benefícios políticos e financeiros”;
- “Apesar de criticar a Prefeitura por falta de produtos essenciais, algumas mães estão vendendo leites especiais como Pregomin em grupos de apoio”;
- “Lilidaiane Cruz Ricaldi, uma das líderes dos protestos, está oferecendo Pregomin Pepti em grupos de mães, com preços altos por latas com vencimento próximo”;
- “Thayna Lopes e Suelen Cristaldo também estão vendendo Pregomin a preços elevados, utilizando suas redes sociais para promover as vendas”;
- “Suelen foi flagrada negociando 10 latas de Pregomin por 700 reais, insistindo para que a pessoa ficasse com todas”;
- “O grupo de mães protestou mesmo após a Prefeitura ter distribuído dietas recentemente, evidenciando uma possível agenda política”;
- “Lilidaiane, conhecida como Daiane Ricaldi, atua como porta-voz dos protestos, enquanto trabalha para uma vereadora do PT”;
- “O deputado estadual Lídio Lopes denunciou que a manifestação das mães era de natureza política, envolvendo interesses pessoais e administrativos”;
- “Elizangela Silva Souza, presente em várias manifestações, critica a gestão da Prefeitura, sugerindo que seu objetivo é mais político do que ajudar as crianças”;
- “Algumas mães, como Gisele Mendoza Veiga, usam o movimento para promover candidatas políticas, misturando preocupações reais com oportunismo”;
- “Marciana, uma mãe que critica a administração atual, foi flagrada mentindo sobre a falta de suporte, já tendo recebido fraldas e dietas para sua filha”.
MATERIALIDADE
Para sustentar suas denúncias, o jornalista usou exclusivamente prints de um grupo de mensagens no WhatsApp, somados a prints das redes sociais de algumas das pessoas que acusa e depoimentos.
O conteúdo também não parece ter qualquer interesse pela imparcialidade. No texto, o jornalista utiliza adjetivos e, em determinado ponto, até ofende as pessoas que acusa com termos como “mentiu descaradamente”. Veja a íntegra da matéria do Top Mídia News (AQUI), em que o veículo acusa “mães atípicas de Campo Grande” de serem “mafiosas de leite”.
ATAQUE DO MARIDO DA PREFEITA
Na sessão ordinária de terça-feira (22.out.24), o deputado estadual Pedro Kemp (PT) levou o assunto para o plenário e o deputado Lídio Lopes (Patriota) atacou as mães atípicas levantando que a cobrança direta à prefeitura às vésperas do 2º turno das eleições municipais seria ação eleitoreira.
A fala de Lídio gerou revolta, tanto que no dia seguinte as mães compareceram à sessão para protestar. “Não somos marionetes”, “PCDs merecem respeito”, “Não use nossa causa” diziam os cartazes.
Na ocasião, a deputada Gleice Jane (PT), criticou a atitude de Lídio, explicando que “a dor dessas mães não é eleitoreira”. Ela reforçou que o problema se arrasta há pelo menos dois anos e cobrou explicações e esforços para que seja regularizado o fornecimento dos itens necessários à qualidade de vida e dignidade das crianças e suas mães.