O fotógrafo e produtor Kaique Andrade, de 25 anos, representou Mato Grosso do Sul no concurso Mister Trans Brasil que ocorreu na primeira semana de junho de 2024 em São Paulo.
A cerimônia de anúncio do grande campeão ocorreu em 3 de junho, no Centro Cultural da Diversidade em SP. Nesta edição, o grande vencedor da competição foi o cantor e compositor belo-horizontino Akin Zahin, de 23 anos.
O único representante do Centro-Oeste a performar no top 6 em busca do título e da premiação – uma mastectomia – Kaique celebrou: "Fique na 6ª posição, mesmo no estado que a gente vive eu fui e levante a minha bandeira de homem transmasculino”, introduziu.
Nascido em Barretos (SP), Kaique mora há 1 ano e 6 meses em Campo Grande (MS), onde trabalha na área do audiovisual e artes visuais. “A arte ela me resgatou, desde que me mudei para CG [Campo Grande], eu investi na minha carreira dentro do audiovisual e assim eu me reconectei comigo mesmo. Acredito que através do meu trabalho eu consigo tocar e sensibilizar outros corpos como o meu”, comentou.
Kaique explicou que percebeu ainda criança sua distinção em relação ao mundo ao redor e com o apoio da mãe a descoberta existencial foi natural. “Eu sempre me senti diferente das outras meninas, desde pequeno minha mãe sempre me deixou livre para ser quem eu quisesse ser, e eu sempre quis ser um menino, mas na época eu não entendia muito sobre mim, e aos meus 22 anos de idade me reconheci como um transmasculino, isso pra mim foi muito gratificante e libertador”, compartilhou.
E foi movido pelo sentimento de defesa da liberdade dos corpos que Kaique decidiu participar do concurso que é o maior do tipo e único do Brasil que tem como objetivo enaltecer as vivências transmasculinas do Brasil e do exterior. “O concurso trouxe diversos meninos de todos os estados, e até meninos de fora. O primeiro colocado ganhava uma mastectomia, cirurgia da remoção das mamas. O vencedor do concurso foi meu irmão de alma Akin Zarhin, representante de MG, homem trans preto, que se destacou por sua beleza e carisma”, detalhou Kaique.
Para Kaique, o cenário de existência política dos meninos transmasculinos em MS é bastante é muito diferente em relação aos avanços nos estados do Sudeste. “É gritante a diferença de afirmação de identidades e possibilidades de existências e trabalho, claro que sempre analiso os recortes de raça e contexto social, geográfico e econômico, para homens trans e transmasculinos/nes, no MS não temos referências, culturalmente estamos criando nossas referências agora e muita das vezes não são pessoas daqui que são referências, é muito diferente ser trans no Sudeste e ser trans aqui no Centro-Oeste, em específico no MS, as vivências são outras e a violência parecer muito mais articulada para que a gente não exista e resista aqui, me sinto um vencedor além de estar vivo no MS, crio possibilidades para os meus e as minhas”, declarou.
Mesmo não tendo conquistado o primeiro lugar nesta edição, Kaique avaliou que a experiência foi enriquecedora. “Foi muito especial estar ali com esses meninos, passamos 4 dias confinados no Novo hotel Jaraguara em SP, onde trocamos, e nos conhecemos, cada um de nós tem uma vivência e realidade diferente, mas ainda assim estamos conectados, foi muito bom ver que esse ano tinha mais transmasculinos pretos, pois em um concurso de beleza quase não se veem corpos como o meu, e ver que uma representatividade como Akin ganhou me deixa mais feliz, pois ele continuou o legado de Acan, vencedor do concurso em 2023, e com isso vejo que a cada dia mais estamos ocupando espaços que foram tirados de nós, estamos voltando a ocupar o que é nosso por direito, e isso me deixa feliz, eu não ganhei o concurso mas ganhei amigos pra vida e experiências que jamais vou me esquecer”, concluiu.